Por que antivacinas optam por não imunizar seus filhos?

Movimento surgiu após estudo fraudulento publicado em 1998, e até hoje causa estragos na saúde pública.

Bebê no colo da mãe e mulher dando vacina oral.

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Publicado em: 18 de junho de 2014

Revisado em: 19 de dezembro de 2022

Movimento antivacinas surgiu após estudo fraudulento publicado em importante periódico científico. Veja o que eles dizem e os impactos desse posicionamento.

 

Doenças infecciosas que poderiam ter sido eliminadas do planeta, como o sarampo e a própria poliomielite, ainda são males da saúde pública de alguns países que atualmente enfrentam o surgimento de um novo grupo que pode dificultar a batalha: os antivacinas.

O movimento ganhou força principalmente após a publicação de um artigo científico na revista Lancet (um dos mais importantes periódicos sobre saúde do mundo) no ano de 1998, no qual o médico inglês Andrew Wakefield associou o aumento do número de crianças autistas com a vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba. Isso foi o suficiente para que pais assustados deixassem de vacinar os filhos.

 

Veja também: Por que vacinar seus filhos contra o HPV

 

Entretanto, alguns anos depois, descobriu-se que o médico, na verdade, recebia pagamentos de advogados em processos por compensação de danos vacinais. A própria revista Lancet foi obrigada a se retratar, mas o estrago já estava feito. “Esse trabalho foi investigado, até porque passou a ser um problema de saúde pública e foi constatado que os dados eram falsos. Mas mesmo depois de isso ter ficado claro, consertar é muito complicado. O estudo gerou uma sequela terrível, pois muita gente, inclusive profissionais da saúde, ainda o citam”, conta Isabella Ballalai, presidente da Comissão de Revisão de Calendários e Consensos da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Para se ter uma ideia de como esse movimento afetou a saúde pública, em 2000 o sarampo foi oficialmente declarado erradicado dos Estados Unidos. Contudo, em 2013, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), foram registrados no país 189 casos. Até abril de 2014, foram confirmados 115 casos. ”O problema é que nos Estados Unidos existe uma certa ambiguidade em relação à vacinação. Eles seguem um calendário de imunizações. Entretanto, quase todos os estados americanos permitem isenção da vacina por motivos religiosos. São exceção a Virgínia Ocidental e o Mississippi”, esclarece Guido Levi, vice-presidente da SBIm e autor do livro “Recusas de Vacinas — Causas e Consequências”. “Boa parte dos casos ocorre dentro da comunidade Amish (grupo com costumes conservadores), que não vacina seus filhos por motivos religiosos.”

 

Argumentos dos “Antivacinas”

 

O livro do dr. Guido explica que existe uma corrente influente que fala sobre sobrecarga imunológica mediante a administração combinada ou simultânea de vacinas, agravada pelo excesso de alumínio, albumina purificada de sangue humano e timerosal que estariam presentes nas imunizações. Com isso, as crianças seriam incapazes de responder com segurança e eficácia ao número de vacinas administradas, já que até os 2 anos elas receberiam 21 injeções contendo 33 vacinas.

Daí o conselho de certos grupos para adiar o início das vacinações para quando o sistema imunológico do bebê estiver mais “maduro”. Entretanto, o raciocínio não tem embasamento científico algum. “Os neonatos desenvolvem a capacidade de responder a antígenos estranhos a seu organismo mesmo antes do nascimento”, explica Guido. Estimando a quantidade de vacinas às quais umas criança seria capaz de responder num determinado momento, chegaríamos a um número próximo de 10 mil. “Isso significa que se 11 vacinas fossem aplicadas simultaneamente, somente 0,1% do sistema imune seria utilizado”, explica o médico.

 

Impactos dos antivacinas se alastraram pelo globo

 

Em outubro de 2011, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que a circulação do vírus do sarampo mantinha-se ativa na Europa e na África. Naquele ano, o estado de São Paulo contabilizou 26 casos da doença. “Com isso, fica evidente o risco que grupos não vacinados podem causar para a saúde pública”, reforça Levi.

Em alguns países, como Afeganistão, Nigéria e Paquistão, fundamentalistas religiosos incentivam a população a não vacinarem os filhos, com medo das vacinas conterem o vírus da aids ou causarem impotência. “Quando essas pessoas saem do país, acabam propagando a doença. Inclusive, o vírus da pólio foi encontrado recentemente no esgoto de Israel”, alerta o infectologista.

Por aqui ainda não há problemas sérios com os antivacinas. Segundo a dra. Ballalai, mesmo a recente campanha de vacinação contra o HPV, que foi motivo de tantas críticas por parte de alguns médicos e religiosos, conseguiu vacinar mais de 80% do público-alvo. “No Brasil, as pessoas ainda aceitam muito bem a imunização”, diz a médica.

Mesmo assim, é importante observar. O número de crianças com coqueluche no Brasil, por exemplo, vem chamando a atenção dos especialistas. No ano de 2012, houve 5.295 registros da enfermidade: 135% a mais que em 2011. ”Se você for procurar quem não se vacina, são, na maioria das vezes, indivíduos de classe mais alta do ponto de vista socioeconômico. A população de classe mais baixa está muito bem vacinada e participa de todas as campanhas, faça chuva ou sol”, completa Levi.

Vacine-se e vacine seus filhos.

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