Pesquisa com 700 mulheres em seis capitais do país mostrou que 66% das entrevistadas não relacionam o HPV com o câncer de colo do útero.
O câncer de colo do útero é um dos mais incidentes no país, ficando atrás somente do de mama. Entretanto, no Norte, Centro-Oeste e Nordeste, esse tipo de câncer é o mais prevalente, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Um dos motivos é sua correlação com o HPV (papilomavírus humano), que está presente em praticamente 100% dos casos da doença.
Apesar de alta prevalência, uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) a pedido da Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia (ABPTGIC), em que foram ouvidas 700 mulheres em seis capitais do país, mostrou que 66% das entrevistadas não relacionam HPV e câncer de colo do útero. “No levantamento, podemos verificar que ainda paira o desconhecimento em torno desse assunto, já que 17% das mulheres nunca ouviram falar de HPV, da vacina como forma de prevenção e nem da utilização de preservativos durante a relação sexual para evitar o contágio. Por isso, prevenir o vírus é fundamental”, diz o médico ginecologista Garibalde Mortoza, presidente da ABPTGIC.
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Relação entre HPV e câncer de colo do útero
Para explicar melhor a relação do HPV com a incidência de câncer, o professor Newton Sérgio Carvalho, chefe do Departamento de Tocoginecologia (DTG) da Universidade Federal do Paraná, faz uma analogia com a preparação de um bolo. “Para você fazer um bolo de chocolate você precisa ter chocolate, óbvio. Agora, com um punhado de chocolate sozinho você não consegue fazer a receita, já que é necessário farinha, açúcar, leite. Então, com o ‘bolo do câncer de colo de útero’ é a mesma coisa. O chocolate seria o HPV, mas só ele não basta. Então, precisamos de um HPV oncogênico, que não vai embora, aliado a outros fatores de risco, como tabagismo e uso prolongado de anticoncepcionais”, esclarece o médico.
Existem mais de 130 tipos diferentes de HPV, mas somente 15 são considerados de alto risco e estão associados ao desenvolvimento do câncer. O professor adjunto do Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) destaca que cerca de 90% da população mundial entram em contato com esse vírus em algum momento da vida, mas a grande maioria consegue combatê-lo. O risco de câncer surge nos casos em que a infecção não é eliminada espontaneamente e se torna persistente. Dessa forma, as lesões que o HPV provoca podem se agravar, com sintomas como sangramento vaginal intermitente ou após a relação sexual e presença de secreção vaginal anormal. Sem tratamento, a lesão pode dar origem a um câncer.
Mulheres devem fazer papanicolaou regularmente
A pesquisa apontou também que 18% das brasileiras nunca fizeram um papanicolaou (13% fizeram somente uma vez), o que, segundo os médicos, é extremamente preocupante, já que o exame é uma das maneiras mais eficazes de diagnosticar e prevenir o surgimento do câncer de colo do útero. Apesar de estar disponível em toda a rede pública, 40% das mulheres não acham que exames de rotina podem servir como forma de prevenir a doença. “A mulher deve fazer esse exame um ano após o início da atividade sexual. O intervalo se explica porque se ela pegou o vírus logo na primeira relação, existe um período para que as células se alterem. No Brasil, a recomendação é que o papanicolaou seja feito anualmente. Se os resultados vieram normais e sem processos inflamatórios, a mulher deve fazer o próximo somente três anos depois”, esclarece o professor Newton Carvalho.
Vídeo: A partir de que idade se faz o papanicolaou?
Vacina do HPV
Tendo em vista a forte relação entre HPV e câncer de colo do útero, uma das formas mais eficazes de se prevenir é não contrair o vírus. Nesse sentido, a vacina contra o HPV é outro método importante de prevenção. No SUS, a vacina é oferecida para meninas de nove a 14 anos, meninos de 11 a 14 anos, pessoas que vivem com HIV e transplantados entre nove e 26 anos (desde que estejam em acompanhamento médico).
A vacina tem duas doses, com a segunda seis meses após a primeira. Para pessoas com HIV e transplantados, são três doses no esquema 0, 2 e 6 meses.
Também é possível encontrar a vacina em clínicas particulares, geralmente em três doses que podem chegar a R$ 800.
Vídeo: Dr. Drauzio explica por que a vacina é importante também para os meninos