Saiba o que é mito e o que é verdade nos cuidados necessários após os procedimentos.
Cada vez mais populares, piercings e tatuagens conseguiram romper o estigma de associação à cena alternativa. De acordo com uma pesquisa feita pelo Instituto Dalia Research, 38% dos millennials (geração nascida entre 1982 e 1994) do mundo têm pelo menos uma tatuagem. Mas, apesar do atual status de um simples acessório – permanente ou não –, é preciso ter cuidado na recuperação de piercings e tatuagens, para que a ambição estética não se transforme em arrependimento.
Para esclarecer alguns mitos relacionados ao processo de cicatrização, conversamos com especialistas sobre quais medidas devem ser adotadas não apenas para uma boa recuperação, mas também para garantir um bom resultado final estético.
E o cuidado deve começar já na hora da escolha do profissional. Embora seja tentador se guiar pelo preço mais em conta, às vezes o barato sai caro. Por isso, se você realmente quer um novo piercing ou tatuagem, não tenha pressa e nem preguiça na hora de pesquisar sobre o profissional desejado.
O dr. André Moreira, dermatologista formado pela Universidade Federal de Goiás, e Master in Science em Oncodermatologia e Dermatoscopia pela Universidade de Graz, na Áustria, dá algumas dicas.
“O ideal é prestar atenção ao ambiente, à qualidade do material, das tintas, das joias e ter confiança de que a pessoa é tecnicamente competente e capaz de orientar você caso alguma complicação aconteça.”
Por isso, vá atrás de referências e de relatos de outros clientes.
Profissional escolhido, certifique-se de alinhar as expectativas com ele e não esconda nenhuma condição de saúde que possa prejudicar o procedimento. A presença de doenças que atrapalhem a cicatrização, como diabetes descompensado, e de infecções ou doenças ativas no local de aplicação desejado deve ser compartilhada com o tatuador ou body piercer.
Chegou o dia. E aí?
Segundo os dermatologistas consultados, não é preciso nenhum cuidado especial antes da ida ao estúdio.
O que pode ou não pode comer?
Tatuagem ou piercing feito. E agora? É aqui que começam os maiores mitos, e vamos começar pelo principal: é preciso restringir o consumo de alimentos como chocolate, carne de porco, frituras etc.?
De acordo com os especialistas, não há relação direta da alimentação com a formação de queloide – cicatriz que cresce desproporcionalmente, resultando num excesso de pele e pouco agradável esteticamente. “Não existe comprovação científica de que algum alimento interfira negativamente na cicatrização”, diz o dr. André.
O que acontece é que alguns alimentos podem aumentar o estado inflamatório do organismo. Se o corpo entende que está sendo atacado, a reação natural é aumentar a defesa – nesse caso, aumentando a produção das células de defesa. Com isso, a tendência da região que sofreu o trauma – como piercings ou tatuagens são interpretados pelo cérebro – é ficar ainda mais avermelhada e inchada, o que dificulta a regeneração da pele.
É também esse “alerta” de ataque que pode provocar um desequilíbrio na produção do colágeno, proteína importante para a cicatrização, o que aumenta o risco de crescimento excessivo de tecido e formação de queloides e cicatrizes grosseiras.
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Plástico filme
É comum sair do estúdio de tatuagem com o desenho coberto por uma camada de plástico filme ou adesivo protetor. Quando essa proteção deve ser retirada? O dermatologista orienta.
“Usar o mesmo plástico continuamente pode não fazer bem para a cicatrização. Alternar períodos com e sem o plástico e trocá-lo algumas vezes ao dia é essencial.”
Cuidados do dia a dia
Outros cuidados básicos devem ser tomados nos primeiros dias do piercing ou tatuagem. Em geral, as recomendações valem para ambos, já que os dois são traumas causados na derme, como já mencionamos acima. Para a higienização, o simples basta: lavar com água e sabão (neutro, de preferência) e secar bem a região.
“Preste atenção aos sinais de infecção e evite a manipulação desnecessária. Caso note alguma alteração não esperada, procure um serviço de saúde o mais rápido possível para ser avaliado”, explica o dr. André.
No caso da tatuagem, outro produto indispensável é o protetor solar, para evitar alterações na cor original. A dra. Katleen da Cruz Conceição, dermatologista especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia e chefe do ambulatório de dermatologia para pele negra da Santa Casa da Misericórdia, ensina.
“É recomendado usar um hidratante – gel, creme ou sérum –, para evitar uma hiperpigmentação. Se necessário, pode ser aplicado na região uma pomada com corticoide associada a um antibiótico, para evitar a inflamação.”
Para saber o melhor creme ou pomada indicado, o ideal é conversar com um dermatologista. Mas, em geral, cremes simples dão conta de manter a região hidratada. As pomadas com antibióticos são recomendadas caso seja necessário tratar alguma infecção local.
E quanto tempo demora a cicatrização?
Não há uma resposta concreta. Isso porque a cicatrização é um processo muito individual do organismo, e varia de pessoa para pessoa.
“A cicatrização é muito individual e varia muito. Uma a quatro semanas é o tempo para a pele se reorganizar após um trauma. Mas esse tempo pode ser maior, principalmente em pessoas com alterações nutricionais ou com tendência a ter cicatrizes inestéticas, como queloides.”
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Queloide ou granuloma?
Peles com mais pigmentação, como peles negras, têm risco de queloide aumentado em até 60% por conta de uma característica genética que influencia na forma como a pele se recupera após um trauma.
Como a principal característica do queloide é o crescimento de um excesso de pele no local do piercing, é comum se assustar com o surgimento de qualquer relevo na região. Mas nem tudo é queloide, como explica a dra. Katleen, referência em pele negra.
“Os granulomas são pequenas bolinhas, normalmente avermelhadas, que aparecem ao redor do piercing quando algo não vai bem. Essas bolinhas, ou granulomas, indicam que algo falhou durante a cicatrização do seu piercing, e para fazer com que esse granuloma vá embora é preciso identificar qual sua causa.”
Já o queloide é a cicatriz que cresceu demais e passou da margem da ferida.
Inflamou. O que fazer?
A resposta foi unânime: se o piercing ou tatuagem começar a apresentar sinais de que algo não vai bem, procure um dermatologista o quanto antes. O dr. André Moreira reforça.
“Procure o médico para avaliar a necessidade do uso de antibióticos, especialmente em áreas sensíveis como genitais e mamilos.”
Agora que você já sabe como cuidar do seu piercing ou tatuagem, é só se aventurar.
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