Ir para locais com altitude muito acima do nível do mar pode causar algumas reações no organismo. Conheça os principais sintomas.
Pessoas que vivem em locais próximos ao nível do mar, ao se deslocarem para locais de grande altitude, podem sentir uma série de reações desagradáveis, que são provocadas pela falta de oxigênio. Mas por que isso acontece?
“A pressão do ar como um todo é mais baixa em altas altitudes em comparação com o nível do mar, o que reduz a pressão de oxigênio no ar. Ao inspirar ar com menor pressão de oxigênio, menos oxigênio passa dos pulmões para o sangue e, consequentemente, todos os tecidos recebem menos oxigênio que o normal”, explica Bruno Moreira Silva, professor do Departamento de Fisiologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) – Campus São Paulo.
Segundo o especialista, diante dessa situação, a primeira reação do organismo é aumentar a quantidade de ar inspirado, como tentativa de corrigir o problema. “Mas como o ar inspirado tem baixa pressão de oxigênio, o aumento da ventilação não é capaz de corrigir plenamente o problema. E ainda gera uma consequência importante que é a eliminação excessiva de dióxido de carbono pela expiração, o que torna o pH do organismo menos ácido que o normal, gerando desafio para o funcionamento de todas as células do corpo. Então, a redução do oxigênio e do dióxido de carbono geram múltiplos efeitos no organismo, exigindo compensações de outros sistemas além do sistema respiratório, entre eles o sistema cardiovascular, que precisa aumentar a circulação de sangue, e o sistema renal, que precisa manter o equilíbrio ácido-base no corpo.”
Principais sintomas e sinais de alerta
Os sintomas mais comuns da exposição à altitude incluem falta de ar, dor de cabeça, fadiga, tontura, perda de apetite e náuseas. Eles costumam aparecer acima dos 2 mil metros de altura. “Em um primeiro momento, aparecem quando a demanda de O2 é maior, como durante o exercício físico. Depois, quanto mais alto, mais sintomas podem aparecer, inclusive em repouso”, detalha Bruno.
Esses sintomas tendem a melhorar com o passar dos dias. A aclimatação (tempo que o corpo demora para se adaptar à altitude) varia muito de pessoa para pessoa, mas de forma geral, em altitudes entre 2 e 3 mil metros, os sintomas começam a melhorar entre três e cinco dias. Acima dos 4 mil metros, os sintomas podem diminuir (mas não desaparecer completamente) após algumas semanas.
No entanto, é preciso atenção à presença de alguns sinais de alerta, que indicam a necessidade de procurar atendimento médico. “Sintomas como dor no peito, vômitos excessivos, dor de cabeça intensa, sensação de desmaio e confusão mental são sinais que a falta de oxigênio no organismo está excessiva e pode gerar consequências graves”, alerta o especialista.
Além disso, algumas doenças podem deixar as pessoas mais vulneráveis aos efeitos da altitude no organismo. “Doenças que afetam a capacidade do organismo de captar oxigênio do ar (doenças pulmonares), transportar oxigênio (doenças cardiovasculares e hematológicas) e utilizar oxigênio nas células, principalmente nos músculos durante o exercício (como a sarcopenia) aumentam a vulnerabilidade à altitude, ou seja, aumentam a chance de as pessoas apresentarem mais sintomas e dos sintomas serem mais graves.”
Em casos graves, a exposição a grandes altitudes para pessoas que vivem no nível do mar pode levar a complicações como infarto agudo do miocárdio, edema pulmonar e edema cerebral por aumento da pressão na circulação cerebral.
Cuidados para minimizar os efeitos da altitude
“Consultar um médico antes da exposição à altitude é prudente, principalmente para quem tem idade acima de 40 anos e doenças crônicas. Além disso, ter estilo de vida saudável e bom condicionamento físico são fatores que ajudam a lidar com o desafio imposto pela redução da quantidade de oxigênio no organismo durante a exposição a altas altitudes”, recomenda o professor.
Já no local, algumas medidas podem ser tomadas para minimizar os sintomas, como:
- Evitar exercícios físicos intensos;
- Manter uma alimentação leve;
- Evitar o consumo de bebidas alcoólicas;
- Beber bastante água;
- Usar analgésicos para alívio dos sintomas;
- Fazer suplementação de O2.
Outra dica que pode ser bastante útil é subir aos poucos, ou seja, ir primeiro para um local de altitude menor e esperar a aclimatação para depois subir mais.
“E alguns medicamentos podem ser usados, sob recomendação médica, como esteroides, anti-hipertensivos e corretor de alcalose (acetazolamida)”, finaliza.
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