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Hipertensão

Mudanças nos critérios para diagnosticar pressão elevada

close em médico medindo a pressão arterial de homem. Veja novos critérios para medir a pressão elevada
Publicado em 07/11/2024
Revisado em 07/11/2024

Pressão 12 por 8 é hipertensão? Não é bem assim. Veja as novas diretrizes europeias para diagnosticar a pressão elevada na coluna de Mariana Varella.

 

No início de setembro, especialistas da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC, da sigla em inglês) lançaram, no Congresso Europeu de Cardiologia, em Londres, novas diretrizes para hipertensão arterial.

Apesar de as recomendações trazerem algumas mudanças no tratamento da doença, o que chamou a atenção das pessoas foram as alterações nos números da pressão arterial antes considerados normais.

Veja também: Hipertensão em 7 perguntas

Os valores 120 por 80 mmHg e 129 por 84, também conhecidos como 12 por 8 e anteriormente tidos como normais, passaram a ser considerados elevados.

Isso não significa, entretanto, que uma pessoa que apresente valores iguais a 12 por 8 seja hipertensa, mas que ela tem um risco maior de desenvolver hipertensão no futuro

“O diagnóstico de hipertensão sistêmica propriamente dito não mudou, são [consideradas altas as] pressões maiores ou iguais a 140 por 90”, explica o dr. Marcelo Martins, cardiologista pelo Instituto do Coração (Incor).

 

Novos critérios para detectar pressão elevada

Segundo o médico, a grande mudança na prática médica foi a recomendação com relação à classificação da hipertensão. Antes os médicos utilizavam um sistema de classificação em graus de hipertensão: hipertensão grau 1 (140 por 90 e/ou 159 por 99), grau 2 (160 por 100 e/ou 179 por 109) e grau 3 (180 e/ou ≥ 110).

 No documento divulgado pela ESC, os especialistas propuseram outro sistema de classificação de pressão arterial:

  • Pressão arterial não elevada: abaixo de 120 por 70 mmHg — conhecido popularmente como “12 por 7”.
  • Pressão arterial elevada: entre 120 por 70 mmHg e 139 por 89 mmHg (de 12 por 7 a  quase 14 por 9).
  • Hipertensão arterial: maior que 140 por 90 mmHg (acima de 14 por 9).

 

“A grande diferença é que a pressão agora é chamada de pressão arterial não elevada quando ela é menor que 120 por 70”, explica o dr. Martins.

Na prática, as novas diretrizes não propõem mudanças no critério de diagnóstico da hipertensão, já que anteriormente eram consideradas hipertensas as pessoas com pressão superior a 140 por 90 mmHg e isso não mudou.

O que ocorre é que médicos e pacientes devem atentar para o fato de que indivíduos com pressão arterial entre 120 por 70 mmHg e 139 por 89 mmHg têm um risco maior de desenvolver hipertensão em médio e longo prazo.

Se outrora essas pessoas saiam do consultório médico com a impressão de que sua pressão arterial estava normal, hoje elas devem ser orientadas a adotar mudanças no estilo de vida, como perder peso e praticar exercícios físicos, por exemplo.

“Se a pessoa tiver a pressão 120 por 80, o chamado 12 por 8, ela precisa começar a tomar remédio? Não, não precisa. Sua pressão vai ser chamada de pressão arterial elevada e isso tem como finalidade principal alertar no sentido de que ela tem uma tendência muito maior  a longo prazo de se tornar hipertensa”, finaliza o cardiologista.

Prestar a atenção nos níveis de pressão arterial é importante porque, no geral, a mudança na pressão é gradual, portanto é possível intervir antes de o paciente apresentar níveis de pressão muito elevados.

 

Hipertensão no Brasil

O Brasil costuma estar em consonância com as diretrizes europeias, assim os médicos brasileiros devem passar a adotar as novas recomendações.

Em abril, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) já havia lançado novas orientações para o diagnóstico definitivo da hipertensão. No documento, a SBC pede que profissionais de saúde não considerem apenas os resultados obtidos nas medidas realizadas em consultórios ou serviços de saúde para diagnosticar a doença.

Os especialistas reforçam a importância de os profissionais de saúde levarem em conta a hipertensão do avental branco (HAB), definida como valores elevados de pressão arterial durante consultas médicas, mas normais fora do consultório. É comum que pacientes apresentem um aumento nos níveis da pressão arterial por causa da tensão que a presença do médico e o ambiente podem causar, por isso muitos recomendam a aferição em casa antes de confirmar o diagnóstico de hipertensão.

Além disso, a SBC também pretende aumentar o diagnóstico daqueles com hipertensão mascarada, ou seja, pessoas que tenham a doença,  embora não apresentem níveis elevados de pressão arterial durante a consulta médica ou ambulatorial.

Com as novas diretrizes, a SBC visa conscientizar os profissionais de saúde, que devem continuar aferindo a pressão dos pacientes, a recomendar mais medições (de duas a três seguidas, com intervalos de um minuto entre elas) e em horários distintos, como de manhã e à noite, pois a pressão arterial pode variar durante o dia.

 

Pressão alta é doença traiçoeira

Ao contrário do que muita gente pensa, a hipertensão não causa sintomas na maioria dos casos. Assim, muita gente tem a doença e não sabe.

A pressão alta é bastante prevalente no mundo todo, e atinge cerca de 30% da população do país, de acordo com a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde.

Ela está relacionada a problemas graves de saúde, como doenças cardiovasculares cerebrais e cardíacas (AVC, infarto, etc.), complicações oculares e renais e impotência sexual.

Portanto, acompanhar os níveis de pressão arterial e outros indicadores de saúde, como peso corporal, tabagismo, sedentarismo entre outros é essencial para evitar doenças que todos os anos matam milhares de brasileiros.

 

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