Estudo mostra que não há associação entre o uso de aparelhos celulares e câncer de cérebro. Leia mais na coluna de Mariana Varella.
O uso de celulares não está associado ao aumento do risco de desenvolver câncer de cérebro ou de cabeça e pescoço. Essa é a conclusão de uma revisão da literatura encomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Publicada na revista científica “Environment International“, na última terça-feira (3/9), a pesquisa foi conduzida por um grupo de pesquisadores australianos.
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A OMS já havia negado a relação entre câncer e o uso de celulares, mas a revisão divulgada agora incluiu um número superior de estudos.
Os pesquisadores não encontraram associação entre o uso de celulares e câncer, mesmo em pessoas que utilizam esses aparelhos havia muito tempo ou muitas horas por dia.
Por que o uso de celulares era considerado arriscado para a saúde?
Os telefones celulares e aparelhos que utilizam tecnologia sem fios, como computadores portáteis, e as transmissões de rádio e TV e de telefonia móvel emitem radiação eletromagnética de radiofrequência, também conhecida como ondas de rádio.
Ken Karipidis, principal autor da recente revisão e diretor da Agência Australiana de Proteção contra Radiação e Segurança Nuclear (Arpansa, na sigla em inglês), que conduziu a pesquisa, disse ao jornal britânico “The Guardian” que a associação entre celulares e câncer surgiu de estudos iniciais em que os pesquisadores investigaram diferenças entre um grupo de pessoas com tumores cerebrais e um grupo separado sem câncer, perguntando a ambos sobre o seu histórico de exposição.
Em 2011, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da ONU (IARC, sigla em inglês) havia classificado a exposição às ondas de rádio como possível carcinogênico para seres humanos, com base em evidências limitadas oriundas de estudos observacionais. Esse tipo de estudo não oferece, contudo, os melhores níveis de evidência.
Desde então, vários estudos encomendados pela OMS analisaram os efeitos das ondas de rádio na saúde. Outras revisões, que avaliaram a existência de associação entre ondas de rádio e infertilidade, também não mostraram resultados positivos.
O nível de radiação emitido por aparelhos celulares é baixo, e a revisão mostra que embora o uso de aparelhos sem fio tenha aumentado muito nos últimos anos, o mesmo não ocorreu com o número de casos de câncer no cérebro. Desse modo, a revisão divulgada agora fornece dados muito mais sólidos que demonstram não haver associação entre o uso de celulares e câncer.
O estudo
A revisão analisou mais de 5 mil estudos publicados entre 1994 e 2002, limitando-se a 63 para a análise final.
Os pesquisadores verificaram se havia associação entre câncer e o aumento da exposição às radiofrequências utilizadas pelos dispositivos eletrônicos sem fios, incluindo os celulares.
Eles descobriram que o risco de câncer de cérebro não aumentava, mesmo entre aqueles que usavam o aparelho por muitos anos (dez anos ou mais), que passavam muito tempo no celular ou faziam muitas ligações diárias. Também não encontraram risco aumentado de câncer em crianças expostas a transmissores de rádio ou TV ou torres de telefonia celular.
A revisão se debruçou em estudos baseados na incidências de tumores do sistema nervoso central (cérebro, meninges, glândula hipófise, nervo vestibulococlear) e tumores de glândulas salivares e leucemias.
A revisão sistemática fornece, portanto, evidências consistentes de que as ondas de rádio provenientes de tecnologias sem fios não oferecem riscos para a saúde de seres humanos.