A ideia de que pandemia é guerra foi amplamente divulgada, mas guerras têm uma dinâmica muito diferente.
“Estamos enfrentando um inimigo invisível”, “pior desafio desde a 2ª Guerra Mundial”, “estamos em guerra contra a covid-19”. A metáfora da guerra, embora tenha o objetivo de fazer o mundo entender que estamos diante de uma doença grave inédita e que exigiria esforço intenso para ser controlada, traz consigo um perigo: normalizar a morte de milhares de pessoas todos os dias.
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Afinal, se guerras implicam mortes e perdas materiais inevitáveis, entende-se que não há muito o que fazer e, assim, “tiramos” a responsabilidade dos governos de oferecer a assistência necessária, embasada na ciência. Muito diferente disso, uma pandemia pode ser controlada com medidas – ainda que duras – já conhecidas de epidemiologistas e sanitaristas, e com outras que são aprimoradas conforme nosso conhecimento avança.
Com duas trocas de ministro da Saúde durante o período mais crítico da pandemia, o Brasil viu medidas de saúde pública passarem a ser decididas por pessoas que nada entendiam da área e que menosprezavam as orientações dadas por cientistas e epidemiologistas. O governo federal perdeu tempo e dinheiro ao investir em tratamentos cuja eficácia não tem evidência científica, como a cloroquina, que pode ainda causar efeitos colaterais graves.
Quantas peças publicitárias foram veiculadas pelo governo federal orientando sobre a importância da adoção de medidas de higiene? Quantas medidas foram adotadas pelo governo pensando na saúde da população?
Assistimos a autoridades políticas em aglomerações, sem máscara, passando uma mensagem dúbia à população, que, sem saber quem seguir, ficou perdida. Presenciamos o Ministério da Saúde dificultando acesso a informações sobre novos infectados e mortes, base para qualquer estratégia de contenção da epidemia.
A falta de conhecimento e de direcionamento serviu para criar teorias da conspiração. Muitos não acreditam na eficácia da máscara e do distanciamento. Outros acham que a imprensa está em uma eterna perseguição a determinados políticos. E não podemos deixar de mencionar aqueles que continuam acreditando em medicamentos sem nenhuma evidência científica para a covid-19.
Quantas peças publicitárias foram veiculadas pelo governo federal orientando sobre a importância da adoção de medidas de higiene? Quantas medidas foram adotadas pelo governo pensando na saúde da população? Quantas vezes o presidente pediu para que, quem pudesse, ficasse em casa?
Para piorar, o governo federal afirmou que a decisão de vacinar-se deve ser uma escolha pessoal. Sabemos que a imunidade comunitária (de rebanho) só será atingida se a enorme maioria da população tomar a vacina, caso contrário o vírus continuará circulando e fazendo vítimas entre os mais vulneráveis..
Para nós, do Portal Drauzio Varella, não estamos em guerra. Estamos diante de uma doença contagiosa com a qual muitos líderes políticos não souberam lidar. Mas ainda dá tempo de as autoridades correrem atrás e implementarem medidas eficazes. Embasadas na ciência, sempre.