Muita gente tem dúvida a respeito de quanto tempo dura a imunidade depois da covid. Veja na coluna de Mariana Varella.
Apesar de transcorridos mais de dois anos do início da pandemia, muita gente ainda tem dúvidas a respeito de quanto tempo dura a imunidade depois da covid. Sabemos que ela não é permanente, como no caso do sarampo, mas será possível considerar-se protegido por algum tempo depois de ter tido a doença?
As reinfeções pelo Sars-CoV-2 têm sido cada vez mais comuns. No entanto, até meados de 2021 elas eram bem menos frequentes. “A duração média da proteção natural conferida por infecção causada pela variante Delta era de cerca de 3 meses. Ou seja, uma pessoa infectada por Delta poderia ‘relaxar’ por um tempo, sabendo que durante esse período estaria protegida contra uma nova infecção”, explica a médica epidemiologista Denise Garrett.
De fato, o surgimento da variante Ômicron e das suas subvariantes mudou o cenário pandêmico. “Estamos vendo um aumento no número de reinfecções e uma diminuição no espaço entre elas. Há relatos de reinfecção em até 20 dias”, afirma a dra. Garrett.
Um grupo de cientistas da Weill Cornell Medicine, no Catar, calculou que uma infecção pelas variantes anteriores do Sars-CoV-2, como a Alfa e a Delta, tinha uma eficácia de cerca de 90% na prevenção de outras infeções em pessoas com diagnóstico prévio de covid havia ao menos 90 dias.
Após o surgimento da Ômicron, ainda segundo o estudo, uma infecção prévia pelo vírus oferece uma proteção de 56% contra outra infecção. Isso porque o vírus sofreu muitas mutações na proteína spike que permitiram que as novas versões se tornassem mais transmissíveis e mais capazes de escapar da imunidade adquirida.
Contudo, esse não é o único fator responsável pelo alto número de reinfecções atuais. Já se sabe que a imunidade conferida pela vacina ou por uma infecção prévia diminui com o tempo, portanto quanto mais meses transcorrem entre a vacinação ou a primeira infecção, maior o risco de contrair o Sars-CoV-2.
A alta circulação do vírus também contribui para as reinfecções, visto que é mais fácil cruzar com ele em momentos em que os novos casos estão aumentando e estados e municípios relaxaram as medidas de prevenção.
Mas há boas notícias. Após uma primeira infecção, o organismo tende a combater outra infecção com mais eficácia. As células imunes, como os linfócitos T e os B, se “recordam” de como enfrentar o vírus. Assim, uma nova infecção costuma ser mais leve que a anterior.
Isso também ocorre com quem não se infectou pelo vírus, mas tomou as vacinas contra a doença. Pessoas vacinadas podem contrair o Sars-CoV-2, mas a infecção tende a ser menos grave e mais curta. “Embora reinfecção também ocorra em vacinados, se dá em menor proporção que em não vacinados. Por isso, é essencial tomar todas as 3 doses do esquema vacinal, mesmo que já tenha se infectado”, insiste a dra. Garrett.
Quem tomou as vacinas e teve a infecção desenvolve o que especialistas chamam de “imunidade híbrida”, isto é, uma proteção combinada de anticorpos pré-existentes gerados pela vacina e dos anticorpos naturais provocados por uma infecção.
Contudo, mesmo a imunidade híbrida não garante que a pessoa não contrairá outra infecção, visto que a proteção varia de indivíduo para indivíduo e também tende a diminuir com o tempo.
Buscar contrair o vírus para desenvolver a imunidade, portanto, não faz sentido, visto que ela não dura muito tempo. Além disso, a covid pode causar sintomas prolongados. Ainda não há estudos conclusivos acerca da porcentagem de pessoas que desenvolvem sintomas persistentes após a infecção pelo Sars-CoV-2, mas o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americano estima que 1 em cada 5 pessoas pode apresentar sintomas como cansaço, dificuldade de concentração, perda de olfato, entre outros por períodos superiores a um mês.
A melhor maneira de adquirir imunidade contra quadros graves da doença é, assim, tomar as três doses recomendadas e a vacina de reforço, nos casos indicados. O uso de máscara em local fechado e com aglomeração e a manutenção de ventilação dos espaços oferecem camadas de proteção adicionais que devem ser utilizadas em momentos de alta circulação do vírus, como o atual.