Brasil tem queda da cobertura vacinal de todas as vacinas oferecidas no Programa Nacional de Imunizações. Leia a coluna de Mariana Varella.
Em termos de cobertura vacinal, o Brasil vai muito mal. O que é uma enorme tristeza, pois além de termos milhões de crianças suscetíveis a doenças preveníveis com vacinas, o nosso Programa Nacional de Vacinação, PNI, é reconhecido internacionalmente como um dos programas de saúde mais bem sucedidos do mundo.
Desde 2015, o Brasil enfrenta uma queda na cobertura vacinal de todas as doenças para as quais existem vacinas. Entre os motivos apontados pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), estão falta de informação dos profissionais de saúde acerca do calendário vacinal; falta de informação da população; pouca confiança em governantes, instituições e profissionais de saúde; horário limitado de funcionamento dos postos de saúde; desinformação; comunicação falha; e crescimento do movimento antivacinista.
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, em julho, que o Brasil está entre os dez países com maior quantidade de crianças com a vacinação atrasada. O índice de cobertura vacinal é medido pela vacina DPT3, que previne difteria, tétano e coqueluche e exige 3 doses que devem ser aplicadas nos primeiros meses de vida.
Peguemos duas outras vacinas incluídas no PNI e que devem ser aplicadas ainda na infância, a BCG, que protege contra tuberculose, e a da poliomielite. De acordo com o Instituo de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), a cobertura vacinal da BCG chegou a 100% em 2015; 86,7% em 2019; e 73,3% em 2020. A vacina da pólio, por sua vez, chegou a uma cobertura de 88,3% em 2015; caiu para 84,2% em 2019 e para 75,9% em 2020.
De acordo com a OMS, a cobertura vacinal recomendada para as vacinas infantis é de 90% a 95%. Atualmente, 3 em cada 10 crianças brasileiras não receberam as vacinas necessárias, mesmo que a vacinação infantil seja obrigatória pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias, desde 1990.
“É preciso cobrar as autoridades de saúde para que elas façam campanhas de prevenção, que distribuam as vacinas e estimulem as pessoas a se vacinarem. Temos condições de melhorar nossa cobertura vacinal”, afirmou o o dr. Bruno Ishigami, médico infectologista e mestrando em Saúde Pública pela Fiocruz, em entrevista a este Portal.
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Sarampo e poliomielite
Em 2016, o Brasil recebeu o certificado de eliminação do sarampo da Organização Mundial da Saúde (OMS), como resultado do esforço nacional para acabar com uma doença infantil altamente contagiosa e potencialmente grave, mas para a qual existe vacina.
No entanto, em 2018 o vírus voltou a circular no país. Entre 2018 e 2021, houve quase 40 mil casos de sarampo no país, com 40 óbitos.
Outra doença que foi erradicada do país desde a década de 1990 e corre o risco de voltar é a poliomielite. A pólio é altamente contagiosa e pode se disseminar mesmo que a pessoa com o vírus não apresente sintomas. A maioria dos pacientes se recupera bem da doença, mas em alguns poucos casos, 1 a cada 200, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), pode haver paralisia ou fraqueza nos braços, pernas ou ambos.
“Com baixa cobertura vacinal em um país onde o saneamento básico é precário, temos, no Brasil, o cenário perfeito para a poliomielite se espalhar, já que essa é uma doença de transmissão oral-fecal. Há um risco real de presenciarmos a reemergência de doenças que conseguimos erradicar ou controlar”, completou o dr. Ishigami.
Todas as doenças citadas nesta coluna podem ser potencialmente graves para pessoas vulneráveis, como as crianças, e são preveníveis com vacinas oferecidas gratuitamente pelo SUS.
Campanhas contra a queda da cobertura vacinal
O Brasil deu início a duas campanhas de vacinação nesta segunda-feira (8/8): a primeira, contra a poliomielite, para vacinar o público-alvo de crianças menores de 5 anos. A segunda tem foco nos adolescentes com menos de 15 anos e visa a atualizar o calendário vacinal desse público contra várias doenças.
É importante lembrar que a cobertura vacinal de imunizantes oferecidos aos adolescentes, como a vacina contra o HPV e meningogócia ACWY também estão abaixo do recomendado.
As campanhas seguem até o dia 9/9/22, com cerca de 40 mil postos espalhados pelo país que oferecerão doses das 18 vacinas previstas para esse público. (Veja aqui as vacinas recomendadas pelo Ministério da Saúde para todas as idades.)
Não podemos permitir que crianças sigam adoecendo de enfermidades preveníveis por meio de vacinas oferecidas gratuitamente. Se quisermos evitar a volta doenças erradicadas ou controladas, a hora é agora.