A pressão dos mais velhos | Artigo

Paciente medindo a pressão. Pressão arterial em idosos ainda é tema controverso

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Publicado em: 9 de agosto de 2018

Revisado em: 11 de agosto de 2020

Compreensão dos níveis aceitáveis da pressão arterial em idosos ainda é discutida em pesquisas científicas.

 

No passado, éramos condescendentes com a hipertensão arterial dos mais velhos.

Na faculdade, aprendíamos que a pressão de 12 x 8 cm, considerada normal, deveria ser mantida até os 40 anos. Daí em diante, eram aceitos aumentos de 1 cm para cada década de vida.

 

Veja também: Como medir a pressão arterial corretamente?

 

Assim, entre 40 e 50 anos, os limites da normalidade se estendiam para 13 x 9 cm. Dos 50 aos 60 anos, até 14 x 10 cm; dos 60 aos 70 anos até 15 x 11 cm; e dos 70 aos 80 anos, até 16 x 12 cm. Acima dos 80 anos, não havia regras nem pessoas que vivessem tanto.

Estudos posteriores comprovaram que limites tão frouxos tinham consequências. Mesmo nos mais velhos, níveis pressóricos acima de 12 x 8 cm estavam associados a aumentos da incidência de infartos do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais, insuficiência renal crônica e insuficiência cardíaca, entre outras complicações.

Publicações mais recentes sugerem que níveis de 11 x 7 cm são mais seguros do que os tradicionais 12 x 8 cm. Ficou estabelecida, então, a regra de que quanto mais baixa a pressão melhor, em qualquer faixa etária.

Portanto, reduzir a pressão sistólica com tratamentos agressivos nos mais velhos e mais frágeis pode ter repercussão negativa na mortalidade geral e na progressão do declínio cognitivo.

Acaba de ser publicado um estudo realizado na cidade de Leiden, na Holanda, que questiona esse rigor no caso das pessoas mais velhas e mais frágeis.

Os autores levantaram os níveis de pressão sistólica (máxima), as taxas de mortalidade e de declínio cognitivo em 570 mulheres e homens com mais de 85 anos, dos quais 44% recebiam tratamento medicamentoso anti-hipertensivo. Vários participantes estavam internados em casas de repouso, apresentavam déficit cognitivo e tomavam diversos medicamentos para outros agravos de saúde.

Os níveis de pressão sistólica foram relacionados com a mortalidade geral por qualquer causa e com as funções cognitivas avaliadas por meio da aplicação de um teste, o Mini-Mental State Examination. Para estimar o estado de fragilidade física foi realizado o teste de “força de apreensão”, no qual o participante comprime um pequeno dispositivo manual dotado de mola e uma escala que mede a força da mão empregada no aperto.

Os autores excluíram os casos de morte no primeiro ano de seguimento, bem como os que já sofriam de doenças cardiovasculares.

Os dados revelaram mortalidade mais alta no grupo dos que tomavam medicamentos anti-hipertensivos e apresentavam pressão sistólica mais baixa. Para cada redução de 1 cm na pressão sistólica, o risco aumentou 29%.

Da mesma forma, esse grupo experimentou declínio mais rápido das funções cognitivas. A fraqueza muscular medida pelo teste de “força de apreensão” também esteve relacionada com o declínio cognitivo mais acelerado.

Entre os participantes que não receberam tratamento anti-hipertensivo, não houve associação direta com o aumento da mortalidade nem com o declínio cognitivo.

Portanto, reduzir a pressão sistólica com tratamentos agressivos nos mais velhos e mais frágeis pode ter repercussão negativa na mortalidade geral e na progressão do declínio cognitivo.

É preciso levar em conta o estado de saúde e a cognição na indicação de hipotensores para os que passaram dos 85 anos.

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