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Dermatologia

Tratamento integral para dermatite atópica chega ao SUS

Publicado em 17/07/2025
Revisado em 15/07/2025

Pacientes com quadros leves a graves de dermatite atópica passam a ter acesso a terapias mais eficazes, com menos efeitos colaterais e custo zero pelo SUS.

O Sistema Único de Saúde (SUS) incorporou, pela primeira vez, um conjunto de medicamentos que permitem o tratamento integral da dermatite atópica, condição crônica e inflamatória da pele que atinge especialmente crianças e adolescentes, mas que também pode persistir ou surgir na vida adulta. 

Entre 2024 e 2025, mais de 1 mil atendimentos hospitalares e mais de 500 mil ambulatoriais relacionados à dermatite atópica foram prestados na rede pública de saúde em todo o Brasil. Agora, pacientes diagnosticados com a doença terão acesso gratuito a duas novas pomadas, o tacrolimo e o furoato de mometasona, e ao medicamento oral metotrexato, todos recentemente incluídos no protocolo oficial do Ministério da Saúde.

Essa incorporação representa uma mudança significativa na condução da doença no Brasil, especialmente pelo SUS, que antes disponibilizava apenas pomadas de potência leve e, em alguns casos mais graves, ciclosporina via oral — um medicamento imunossupressor usado para controlar doenças autoimunes e inflamatórias, agindo ao reduzir a resposta do sistema imunológico. 

A avaliação do governo é que o novo protocolo permite um cuidado mais individualizado, completo e eficaz. “A principal mudança é que o SUS passa a oferecer um cuidado mais completo e personalizado para quem vive com dermatite atópica, especialmente crianças, adolescentes e adultos com quadros mais resistentes ou graves da doença”, afirma Fernanda De Negri, secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (SECTICS/MS).

        Veja também: Dermatite atópica: o que é e como tratar?

Efeitos da dermatite atópica

A dermatite atópica vai muito além da pele. As lesões visíveis, a coceira intensa, a dor e a insônia afetam não apenas o corpo, mas também a autoestima e o bem-estar emocional de quem convive com a condição. Em crianças e adolescentes, por exemplo, é comum o afastamento escolar e situações de preconceito. Por isso, ampliar o acesso a medicamentos modernos e mais eficazes representa, na avaliação do Ministério da Saúde, um passo importante para democratizar o cuidado e reduzir desigualdades.

“Essa ampliação garante o acesso a medicamentos mais eficazes, com menos efeitos colaterais e que antes estavam disponíveis apenas por meio de compra particular, o que dificultava o acesso para muitas famílias”, pontua Fernanda. Segundo ela, o objetivo do novo protocolo é contemplar todas as fases da doença, dos casos leves aos graves, com um leque terapêutico mais eficiente, seguro e equitativo.

Quem pode acessar e como funciona o processo?

O novo protocolo beneficia todas as pessoas com diagnóstico de dermatite atópica que se enquadrem nos critérios clínicos estabelecidos nas Diretrizes Terapêuticas atualizadas. O processo de acesso começa nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), onde o paciente é avaliado por um profissional de saúde. Caso haja necessidade, ele será encaminhado para um especialista (geralmente um dermatologista) que poderá prescrever os medicamentos disponíveis conforme o novo protocolo.

        Veja também: Dermatite atópica em 7 perguntas | Samuel Mandelbaum

Como atuam os novos medicamentos

Cada uma das novas medicações incorporadas cumpre um papel diferente no controle da dermatite atópica, sendo indicadas conforme o quadro clínico do paciente. 

Nádia Aires, dermatologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, explica que o furoato de mometasona é um corticosteroide tópico de potência média e costuma ser a primeira linha de tratamento em adultos e crianças nas crises agudas. “O efeito dessas medicações é uma rápida ação anti-inflamatória, com controle da coceira. No entanto, deve ser usado por tempo limitado, com monitoramento, devido aos possíveis efeitos colaterais, como a atrofia cutânea e a supressão adrenal.” A atrofia cutânea é o afinamento da pele, que a deixa mais frágil e suscetível a lesões, enquanto a supressão adrenal ocorre quando o uso prolongado de corticoides faz com que o corpo reduza ou pare a produção natural de hormônios pelas glândulas adrenais.

Beni Grinblat, dermatologista do Hospital Israelita Albert Einstein, também em São Paulo, reforça o papel do tacrolimo: “Ele tem os mesmos efeitos de um corticoide sem ser um corticoide. Também tem um efeito anti-inflamatório, também é de uso tópico, mas não teria os efeitos colaterais dos corticoides a longo prazo.” Esse medicamento é considerado uma segunda linha de tratamento, usado principalmente em crianças a partir de 2 anos e adultos, e sua grande vantagem é que pode ser aplicado em áreas sensíveis por períodos prolongados, sem causar atrofia da pele. A desvantagem é que pode causar queimação nos primeiros dias de uso.

A combinação entre essas duas pomadas é usada em uma estratégia chamada tratamento proativo, que reduz o número de crises e melhora significativamente a qualidade de vida.

Por fim, o metotrexato oral, que antes estava restrito ao setor privado, passa a ser ofertado pelo SUS como alternativa segura e eficaz para casos mais graves. “Como a dermatite atópica é uma doença imunomediada, ou seja, tem um fundo imunológico, o metotrexato funciona como um imunossupressor, então ele pode ser usado para casos graves de dermatite atópica”, acrescenta o dr. Beni.

Essa medicação exige acompanhamento rigoroso, o que também está previsto no protocolo. “O uso do metotrexato exige acompanhamento regular e rigoroso com equipe médica. Esse monitoramento inclui avaliações clínicas frequentes, exames laboratoriais periódicos para controle de possíveis efeitos colaterais e adaptação da dose conforme a resposta do paciente e tolerância ao medicamento”, reforça Fernanda. 

Além das medicações: cuidados diários são essenciais

Apesar do avanço que os novos medicamentos representam, os especialistas reforçam que o tratamento da dermatite atópica vai além do uso de pomadas e comprimidos. “Todos os casos de dermatite atópica, independentemente da idade ou gravidade, devem ser orientados ao tratamento não medicamentoso”, explica a dra. Nádia. Ela destaca cuidados essenciais como hidratação intensiva com emolientes sem perfume, banhos rápidos com água morna e limpeza suave da pele.

A médica também reforça a importância da educação do paciente e dos cuidadores para que os cuidados sejam mantidos mesmo fora dos períodos de crise. A adesão contínua a esses hábitos é fundamental para evitar agravamentos e garantir maior conforto no dia a dia.

        Veja também: Tratamento da dermatite atópica exige cuidados cotidianos

Mais qualidade de vida, mais dignidade

Com a redução das crises e o controle mais efetivo das lesões, os impactos positivos na vida das pessoas são múltiplos: melhoria no sono, mais segurança nas relações sociais e no ambiente escolar, maior produtividade e menos sofrimento emocional. 

“Pacientes terão acesso a tratamentos mais adequados à sua condição, com maior eficácia e menor risco de efeitos adversos”, diz Fernanda. Para ela, a medida não representa apenas um avanço médico, mas também um compromisso social. “O SUS passa a atuar de forma mais equitativa, reduzindo a desigualdades no acesso ao cuidado dermatológico. Esse é um avanço importante em termos de saúde pública, principalmente porque democratiza o acesso a tratamentos antes limitados ao setor privado.”

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