Fim de ano: não é hora de festa | Coluna

criança de costas acena para avós na tela do computador. Festas de fim de ano devem ser suspensas por causa da covid-19

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Publicado em: 22 de dezembro de 2020

Revisado em: 22 de dezembro de 2020

As festas de fim de ano devem ser adiadas para evitar a disseminação da covid-19.

 

Não há quem não goste de reuniões sociais com familiares e amigos próximos. Há, inclusive, aqueles que contam os dias para a chegada do fim de ano, quando começa o recesso no trabalho e podemos nos dedicar aos encontros regados a cerveja e vinho, risadas, abraços e presentes.

Mas em  2020, diante do agravamento da pandemia de covid-19 nas últimas semanas, os brasileiros precisarão mudar seus planos. Ou ao menos deveriam fazê-lo.

Veja também: Artigo do dr. Drauzio sobre sequelas da covid-19

Um estudo publicado na revisa “Science” mostrou que o risco de transmissão do Sars-CoV-2, vírus causador da doença, é maior em reuniões pequenas, com familiares e agregados. Os contatos sociais, como reuniões em festas maiores e bares, aparecem depois na lista dos eventos de maior risco. Os contatos do dia a dia, dentro da comunidade, como os que ocorrem quando fazemos compras no supermercado, por exemplo, são menos arriscados.

Isso porque nos contatos íntimos mantemos menos distância e deixamos de lado as medidas preventivas, como o uso adequado da máscara. Além disso, passamos mais tempo nesses encontros, aumentando o risco de exposição.

Por outro lado, quando saímos para as atividades diárias, como ir trabalhar ou fazer compras, tendemos a prestar mais atenção às medidas de higiene, incluindo o distanciamento físico e o tempo de exposição.

“A gente tende a confiar em quem está mais próximo, a acreditar que eles não estarão infectados, o que é impossível prever diante de uma doença que pode ser transmitida por assintomáticos“, explica o dr. Marcio Sommer Bittencourt, pesquisador do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da USP (CPCE-USP).

O estudo da “”Science” mostra, ainda, que adolescentes e adultos jovens passam a doença para pessoas da mesma idade, em geral em eventos sociais. Porém, nas residências, essas pessoas transmitem o vírus para moradores de outras faixas etárias. Isso porque as pessoas mais velhas tendem a ser mais responsáveis e a evitar contatos sociais desnecessários, mas nem sempre conseguem evitar o contato com familiares mais novos. Quem mais leva a doença dos eventos sociais para casa são pessoas entre 25 e 60 anos.

Portanto, conforme revelou um estudo publicado na revista “Nature Human Behaviour”, suspender eventos de pequeno e médio porte é a medida mais eficaz na redução da transmissão da covid-19, além de ser a que causa menos impacto econômico e social.

Em resumo: eventos que misturam núcleos familiares (pessoas que não moram juntas) tendem a ser mais arriscados exatamente porque aumentamos o tempo de transmissão e relaxamos no cumprimento das medidas preventivas. “É muito importante entender que a transmissão entre a família mais próxima e estendida é mais intensa porque nessas situações a gente tem menos cuidado e permanece mais tempo”, afirma o dr. Bittencourt.

 

São Paulo

 

A Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo revelou que houve um aumento de 54% no número de casos de covid-19 e de 34% na taxa de óbitos nas últimas quatro semanas.  Também houve aumento de 13% na taxa de internação no período. No entanto, chama a atenção o fato de a maioria das internações ser de pessoas entre 30 a 50 anos, que teoricamente estão fora do grupo de risco para desenvolver quadros graves de covid-19.

Os dados acerca das internações corroboram o aumento considerável de casos detectados entre a população mais jovem do estado. Isso também ocorre em diversos estados brasileiros.

Especialistas afirmam que julgar que jovens não adoecem, muitas vezes gravemente, é um erro. De fato, pessoas mais jovens e sem outras doenças associadas costumam ter quadros mais leves da doença, mas não estão de forma nenhuma livres de complicações, incluindo sintomas prolongados e sequelas, causadas pela covid-19.

Além disso, os jovens convivem ou moram com indivíduos vulneráveis, como idosos e pessoas com comorbidades como diabetes. Os vírus respiratórios não escolhem quem infectar e circulam com facilidade.

 

Testes e festas

 

Nos últimos dias, vários laboratórios particulares do país relataram um aumento na procura pelos testes, provavelmente também relacionado às proximidades das festas de fim de ano. Contudo, é importante saber que um exame negativo não funciona como um passaporte para festejos.

O CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças) americano alerta para o fato de que podemos levar até 14 dias para manifestar a doença depois de termos tido contato com alguém com covid-19. Nesse período, como já foi dito, podemos transmitir o vírus.

Além disso, um exame RT-PCR, o mais indicado para diagnosticar infecção ativa, negativo não afasta a possibilidade de covid-19, pois o exame não detecta 100% dos casos, principalmente quando realizado no início da infecção.

O oncologista Drauzio Varella alerta para o risco de vermos as taxas de covid-19 aumentarem em todo o país, caso ocorram festas de fim de ano. “Epidemiologistas calculam que o número de casos vai aumentar com as reuniões familiares e festas. É preciso reunir o menor número possível de pessoas para que em janeiro não haja um aumento de casos ainda maior”, alerta.

O fim do ano de 2021 tem tudo para ser melhor do que o deste ano. Há várias vacinas promissoras, e ao menos os grupos prioritários devem ser vacinados no decorrer do ano que vem, diminuindo, assim, o impacto da doença nos sistemas de saúde e o número de óbitos, que já se aproxima dos 190 mil desde março.

Vale a pena ficarmos vivos para comemorarmos os próximos natais e a chegada dos anos mais auspiciosos que certamente virão.

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