A batalha contra o vírus H1N1 | Artigo

Cientista trabalhando em laboratório com pipeta e frascos.

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Publicado em: 15 de abril de 2011

Revisado em: 11 de agosto de 2020

A melhor arma na batalha contra o vírus H1N1 é investir na ciência e facilitar a divulgação para todos de seu método e seus achados.

 

Como um vírus de transmissão eficiente, a velocidade com que a informação do H1N1 se dissemina é impressionante. E o mais impressionante é a rapidez com que autoridades de saúde nos Estados Unidos descreveram esse novo vírus A, que muito provavelmente surgiu no México.

Tudo começou com a identificação de dois casos de gripe em San Diego, cidade próxima à fronteira com o México, cujos vírus influenza tinham características diferentes. O processo levou apenas 15 dias para ser concluído. Em 15 e abril de 2009, já era conhecida a sequência genética de porções do novo vírus. Dois dias após, a Organização Mundial da Saúde foi notificada e divulgou medidas de prevenção em escala mundial.

Veja também: As origens da gripe suína

Como a reação foi tão rápida nos Estados Unidos? Por que o novo vírus não foi detectado no México, onde provavelmente surgiu e vinha circulando há semanas e causando mortes? A resposta está no forte investimento americano em ciência. Os dois casos iniciais identificados em San Diego haviam sido incluídos em duas pesquisas diferentes: a primeira, para estudar causas de doenças respiratórias e a segunda, para a vigilância de circulação do vírus influenza.

No México, a situação é diferente. Seu sistema de vigilância é deficitário e não foi capaz de identificar o que vinha ocorrendo. Trabalho publicado recentemente na prestigiada revista “Science” estima que tenham ocorrido de 6 mil a 32 mil casos da gripe A (H1N1) naquele país, talvez durante os meses frios da estação que passou. Na última década, o número de casos de mortes associadas à gripe comum, no México, vinha declinando e chegou a números irrisórios notificados à Organização Panamericana de Saúde. Eles estavam longe de refletir a realidade local daquele país. Já o Brasil encara o problema da gripe com mais cuidado. Estimula as campanhas de vacinação e a identificação e notificação de casos de forma mais eficiente.

Dessa experiência, fica a lição de que investir mais em sistemas de vigilância é uma forma bastante eficaz de proteger a saúde da população.

Gripe mata. Há décadas sabemos isso. Todos os anos, várias pessoas têm quadros graves, em consequência direta da infecção pelo influenza ou porque apresentam complicações, incluindo pneumonia e infecção generalizada (sepse). O fato de a maioria desses pacientes já ser portador de algum problema de saúde pré-existente não exclui a necessidade que temos de nos preparar para enfrentar esses casos graves de gripe que ocorrem todos os anos e de tentar evitar, ao máximo, as mortes associadas. E é, por isso, que a epidemia atual se coloca como uma oportunidade única a fim de fortalecer a rede de diagnóstico e o tratamento precoce dos casos.

Está na hora de disseminar o conhecimento sobre a gripe, de aprender com a história de sucesso no reconhecimento dos casos nos Estados Unidos, de fundamentar a importância no investimento em conhecimento científico, desde a pesquisa básica até a saúde pública, e entender, com mais esse extraordinário exemplo, os processos de embate permanente entre o homem e os micro-organismos (excepcional o livro de Stefan Ujvari “A história da humanidade contada pelos vírus”). A melhor arma para proteger a humanidade contra as epidemias é investir na ciência e facilitar a divulgação para todos de seu método e seus achados.

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