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Órfãos da covid

menina de costas, apoiada na persiana da janela, simbolizando órfãos da covid
Publicado em 23/09/2022
Revisado em 23/09/2022

Estudo mostra que mais de 10 milhões de crianças perderam os pais ou cuidadores diretos para a covid-19. Número de órfãos da covid é mais alto em países de baixa e média renda. Leia na coluna de Mariana Varella.

 

A covid-19 matou oficialmente mais de 6 milhões de pessoas no mundo, até o momento. No entanto, a pandemia também fez vítimas indiretas: cerca de 10,5 milhões de crianças no mundo perderam um dos pais ou o cuidador para a doença, de acordo com um estudo de modelagem publicado na revista “JAMA Pediatrics”, no início de setembro deste ano.

Veja também: Mortalidade pós-covid

Estudos anteriores estimaram que cerca de 1,5 milhão de crianças com menos de 18 anos haviam perdido um cuidador primário ou secundário durante os primeiros 14 meses da pandemia. O número calculado agora, no entanto, é muito maior do que as primeiras previsões semelhantes.

Para chegar a essa estimativa, os autores consideraram os dados de excesso de mortes da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Health Metrics and Evaluation, nos EUA, e os levantados pela revista britânica “The Economist”, além de analisar as taxas de fertilidade de cada país.

Entende-se como excesso de mortes a diferença entre os óbitos previstos e os observados em determinado intervalo de tempo. No caso do estudo mencionado, foi considerado o período entre os dias 1/1/2020 a 1/5/2022.

A modelagem sugere que 7,5 milhões de crianças ficaram órfãs de um ou ambos os pais, enquanto 10,5 milhões perderam os pais ou cuidadores próximos, como avós.

As regiões mais afetadas foram o sudeste da Ásia, em especial Bangladesh, Índia, Indonésia, Mianmar e Nepal, com cerca de 40% dos casos; e países africanos, como República Democrática do Congo, Etiópia, Quênia, Nigéria e África do Sul, com quase 25% das ocorrências. As Américas concentram 14% dos casos e a Europa, menos de 5%.

Isso trará sérios problemas para as crianças em curto e longo prazo. Em primeiro lugar, a perda de um ou ambos os pais traz consequências econômicas e sociais graves para o núcleo familiar.

Nas famílias em que o provedor morre, em geral há diminuição do poder econômico; quando é a mãe ou pessoa envolvida nos cuidados diários direto das crianças quem falece, nem sempre esse cuidado é substituído adequadamente.

A perda traumática de um parente próximo torna essas crianças mais propensas a experimentaram transtornos mentais, abusos de vários tipos, como violência sexual e doméstica, e doenças crônicas no futuro.

Em entrevista à revista “Nature”, os pesquisadores salientaram a importância de décadas de pesquisas com crianças cujos pais morreram de aids para entender como reduzir os danos dessas perdas. Os dados revelam que apoio educacional, assistência econômica e suporte para o cuidador responsável pela criança ajudam a diminuir o impacto dessas mortes em longo prazo.

É preciso notar, também, o curto período em que os óbitos ocorreram. Isso significa que em pouco mais de dois anos milhões de crianças ficaram parcial ou totalmente desamparadas, o que significa um número muito grande de pessoas que precisarão do auxílio de estados já pobres e com déficit de políticas públicas para a infância.

Para isso, é essencial identificar essas crianças, boa parte habitantes de países de baixa e média renda, muitas em situação de vulnerabilidade prévia, e organizar políticas públicas que as contemplem.

De acordo com o estudo, apenas Peru e Estados Unidos estão atuando para auxiliar as crianças que perderam cuidadores para a covid-19.

No auge da pandemia, tivemos de lidar com o fato de que estávamos diante de doença que estava matando milhões de indivíduos no mundo todo. Agora começamos a vislumbrar um cenário ainda mais desolador: o número de pessoas atingidas pelas sequelas diretas e indiretas da covid-19 será ainda maior.

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