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Atividade física

A saúde dos médicos não anda nada bem

médica paramentada, em hospital, de cócoras e com a mão na testa, em sinal de cansaço. A saúde dos médicos não anda bem
Publicado em 02/12/2022
Revisado em 08/12/2022

Os médicos costumam recomendar bons hábitos de vida, como a prática de atividade física e de lazer. No entanto, dados sobre a saúde dos médicos revelam que poucos cumprem o que indicam. Veja na coluna de Mariana Varella.

 

Quase todo mundo que já tenha passado por uma consulta médica escutou do profissional, independentemente da especialidade, conselhos para cuidar bem da saúde, como praticar exercícios físicos, alimentar-se de forma saudável e dormir cerca de oito horas por dia. No entanto, boa parte desses profissionais não segue as recomendações que eles mesmos dão.

É o que revela um levantamento feito pela Associação Paulista de Medicina (ABP) com 778 médicos, 62% com menos de 55 anos, que atuam no estado de São Paulo.

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Na pesquisa, 27% dos entrevistados disseram não praticar atividades físicas, e entre os que o fazem com regularidade, apenas 32% dedicam 30 minutos ou mais aos exercícios. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a prática de 300 minutos de qualquer atividade física por semana, que pode ser dividida em 1 hora em 5 dias da semana ou 40 minutos diariamente, ou 150 minutos de exercícios físicos moderados ou intensos semanalmente.

O número de médicos sedentários é mais baixo do que o da população geral: segundo a Pesquisa Nacional da Saúde (PNS) 2019, realizada pelo IBGE, cerca de 40% dos brasileiros não praticam a quantidade de atividade física recomendada pela OMS e, portanto, são considerados sedentários.

No entanto, somado a outros dados sobre a saúde dos médicos, o sedentarismo entre esse grupo revela que a saúde daqueles que cuidam dos outros não vai bem.

Quase 20% os médicos consultados pela ABP fazem uso de medicação para o controle do colesterol; 11% tomam remédios para tratar diabetes; e 24% para hipertensão, problemas de saúde que podem ser controlados ou minimizados com mudanças no estilo de vida.

Dezoito por cento afirmou já ter tido alguma doença psiquiátrica, e 30% faz uso de medicação como antidepressivo, ansiolítico ou tranquilizante.

Entre os problemas de saúde que os entrevistados relataram ter tido nos 12 meses anteriores à pesquisa estão dores musculares ou osteomusculares (49%); distúrbios do sono (48%); cefaleia (30%);  distúrbios psicológicos (21,7%); disfunções sexuais (11%); entre outros.

Os médicos consultados também sofreram com a pandemia de covid-19: cerca de 65% tiveram a doença ao menos uma vez e muitos apresentaram sintomas de covid longa.

Apesar de a pesquisa não representar todos os médicos brasileiros, alguns dados chamam a atenção para problemas relatados por inúmeros profissionais da área. A precarização dos contratos de trabalho, já que muitos médicos são contratados como pessoas jurídicas e se dividem em vários empregos, faz com que muitos trabalhem mais do que as 44 horas semanais estabelecidas na Constituição.

“Eu me divido entre dois empregos fixos, e ainda dou plantões durante alguns fins de semana, para completar a renda. Trabalho mais de 60 horas por semana, sempre sob muito estresse e sem nenhum amparo dos meus empregadores para que eu consiga lidar com as emoções e o cansaço. Nem adianta reclamar, porque todos os meus colegas estão na mesma situação”, conta o cirurgião Luís, de 37 anos, que preferiu não se identificar.

O excesso de trabalho, muitas vezes em más condições e sob pressão, é apontado pelos médicos como um dos motivos que os impede de dispor de horas de lazer para cuidar de si e da família. Na pesquisa citada, 24,2% disseram trabalhar 60 horas ou mais por semana, 25% até 50 horas e 24,6% trabalham até 40 horas semanais. Quase 25% afirmaram não tirar férias todos os anos, e 26% gastam até 2 horas em deslocamentos diários ao trabalho.

 

Saúde mental e burnout

 

A saúde mental dos médicos é um tema que chama a atenção de especialistas há vários anos. Uma revisão da literatura científica compreendendo 17 artigos publicados entre 2000 e 2014 incluiu um estudo que contabilizou 14 suicídios de estudantes da profissão em uma universidade austríaca, dentro de um intervalo de 4,5 anos, o que dá cerca de três casos por ano.

Os autores da revisão citam um estudo realizado na Alemanha em 2012 que menciona que a taxa de suicídios em médicos é de três a cinco vezes superior à da população geral.

No Brasil, em cinco meses entre final de 2017 e início de 2018, uma mesma faculdade de Medicina registrou o suicídio de cinco estudantes.

Entre as causas apontadas na revisão, estão a falta de tempo para o lazer e para o contato com amigos, familiares e parceiros e parceiras amorosos, carga acadêmica e de trabalho exaustivas, crescente clima de competição, baixa recompensa profissional, entre outros que ajudam a aumentar o risco de problemas de saúde mental.

Um levantamento realizado pelo site Medscape em 2020 com 2475 médicos, que responderam anonimamente a questionários online, mostrou que um em cada 10 médicos pensou em abandonar a carreira devido à síndrome de burnout provocada por más condições de trabalho, excesso de horas trabalhadas e pouco reconhecimento profissional.

Outra pesquisa, feita com 3.489 médicos de todo o país, revelou que um em cada três profissionais apresentou sintomas de burnout, quase 70% dos médicos já apresentaram sinais de depressão e 80% tiveram sintomas de transtorno de ansiedade. Quase metade dos médicos entrevistados afirmou que suas instituições empregadoras não limitam jornadas de trabalho maiores do que 24h de modo ininterrupto.

Como os dados sobre a saúde dos médicos revelam, não basta apenas saber que é necessário adotar bons hábitos para prevenir doenças e ter mais qualidade de vida. É preciso ter condições de trabalho e de vida que permitam viver melhor.

Se isso vale para todas as pessoas, de qualquer profissão, deveria ser mandatório para o exercício da medicina, ainda mais considerando que os profissionais de saúde têm, inúmeras vezes, a vida dos outros nas mãos.

 

* Se você precisa de ajuda e quer conversar, entre em contato com CVV pelo número 188 ou pelo site https://www.cvv.org.br/. O atendimento funciona 24 horas por dia, todos os dias. Não hesite em buscar atendimento médico e psicológico ou um grupo de apoio.

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