Confusão entre gripe e resfriado ajuda a explicar taxa baixa de vacinação contra gripe

menina doente, de cama, assoando o nariz. gripe e resfriado são doenças diferentes

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Publicado em: 1 de junho de 2023

Revisado em: 2 de junho de 2023

Confusão entre gripe e resfriado pode afastar as pessoas da vacina contra a gripe. Doenças são semelhantes, mas gripe é mais grave. Leia na coluna de Mariana Varella.

 

Quem já pegou uma gripe sabe como é difícil sair da cama. No último surto da doença em 2021, causado pelo vírus H3N2, as redes sociais foram inundadas de relatos de pessoas impressionadas com a intensidade da doença.

No entanto, não é surpresa que a gripe provoque sintomas intensos, que podem durar mais de uma semana. As pessoas se assustaram porque confundem gripe e resfriado.

Na cultura brasileira, qualquer espirro é sinônimo de gripe. Dos mais velhos aos mais jovens, é comum afirmar que uma pessoa com dor de garganta e coriza está gripada, mesmo que, na verdade, ela esteja resfriada.

Embora ambas as doenças sejam infecções virais, elas são diferentes: o resfriado é causado por cerca de 200 tipos de vírus, entre eles os rinovírus, responsáveis pela maioria dos casos da doença. É exatamente por haver vários tipos de vírus que provocam resfriado que podemos pegar dezenas de infecções durante a vida, pois não desenvolvemos imunidade duradoura para todos os tipos.

Os resfriados comuns costumam provocar sintomas que comprometem as vias aéreas superiores, como faringe e nariz. Assim, congestão nasal, coriza, dor de garganta leve, mal-estar moderado e febre baixa (quando ocorre, nunca passa dos 38,5º C) são sintomas da infecção, que dura entre 2 e 4 dias, no geral. A pessoa com resfriado pode até preferir se recuperar na cama, mas se ela tiver uma tarefa importante, consegue se levantar, mesmo que os sintomas incomodem.

A gripe, causada pelos vírus influenza, provoca sintomas mais intensos, que podem atingir todas as vias aéreas, como faringe, traqueia, brônquios e, ocasionalmente, os pulmões. Na maioria dos casos, a pessoa desenvolve, além dos sintomas semelhantes aos do resfriado, febre alta (acima de 38,5º C), dores no corpo e mal-estar intensos.

“Quem está com gripe fica vários dias com febre e tem um comprometimento geral importante. Dores no corpo, popularmente descritas como ‘quebradeira’, sensação de mal-estar muito intensa, cabeça levemente torporosa comprometem a atividade física e intelectual”, explicou o infectologista João Silva de Mendonça, em entrevista ao Portal Drauzio Varella.

Outro erro comum é atribuir a causa da gripe ao frio. “O frio não é a causa da gripe, apenas cria condições para maior disseminação do vírus em lugares não ventilados onde as pessoas tossem, espirram, ou falam muito perto umas das outras”, explicou o dr. Mendonça.

 

Confusão

O problema de confundirmos gripes e resfriados é que acabamos banalizando a gripe, doença menos frequente, mas menos benigna do que a maioria imagina. Em crianças, pessoas idosas ou imunodeprimidas, pode ser uma doença grave e até causar a morte.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que todos os anos morram mais de 650 mil pessoas no mundo em consequência de complicações da gripe, como pneumonia.

Embora tenhamos uma vacina que protege contra quadros graves da gripe, as taxas de vacinação contra a doença seguem baixas no Brasil. Até o dia 12/5, menos de 30% do público-alvo definido na campanha deste ano havia sido vacinado (a meta era vacinar 90% desse grupo). Assim, o Ministério da Saúde estendeu a campanha de vacinação contra a gripe para toda a população acima dos 6 meses de idade desde o dia 15/5. 

Como o vírus influenza sofre muitas mutações, o imunizante é atualizado todos os anos, de acordo com as cepas do vírus que circulam no momento; assim,  é importante tomar a vacina anualmente.

A vacina é segura e não causa gripe, pois é produzida com vírus inativados que não são capazes de provocar a doença. Os efeitos colaterais possíveis incluem sintomas como dor local, febre baixa e mal-estar leve, que passam em um ou dois dias.

Os imunizantes disponíveis gratuitamente pelo SUS são trivalentes (protegem contra três tipos dos vírus influenza mais frequentes no país).

Se você se lembra da última vez que ficou gripado e não resfriado, não vai querer repetir a experiência. 

 

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