Com o passar dos anos, nossas células também envelhecem e têm mais dificuldade de combater as mutações celulares. Entenda como isso influencia no surgimento de tumores.
Quando conversamos com médicos especialistas em câncer, ou analisamos as recomendações da OMS acerca da doença, o envelhecimento sempre aparece como um dos principais fatores de risco. De acordo com os dados da American Cancer Society e do Instituto Nacional de Câncer (Inca), aproximadamente 60% dos tipos de câncer acometem pessoas com 60 anos ou mais.
Um estudo realizado em 2020 pela Economist Intelligence Unit (EUI) mostrou que, para cada 100 mil pessoas na faixa de idade de 40 a 54 anos, a incidência de câncer é de 238 casos. Quando a faixa etária avança, na casa dos 55 aos 69 anos, chegamos a 731 casos. Pulmão, próstata, mama e intestino são os órgãos mais acometidos.
Mas afinal, por que isso acontece?
De acordo com a oncologista clínica e professora Maria Del Pilar, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), assim como nós envelhecemos com o passar dos anos, nossas células também envelhecem e têm mais dificuldade de combater as mutações celulares.
“Essas células alteradas passam a receber instruções erradas para as suas atividades e não respeitam os limites de seus órgãos de origem, chegando assim até a corrente sanguínea e atingindo outros órgãos e tecidos”, explica a médica.
Estresse oxidativo
Outro fator importante nessa conta é o chamado estresse oxidativo. Nossas células produzem resíduos celulares denominados radicais livres, e o excesso dessas substâncias pode danificar estruturas celulares, incluindo DNA e membranas. Se a produção ultrapassar a capacidade do corpo de controlá-los, teremos o estresse oxidativo como resultado.
É importante destacar que o estresse oxidativo é um processo inerente do organismo, que ao longo dos anos vai conseguindo equilibrar essa cadeia e nos livrar de uma série de doenças, não só o câncer.
Também é fundamental lembrar que alguns fatores externos controláveis, como excesso de exposição solar, poluição e alimentos ultraprocessados, aumentam a produção de radicais livres e tornam o ambiente ainda mais favorável para o surgimento de mutações celulares.
“Com o passar dos anos, também temos uma redução da eficiência da imunidade. Quando o organismo é mais jovem, assim que o sistema imune reconhece uma célula invasora ele vai lá e ataca. Outra característica do envelhecimento é a inflamação dos tecidos, o que torna o ambiente altamente favorável para a ocorrência de mutações”, afirma Pilar.
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O tratamento pode ser mais difícil
Em entrevista à revista do Inca, o médico pesquisador da entidade Luiz Claudio Santos Thuler, que coordenava uma pesquisa sobre envelhecimento e câncer na instituição, revelou que numa avaliação com 40 mil pacientes de câncer de pulmão, em todo o Brasil, aqueles acima de 70 anos recebem 39% menos quimioterapia, 31% menos cirurgia e 14% menos radioterapia.
Para o pesquisador, isso acontece, de modo geral, por conta do excesso de cuidado do oncologista com o paciente da terceira idade, que geralmente apresenta comorbidades como doenças preexistentes (diabetes e pressão alta, por exemplo), além de quadros de desnutrição e sarcopenia (redução da massa muscular). Com o organismo já debilitado, vão surgindo novos sintomas em decorrência do tratamento oncológico, como boca seca, náuseas e mucosite, o que dificulta o sucesso do tratamento em si.
“Se as comorbidades estão controladas, o idoso pode receber um tratamento mais adequado ao seu quadro, sem tantas restrições”, argumenta Thuler.
É possível prevenir um câncer?
Querendo ou não, nosso estilo de vida interage com nossa genética de uma maneira importante. Portanto, quanto mais cedo adquirimos hábitos de vida saudáveis, como uma alimentação mais natural, evitando alimentos ultraprocessados, diminuição de exposição solar e poluição, e incorporação de atividades físicas no dia a dia, melhor. Nosso corpo não nasceu para ficar parado.
Mas lembre que nada disso é garantia para uma vida sem câncer, embora ajude a evitar doenças crônicas como diabetes e pressão alta, e também melhore a qualidade de vida.
“Trabalhe para aquilo que você consegue modificar, que são seus hábitos de vida. Não fumar e não beber em excesso já são atitudes muito positivas”, complementa a professora Maria Del Pilar.
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