Tratamento com medicamentos antirretrovirais proporcionam a prevenção da transmissão do HIV para parceiros sexuais não infectados.
Alguns estudos levantaram a suspeita de que os medicamentos anti-HIV reduzem o risco de transmitir o vírus para parceiros sexuais.
O estudo multinacional HPTN 052 foi desenhado para avaliar o impacto dos antirretrovirais na transmissão do HIV.
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Nele, 1763 casais discordantes (um infectado, o outro não), matriculados em 13 centros de nove países, foram divididos em dois grupos.
1) Intervenção precoce (886 casais): grupo que recebeu antirretrovirais assim que o participante entrou no estudo;
2) Intervenção tardia (887 casais): quando eles foram prescritos somente depois de a contagem de células CD4, no sangue, cair abaixo de 250, ou ao surgirem as doenças típicas da aids.
As primeiras análises mostraram que, em relação ao grupo de intervenção tardia, o tratamento precoce reduziu em 96% o risco de transmitir o HIV para o/a parceiro/a sexual.
Com base nesse achado, em maio/2011, os organizadores decidiram prescrever os medicamentos para todos os participantes que ainda não os recebiam.
A atualização dos dados do HPTN 052 acaba de ser publicada no “The New England Journal of Medicine”. Até agora estão documentadas 78 novas infecções pelo vírus, número ao qual corresponde uma incidência de 0,9%.
Foram 19 transmissões no grupo de intervenção precoce contra 59 no de intervenção tardia.
Em 1995, quando surgiram os primeiros antirretrovirais de alta eficácia, a prevalência do HIV no Brasil era semelhante à da África do Sul. Nós adotamos a política de distribuição gratuita de medicamentos, eles não. Hoje 10% dos sul-africanos adultos são HIV-positivos, contra 780 mil brasileiros.
Os pesquisadores conseguiram analisar os genes dos vírus em 72 dos 78 casais infectados. A comparação deixou claro que, em 26 casos, o vírus apresentava padrão genético não compatível com o do/a parceiro/a participante do estudo. Em outras palavras, cerca de 30% tinham contraído o HIV em relações extraconjugais.
Entre os 46 infectados em que houve compatibilidade genética, três pertenciam ao grupo de tratamento precoce e 43, ao tardio.
No final, os dados atualizados revelaram que a intervenção precoce reduziu 93% do risco, quando comparada à tardia.
No decorrer do acompanhamento, aconteceram oito transmissões, quando o parceiro infectado ainda não tinha completado três meses de tratamento, fase em que a carga viral não estava indetectável.
Como seria de esperar, participantes que apresentavam cargas virais elevadas, no início do seguimento, transmitiram o HIV com mais facilidade.
Os resultados finais do HTPN 052 confirmam definitivamente que a medicação antirretroviral é capaz de reduzir a transmissão do HIV tanto em casais heterossexuais, quanto em homossexuais.
Em 2015, a Organização Mundial da Saúde revisou as recomendações anteriores para incluir o teste universal anti-HIV e instituir o tratamento antirretroviral imediato em todas as mulheres e homens HIV-positivos, independentemente da contagem de células CD4.
Em 1995, quando surgiram os primeiros antirretrovirais de alta eficácia, a prevalência do HIV no Brasil era semelhante à da África do Sul. Nós adotamos a política de distribuição gratuita de medicamentos, eles não. Hoje 10% dos sul-africanos adultos são HIV-positivos, contra 780 mil brasileiros.
Se estivéssemos na situação deles, teríamos 17 a 18 milhões de infectados.