Cerca de 11% da população tem enxaqueca, que é mais prevalente em mulheres e causa dor intensa.
Enxaqueca é um distúrbio neurovascular crônico, incapacitante, caracterizado por ataques de cefaleia intensa, frequentemente unilateral e latejante. Em cerca de 15% dos casos, o quadro de dor é precedido por uma aura premonitória que envolve sintomas neurológicos.
Os ataques são geralmente associados a náuseas, vômitos, sensibilidade excessiva à luz, ao som ou ao movimento. Sem tratamento, as crises típicas duram de 4 a 72 horas.
Para fazer o diagnóstico de enxaqueca há necessidade de uma combinação de achados, como ilustra a tabela abaixo:
Critérios de diagnóstico
A enxaqueca é uma enfermidade caracterizada por episódios de cefaleia com 4 a 72 horas de duração e mais dois dos seguintes sintomas:
1) dor unilateral;
2) dor de intensidade média ou forte;
3) latejamento;
4) piora com a movimentação.
O princípio mais importante no tratamento da enxaqueca já instalada é que o medicamento seja administrado assim que a dor se manifesta. Aguardar até as dores ficarem mais fortes exigirá doses mais altas de drogas, e mais tempo para aliviar a dor.
E um dos seguintes sintomas:
1) náusea ou vômito;
2) fotofobia (sensibilidade à luz) ou fonofobia (desconforto provocado pelos sons).
Prevalência
Embora o primeiro ataque possa acontecer até na velhice, a enfermidade costuma surgir na adolescência. A prevalência de enxaqueca é alta na população geral (cerca de 11% das pessoas). Os estudos mostram que de 15% a 18% das mulheres e 6% dos homens apresentam sintomas característicos da doença.
A frequência média dos ataques é de 1,5 por mês, mas pelo menos 10% dos pacientes apresentam ataques semanais. A duração média de cada crise é de 24 horas, mas 20% delas podem durar dois ou três dias. Esses dados permitem estimar que 5% dos brasileiros (9 milhões de pessoas) passam 18 dias por ano, com crises de enxaqueca. Cerca de 1% da população (1,8 milhão) têm pelo menos uma crise por semana.
Em recente pesquisa, a Organização Mundial de Saúde considerou a enxaqueca como a quarta doença crônica mais incapacitante, sobrepujada apenas pela quadriplegia, psicose e demência.
Tratamento
O tratamento da enxaqueca envolve abordagens farmacológicas e não farmacológicas.
Procedimentos não farmacológicos incluem a educação dos pacientes sobre a doença e mudanças no estilo de vida para evitar os gatilhos que disparam as crises. O cérebro de quem sofre de enxaqueca parece suportar mal os altos e baixos da vida cotidiana. Medidas como o sono regular, exercício físico, evitar picos de estresse e retirar da dieta alimentos associados às crises devem ser adotadas em todos os casos.
O tratamento farmacológico pode ser usado para aliviar os sintomas da crise ou para evitar que elas se repitam. A maioria dos autores concorda que o tratamento preventivo deva ser instituído quando acontecem pelo menos dois ataques por mês, ou quando fica clara a tendência para aumento na freqüência das crises. As drogas utilizadas na prevenção costumam apresentar efeitos indesejáveis e devem ser prescritas por médicos experientes. Em média, dois terços dos pacientes que recebem tratamento preventivo apresentam redução de 50% no número de crises.
O princípio mais importante no tratamento da enxaqueca já instalada é que o medicamento seja administrado assim que a dor se manifesta. Aguardar até as dores ficarem mais fortes exigirá doses mais altas de drogas, e mais tempo para aliviar a dor.
As doses devem ser adequadas para proporcionar alívio. Por exemplo: 900 mg de aspirina,500 a 1000 mg de naproxeno, 1000 mg de acetaminofeno ou 400 a 800 mg de ibuprofeno, ou combinações desses medicamentos. A administração concomitante de metoclopramida diminui a motilidade gástrica e facilita a absorção da droga utilizada para combater a dor. O uso dessas drogas deve ficar restrito a dois ou três dias por semana, no máximo.
Drogas pertencentes ao grupo dos triptanos têm demonstrado em ensaios clínicos grande eficácia no tratamento das crises de enxaqueca. Os triptanos apresentam boa tolerabilidade, mas custam mais caro e podem causar dor no peito por constrição das artérias coronárias. Por isso, são contraindicados em pacientes que apresentam doença cardíaca isquêmica, hipertensão descontrolada e patologias cerebrovasculares.
Fonte: “The New England Journal of Medicine”, Vol. 346, Nº 4, 2002