Estudos revelam que pessoas que sofreram pancadas na cabeça podem apresentar declínio cognitivo e demências.
Pancadas na cabeça têm consequências imediatas e tardias. Esse foi um dos temas discutidos no congresso da American Neurological Association, de 2018.
Um grupo da Universidade Jonhs Hopkins acompanhou, durante 20 anos, mais de 13 mil pessoas de 45 a 65 anos, submetidas a testes cognitivos periódicos (nos períodos de 1990 a 1992, de 1996 a 1998 e de 2011 a 2013).
Entre os participantes, 24% sofreram pelo menos um trauma na cabeça, que resultou em concussão cerebral leve – com ou sem perda de consciência – moderada ou grave.
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Durante o acompanhamento, incidiram 1.295 casos de demência, 400 dos quais naqueles que bateram a cabeça.
Depois de ajustar os dados de acordo com sexo, raça, presença ou ausência de hipertensão arterial e acidentes vasculares cerebrais, os resultados revelaram que o declínio cognitivo foi mais significativo no grupo que sofreu o traumatismo.
Nele, o declínio cognitivo foi documentado cerca de quatro anos antes do que o das pessoas não acidentadas: média de 17 anos contra 21 anos, respectivamente.
Daqueles que levaram pancadas na cabeça, 25% sofreram mais de um traumatismo. A incidência do declínio cognitivo e de demência franca aumentou com o número de acidentes ocorridos.
Entrou na discussão um estudo já publicado no “The New England Journal of Medicine”, que analisou a magnitude do problema nos Estados Unidos. Os autores recolheram os dados do National Health and Nutrition Examination Survey, para avaliar a prevalência de acidentes com trauma na cabeça na população com 40 anos de idade ou mais, que se desloca de carro para trabalhar.
Está claro que o risco de demência aumenta 1,5 a 2 vezes, naqueles que sofreram traumatismos cranianos na juventude ou maturidade.
Cerca de 23 milhões de americanos nessas faixas etárias estiveram envolvidos em acidentes que resultaram em perda de consciência.
Os fatores de risco para esse tipo de ocorrência foram: fumo, más condições de saúde, distúrbios de sono, consumo de álcool, história de acidente vascular cerebral e sintomas de depressão.
Na avaliação desses números para o “Medscape”, o professor Ramon Diaz-Arrastia, da Universidade da Pensilvânia, afirmou: “Está claro que o risco de demência aumenta 1,5 a 2 vezes, naqueles que sofreram traumatismos cranianos na juventude ou maturidade. Como hoje os quadros de demência são frequentes, os números absolutos de casos são muito grandes”.
Não estão claros os mecanismos pelos quais se instala a demência associada a traumas cranianos. Estaria relacionada a processos inflamatórios, vasculares ou à simples antecipação de um quadro de Alzheimer que surgiria de qualquer maneira?
O cérebro contém uma rede de vasos sanguíneos e neurônios de altíssima complexidade. São veias e artérias que chegam à espessura de um fio de cabelo e trilhões de sinapses entre os neurônios, que se modificam com a experiência vivida dia após dia. Não foi por capricho que a seleção natural moldou uma caixa craniana sólida e resistente para protegê-lo.
Pancadas na cabeça, prezado leitor, melhor evitá-las. Olhe por onde anda, não lute boxe nem pratique essas lutas selvagens em que os contendores vão a nocaute com chutes na cabeça.