Demência e Alzheimer não são a mesma coisa. Veja as diferenças e semelhanças na coluna de Mariana Varella.
Com o envelhecimento, nossa pele se torna mais flácida, os cabelos embranquecem, a força muscular diminui e a visão já não é a mesma.
No entanto, essas são apenas algumas das alterações físicas mais perceptíveis que acontecem com o avançar da idade. A verdade é que, com o passar dos anos, o corpo inteiro envelhece, e os órgãos passam a desempenhar suas funções com menos competência.
Dessa forma, depois de certa idade, esquecer o nome de um cantor famoso, assim como ter dificuldade para enxergar e escutar não significam, necessariamente, problemas de saúde mais graves. Podem ser apenas sinal de envelhecimento, como o rosto mais enrugado.
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Porém, quando há uma perda persistente e progressiva da função cognitiva, que afeta a forma como indivíduos percebem, processam e elaboram as informações, interferindo nas atividades rotineiras, é preciso investigar, pois essas são alterações clássicas das demências.
Muitas pessoas, incluindo profissionais de saúde, chamam todos os quadros de demência de Alzheimer.
No entanto, embora os termos tenham relação, eles não significam a mesma coisa. Mas como diferenciá-los?
Qual a diferença entre demência e Alzheimer?
Demência é um termo guarda-chuva usado para descrever um conjunto de quadros causados por várias doenças que, com o passar do tempo, provocam danos ao cérebro, levando, assim, à deterioração da função cognitiva.
Já a doença de Alzheimer é um tipo específico de demência, a mais comum, responsável por cerca de 60% a 70% de todos os casos de demência.
No Brasil, 8,5% da população com mais de 60 anos convive com as demências, o que representa 2,71 milhões de casos. Os dados são do Relatório Nacional sobre a Demência, divulgados em setembro do ano passado pelo Ministério da Saúde.
Até 2050, com o envelhecimento crescente da população, a projeção é que 5,6 milhões de pessoas sejam diagnosticadas com demência no país.
Demências
“Demência” é uma palavra que engloba os casos de declínio significativo das habilidades de pensamento, como memória, capacidade de comunicação e de resolver problemas. Quando uma pessoa tem dificuldade de manter uma conversa conexa ou se esquece do nome de um familiar próximo, por exemplo, pode ser sinal de demência.
Em geral, as demências afetam a capacidade de desempenhar as atividades diárias, como dirigir, cuidar da higiene pessoal e lembrar de pagar as contas.
Há vários tipos de demências, entre elas:
Demência vascular: depois do Alzheimer, é provavelmente a causa mais importante de demência. Ela se caracteriza por múltiplos infartos que vão ocorrendo no cérebro ao longo da vida do indivíduo, que tem uma pequena isquemia, seguida de outras. Essas alterações vão se somando e estão associadas a uma história de declínio da competência cognitiva.
Demência frontotemporal: pode causar mudanças drásticas no comportamento e na personalidade do indivíduo, levando-o a agir de forma mais impulsiva ou a utilizar palavras grosseiras e inapropriadas, por exemplo.
“A demência frontotemporal provoca alterações de comportamento muito próximas daquilo que o leigo entende convencionalmente por demência. O paciente começa a manifestar um comportamento diferente do que tinha até então. É o caso do profissional liberal muito sério e compenetrado, de pouca conversa, que passa a beber, a fazer comentários inadequados e a tomar atitudes inconvenientes até do ponto de vista sexual”, explicou, em entrevista a este Portal, o dr. Ricardo Nitrini, pesquisador e professor de neurologia da Faculdade de Medicina da USP.
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Demência por corpos de Lewy: uma forma de degeneração marcada por grandes oscilações no desempenho do dia a dia. “Num momento, o indivíduo aparentemente está bem, mas minutos ou horas depois apresenta estado de confusão mental, mostra-se sonolento ou incapaz de responder às perguntas que respondera algumas horas antes. Essas grandes oscilações acompanhadas por alucinações visuais – a pessoa começa a ver coisas que não existem – merecem atenção especial, porque o tratamento é possível, embora difícil e a melhora menos expressiva”, disse o dr. Nitrini.
