O que pode causar o chulé e quais as formas de tratamento

A bromidrose plantar, conhecida como chulé, é causada por bactérias que se alimentam do suor, da queratina e das células mortas dos pés.


Equipe do Portal Drauzio Varella postou em Dermatologia

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Publicado em: 23 de outubro de 2023

Revisado em: 23 de outubro de 2023

A bromidrose plantar, conhecida como chulé, é causada por bactérias que se alimentam do suor, da queratina e das células mortas dos pés.

 

O chulé é aquele odor desagradável, parecido com o cheiro de queijo azedo, que pode surgir nos pés, especialmente em períodos de calor. Afeta todo mundo, mas tem maior prevalência em homens mais jovens por conta de questões hormonais e da produção excessiva de suor.

A condição, cientificamente chamada de bromidrose plantar, é causada por bactérias que habitam o pé e se nutrem do produto da transpiração, da queratina (proteína) e de células mortas, liberando compostos que têm mau odor durante o processo metabólico.

“O excesso de sudorese gera maceração da pele e cria um ambiente favorável para a proliferação exagerada de bactérias e a consequente degradação da queratina da pele, causando mau cheiro”, explica a dermatologista dra. Eleolina Kaled, de Curitiba (PR).

 

Causas da bromidrose plantar

Para entender bem as causas do chulé, vale uma explicação sobre transpiração e bactérias.

O ser humano transpira por meio de glândulas sudoríparas presentes em diversas partes do corpo, inclusive nos pés. Esse suor, cuja principal função é manter a temperatura do organismo, é composto por 99% de água e 1% de sais minerais, como cloreto de sódio (sal) e ureia, e não tem cheiro.

Ao mesmo tempo, há uma colonização de bactérias vivendo em nossa pele – Cutibacterium, Corynebacterium, Micrococcus, Staphylococcus e Brevibacterium são o gênero de algumas delas – que se nutrem das substâncias presentes no suor, além da queratina e das células mortas, liberando o cheiro desagradável.

Os compostos mais comuns que surgem após esse processo metabólico são o ácido isovalérico, que lembra o cheiro de queijo, e o ácido propiônico, cujo odor é azedo, segundo estudos.

Além disso, algumas pessoas suam mais do que outras – seja por condições emocionais, genéticas ou hereditárias -, o que é um prato cheio para as bactérias, que adoram ambientes úmidos para se proliferar.

O outro ponto é que o suor misturado ao odor desagradável liberado pelas bactérias precisaria ser evaporado. No entanto, ele encontra dois obstáculos: as meias e os sapatos que impedem o processo, tornando o cheiro pior.

A suspeita é que o chulé tenha surgido há pelo menos 30 mil anos. Foi mais ou menos nessa época que os seres humanos começaram a usar calçados, segundo análises de esqueletos citados em estudos. Os cientistas calcularam essa data usando as diferenças no andar, na musculatura e no tamanho dos dedos dos pés entre os indivíduos que utilizam calçados regularmente e os nossos antepassados que andavam descalços.

        Veja também: Odor corporal (bromidrose)

 

Chulé é mais comum em homens jovens

A bromidrose plantar é mais comum em homens jovens do que em mulheres por causa das diferenças hormonais. A testosterona faz as glândulas sudoríparas dos rapazes “trabalharem” mais do que a das moças, gerando mais suor.

Quem sofreu com a condição na juventude foi o naturalista britânico Charles Darwin, conhecido por ter descoberto um dos mecanismos por trás da evolução das espécies. Quando tinha 12 anos, ele disse em uma carta a um amigo que só lavava os pés uma vez por mês na escola, “o que confesso ser nojento”, escreveu.

“Pacientes com obesidade, diabetes, fumantes ou com doenças de pele ou unha também apresentam mais chulé que o resto da população devido ao aumento da sudorese ou da proliferação bacteriana”, diz a dra Eloina.

Alguns alimentos, como alho, cebola, álcool, molho curry e pimenta, bem como medicamentos – a exemplo do antibiótico penicilina –, também podem mudar a composição do suor, favorecendo o surgimento do odor, explicou a especialista.

 

Tratamentos para o chulé

Como o chulé está associado à decomposição bacteriana do suor, da queratina e das células mortas, o tratamento consiste principalmente em reduzir a proliferação dos microrganismos e diminuir a quantidade de suor das áreas afetadas.

As dicas da especialista e de entidades da área de dermatologia são:

  • Lavar o pé diariamente com sabonete. Após a lavagem, secar bem o membro inferior, principalmente entre os dedos;
  • Usar meias de algodão ou de materiais que absorvam a umidade da pele. No caso dos sapatos, evitar usar o mesmo calçado por vários dias seguidos;
  • Utilizar esfoliantes para remover o excesso de pele dos pés.

Se mesmo após a higiene o cheiro ruim persistir, a sugestão é recorrer a produtos ou medicamentos. Os tratamentos com remédios devem ser recomendados por um médico especialista. As dicas são:

  • Aplicar antitranspirantes de uso tópico que reduzem a sudorese ao criar um tampão temporário do ducto da glândula;
  • Combater as bactérias da pele por meio da aplicação dos antibióticos eritromicina ou clindamicina;
  • Os casos resistentes a medidas locais também podem se beneficiar da aplicação da toxina botulínica (botox), indica a dra. Eleolina.

        Veja também: Como acabar de vez com o suor excessivo?

 

Sobre o autor: Lucas Gabriel Marins é jornalista e futuro biólogo. Tem interesse em assuntos relacionados à ciência, saúde e economia.

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