Germes e asma | Artigo

A asma resulta da interação entre a herança genética e a exposição continuada a fatores ambientais capazes de disparar as crises (gatilhos).

Menino soprando em aparelho de espirometria com médica ao lado.

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Publicado em: 18 de abril de 2011

Revisado em: 11 de agosto de 2020

“Hipótese higiênica” propõe que germes e asma estão relacionados na medida em que a falta de exposição a micro-organismos aumenta o risco da doença.

 

Asma é uma doença que afeta principalmente crianças e adolescentes, mas aflige todos os que os cercam.

De forma simplificada, podemos dizer que se trata de uma enfermidade inflamatória crônica, causada pela resposta exagerada das vias aéreas inferiores a agentes irritantes.

 

Veja também: Entrevista com especialista sobre asma

 

Toda vez que um agente irritante chega aos pequenos brônquios, a musculatura lisa que os envolve se contrai (broncoconstricção), para bloquear a passagem. Ao mesmo tempo, células de defesa migram para o local com a finalidade de neutralizar a agressão.

Na asma, a resposta contra o invasor é exagerada: células inflamatórias, mediadores químicos e anticorpos liberados localmente agridem o revestimento interno dos bronquíolos, alteram a função dos cílios que os revestem, aumentam a produção de muco e a reatividade dos músculos responsáveis pela contração brônquica.

Desse conjunto de reações resulta broncoconstricção, dificuldade de entrada e de saída do ar, chiado no peito, sensação de respiração “pesada” e tosse para eliminar o muco produzido em excesso.

A genética tem papel importante na instalação da doença: quando um dos pais sofre de asma ou de outros processos alérgicos, a probabilidade de o filho desenvolvê-la aumenta. Se pai e mãe apresentarem essas condições, o risco aumenta ainda mais.

Já foram identificados alguns genes envolvidos no processo, mas isso não quer dizer que seus portadores estarão fadados a desenvolvê-lo: a asma resulta da interação entre a herança genética e a exposição continuada a fatores ambientais capazes de disparar as crises (gatilhos).

 

Veja também: Entrevista do nadador Cesar Cielo, portador de asma, ao dr. Drauzio

 

Embora a fisiologia pulmonar e os mecanismos imunológicos responsáveis pelas crises sejam razoavelmente conhecidos, a doença ainda é cercada de alguns mistérios epidemiológicos:

1. A incidência aumenta à medida que as sociedades se tornam mais desenvolvidas;

2. Filhos únicos correm mais risco do que os nascidos com vários irmãos;

3. Crianças que começaram a frequentar creches ou escolas mais precocemente têm menos asma;

4. Crianças criadas nas cidades têm mais asma do que as do campo;

5. Crianças de oito anos nascidas em partos cesarianos apresentam duas vezes mais asma do que aquelas vindas ao mundo por via vaginal;

6. Quanto mais antibióticos recebe a criança, maior a incidência.

Para explicar esses dados epidemiológicos foi lançada a “hipótese higiênica”, baseada na ideia de que as condições relativamente livres de germes da vida moderna romperiam a integridade do sistema imunológico.

Milhares de espécies de bactérias, fungos e vírus colonizam o interior de nosso organismo. Em número absoluto, há mais bactérias no intestino humano do que o total de células do corpo inteiro. Esse conjunto de microorganismos constitui o que chamamos hoje de microbioma.

No caso da asma, o que interessa não é a presença ou ausência de determinadas bactérias, mas as características da comunidade inteira. Crianças que desenvolvem asma são portadoras de microbiomas com menos biodiversidade do que o das saudáveis.

Hans Bisgaard, da Universidade de Copenhagen, estudou 400 grávidas asmáticas. Material colhido da garganta dos bebês na quarta semana de vida mostrou que 20% apresentavam bactérias patogênicas nesse local, mesmo sem estar doentes. Cinco anos mais tarde, 33% dos que eram portadores desses germes patogênicos haviam desenvolvido asma, contra apenas 10% dos demais.

Num estudo ainda em andamento na Universidade da Califórnia, duzentos bebês com pelo menos um dos pais com asma foram divididos em dois grupos: um deles recebeu um lactobacilo presente no iogurte, enquanto o outro recebeu placebo. Resultados ainda preliminares mostram que seis meses de iogurte na dieta alteram a composição do microbioma intestinal das crianças.

O que não sabemos é por que crianças expostas aos mesmos fatores de risco respondem de forma tão diferente. Muitos filhos únicos, nascidos de cesariana, criados na cidade em ótimas condições de higiene, tratados inadequadamente com diversos antibióticos não desenvolvem asma.

É provável que alguns bebês tenham órgãos mais suscetíveis à colonização por determinados germes ou tendência maior para desenvolver asma, quando esse tipo de colonização ocorre.

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