Afasia progressiva primária: é um tipo de demência progressiva que está mais relacionada à linguagem. A pessoa não encontra, por exemplo, as palavras para nomear os objetos ou compreender o que está sendo dito pelo interlocutor.
Doença de Alzheimer
A doença de Alzheimer é o tipo mais comum de demência. Depois dos 80/85 anos, calcula-se que praticamente metade da população apresenta sinais dessa doença que, na maioria dos casos, tem evolução lenta e progressiva. Numa minoria, entretanto, a incidência pode ser precoce, por volta dos 50 ou 60 anos, e a evolução, bem mais rápida.
A doença se instala de forma insidiosa, em geral com sinais de dificuldade de memorização e desinteresse pelos acontecimentos diários.
A memória de curta duração que nos permite exercer a rotina diária é a primeira a ser afetada. Nessa fase, os pacientes esquecem onde deixaram a carteira, se pagaram uma conta, o nome de um conhecido. Com o tempo, a pessoa deixa as tarefas incompletas, esquece o que foi fazer na sala, larga o fogão aceso, perde-se no caminho de volta para casa.
É comum que pacientes com Alzheimer esqueçam fatos recentes e se lembrem com precisão de eventos ocorridos dezenas de anos antes.
As primeiras habilidades perdidas são as mais complexas: cuidados com as finanças, preparo de refeições. A capacidade de executar atividades mais básicas, como cuidar da higiene ou alimentar-se, desaparece mais tardiamente.
O quadro degenerativo se estende às funções motoras. Andar, subir escadas e vestir-se tornam-se atividades de execução cada vez mais difícil.
Na fase avançada, o quadro se estende às funções motoras e às alterações do sono, levando o paciente a depender de terceiros para executar as atividades diárias.
“É preciso observar se estão ocorrendo distúrbios na capacidade de formar novas memórias, ou seja, de memorizar fatos novos, uma vez que o sintoma inicial mais comum da doença de Alzheimer é a dificuldade de memorização: o paciente não retém recados, repete várias vezes a mesma pergunta e não consegue fixar informações”, revelou o dr.Nitrini.
Para realizar o diagnóstico, são necessários testes cognitivos e exames específicos, como PET scans que verificam a presença de determinadas proteínas no cérebro.
Sintomas
De modo geral, as demências não se iniciam abruptamente. A instalação pode ser insidiosa e os familiares, às vezes, demoram para perceber o que está acontecendo. Alguns déficits cognitivos que o indivíduo apresenta são interpretados como distração ou sintomas próprios da idade mais avançada.
Preste atenção aos sintomas iniciais mais comuns nas demências, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS):
- esquecer fatos recentes;
- perder ou guardar objetos em locais inusitados;
- perder-se quando sair para caminhar ou dirigir;
- sentir-se confuso, mesmo em locais conhecidos;
- perder a noção de tempo;
- apresentar dificuldade para resolver problemas ou tomar decisões;
- ter dificuldade para acompanhar conversas ou para encontrar as palavras adequadas;
- começar a ter dificuldade em desempenhar as atividades do dia a dia.
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Mudanças no humor e no comportamento incluem:
- ansiedade, tristeza ou nervosismo diante da perda de memória;
- mudanças na personalidade;
- comportamento inapropriado;
- perda de interesse no trabalho ou nas atividades sociais;
- menos interesse em familiares ou amigos;
- dificuldade para se locomover;
- perda de controle sobre a bexiga ou intestinos;
- dificuldade para se alimentar ou ingerir líquidos;
- mudanças de comportamento, como agressividade, que trazem angústia para o paciente e para quem está perto.
Não há cura para as demências, mas, ao contrário do que muita gente pensa, é possível prevenir boa parte dos casos, sobretudo se a prevenção começar cedo. A OMS estima que 45% das ocorrências possam ser evitadas ou adiadas com algumas mudanças de hábitos, como realizar atividades físicas regularmente, não fumar e controlar a pressão arterial.