Reflexo da pandemia, estresse emocional e insegurança financeira: o número de afastamentos do trabalho por transtornos mentais é o mais alto em 10 anos.
Não somos os mesmos desde a pandemia de covid-19, que completou cinco anos em 2025. O isolamento repentino, o perigo iminente à saúde, as demissões em massa e, principalmente, o luto por amigos e familiares pesaram – e muito – na saúde mental dos brasileiros.
O Ministério da Previdência Social divulgou com exclusividade, em matéria no g1, que apenas no ano passado, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) recebeu cerca de 3,5 milhões de pedidos de licença motivados por várias doenças. O que se destaca é que desse total, 472 mil solicitações são referentes a transtornos de saúde mental. Esse número é o mais alto desde 2014, ano em que os dados passaram a ser computados.
Ainda de acordo com os números publicados, é possível notar que, a partir de 2021, auge da pandemia, os transtornos ansiosos passaram a ter mais peso nos pedidos de afastamento, ultrapassando os episódios depressivos, que historicamente representaram a maior fatia. Em 2024, foram registrados 141.414 afastamentos por ansiedade e 113.604 afastamentos por depressão.
É importante esclarecer que um trabalhador pode pedir mais de um afastamento, por isso, os números registram licenças e não pessoas.
Perfil dos afastamentos
São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro possuem os maiores números de afastamentos do país, porém, ao levarmos em conta o índice populacional, Distrito Federal, Santa Catarina e Rio Grande do Sul tomam a frente.
A matéria do g1 também cita que “a maioria dos trabalhadores afastados por transtornos mentais em 2024 foi de mulheres (64%), com idade média de 41 anos e com diagnósticos de ansiedade e depressão. Elas passam até três meses afastadas do trabalho”.
Isso é especialmente preocupante e nos força a relembrar fatos tristes, que podem ter contribuído para esse cenário: elas recebem salários menores, estão mais sujeitas ao assédio em todas as carreiras, sofrem uma sobrecarga imensa, pois o trabalho continua em casa, têm menos oportunidades e reconhecimento no mercado de trabalho, entre outros.
Veja também: Qual é o legado da pandemia para a saúde mental?
O que está sendo feito para evitar que essa crise piore?
Cada empregador costumava lidar com essa questão de forma privada, mas em maio deste ano entra em vigor uma atualização da Norma Regulamentadora 1 (NR-1), que estabelece diretrizes sobre saúde no ambiente de trabalho. As empresas passarão a ser fiscalizadas e estarão sujeitas a multas, caso sejam constatadas falhas na prevenção de riscos à saúde mental dos funcionários.
É um avanço necessário – e tardio – para um problema grave, muitas vezes incapacitante, que tira pessoas em idade produtiva do mercado de trabalho e as impede de ter uma vida pessoal igualmente plena.