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Atividade física

Exercício físico piora a ansiedade?

Publicado em 10/09/2024
Revisado em 20/09/2024

Exercícios físicos regulares promovem diversos benefícios, tanto para a saúde física como mental, mas às vezes podem ter efeito oposto e piorar a ansiedade.

 

A prática regular de exercícios físicos ajuda a reduzir os sintomas da ansiedade, apontam diversos estudos publicados nos últimos anos. Essa melhora ocorre em parte porque o esporte estimula a liberação de endorfinas e neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, que estão diretamente relacionados às sensações de bem-estar e tranquilidade.

Embora exista essa relação positiva, a conexão não é universal. Em alguns casos, o exercício pode ter o efeito oposto e aumentar a sensação de ansiedade, especialmente em indivíduos que já sofrem de transtornos – como a síndrome do pânico, caracterizada por crises súbitas de ansiedade intensa – ou naqueles que tendem a se comparar excessivamente com os outros.

No caso da síndrome do pânico, dois dos sintomas são a taquicardia (coração acelerado) e o aumento da frequência respiratória. Quando alguém pratica algum tipo de esporte, os sistemas cardiovascular e respiratório são ativados, fazendo o coração bater mais rápido para abastecer os músculos do sangue com oxigênio e a respiração ficar acelerada, reações parecidas com a condição.

“Muitas vezes a pessoa acaba confundindo o sintoma da atividade física com aquele sintoma que já tem quando ocorre uma crise de ansiedade, porque a ativação fisiológica é semelhante, não igual. Então isso pode deixar a pessoa com ansiedade maior ainda”, explica Gilberto Gaertner, coordenador da especialização de psicologia do esporte e neurociências da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). 

        Veja também: Ansiedade noturna: por que algumas pessoas se sentem mais ansiosas na hora de dormir?

 

Causas para a piora da ansiedade

Um dos motivos que levam pessoas a procurar uma atividade física é a busca por mais qualidade de vida, já que o esporte reduz o estresse, ajuda no controle do peso, colabora com a saúde mental, entre outros benefícios. No entanto, alguns indivíduos passam a se comparar com outros e colocar metas irreais, o que pode gerar o efeito oposto do esperado.

Um exemplo é aquele corredor amador que entra em um grupo de corrida e percebe que não corre tão bem quanto o colega, ou então o indivíduo que inicia na musculação e nota que outro praticante consegue ficar com uma forma física melhor em menos tempo. 

“Quando eu comparo o meu processo com o processo de outras pessoas, é uma receita perfeita para você se estressar. Aquela atividade que poderia ser muito prazerosa passa a ser estressante e, muitas vezes, iniciar ansiedade também”, diz Gaertner. 

Se há muita pressão envolvida ou metas difíceis de alcançar, o exercício pode gerar frustração e desmotivação, segundo Zair Cândido de Oliveira Netto, coordenador do curso de educação física da Universidade Positivo, que são emoções negativas para quem quer ter a atividade física como aliada da saúde mental.

“O estresse gerado por conta da pressão pode ser um fator de abandono para pessoas que têm algum tipo de síndrome cognitiva, social ou psicológica, e é ainda mais complicado para quem já sofre com a ansiedade, pois a pressão extra pode aumentar o estresse e fazer com que a pessoa se sinta inadequada ao ambiente”, explica.

Além disso, exercícios intensos sem descanso adequado podem gerar sobrecarga muscular e articular, comprometendo a capacidade de manter a atividade física no longo prazo, segundo Thais Bulek, especialista em medicina do esporte e personal trainer. “Pode ocorrer o que chamamos de overtraining, que é uma combinação de treino excessivo e recuperação inadequada, que podem suprimir o sistema imunológico, aumentando o risco de infecções como gripe e resfriados por exemplo.”

 

Estratégias para minimizar o impacto negativo 

Para evitar que a prática de atividade física tenha o efeito contrário ao esperado, o ideal é que os exercícios físicos sejam adaptados às necessidades e preferências de cada pessoa, segundo os especialistas. Além disso, há algumas práticas que podem ajudar a diminuir os sintomas de ansiedade que possam aparecer.  

“Apesar dos seres humanos terem a mesma fisiologia, os processos fisiológicos são muito variáveis. Seja por conta de características genéticas, ambientais ou culturais, as atividades físicas devem ser prescritas conforme o perfil de cada um”, comenta Oliveira Netto. 

Exercícios leves: Para quem já sofre de ansiedade ou síndrome do pânico, segundo Oliveira Netto, o ideal é começar com exercícios que ajudem a acalmar e relaxar, como aeróbicos moderados, evitando atividades que tenham muito barulho, espaços com pouca iluminação, salas menores e com muitos alunos fazendo atividade ao mesmo tempo. “Caminhadas ao ar livre, uma pedalada leve, ou uma natação tranquila são ótimos, pois ajudam a melhorar o humor sem sobrecarregar o corpo.” 

A recomendação, segundo Gartner, é fazer um trabalho progressivo, de modo a experimentar as atividades fisiológicas naturais promovidas pelo exercício e conseguir diferenciar dos estímulos desencadeados de forma involuntária. “Muitas vezes um trabalho de psicoterapia associado à iniciação ao exercício ajuda muito na questão da autopercepção.”

Metas individuais: Gaertner recomenda ainda que a pessoa que costuma se comparar com os colegas substitua o comportamento por metas de desempenho para ela própria, sem depender do outro. “O fato de a pessoa estar auto-referenciada e não referenciada no outro faz muita diferença.” Também nesse caso, fala, a psicoterapia pode ajudar.

Relaxamento da mente e do corpo: Ioga e pilates, segundo Thais, são outras práticas indicadas, “pois combinam o movimento do corpo com técnicas de respiração ajudando a diminuir a ansiedade”. Os alongamentos, de acordo com Netto, são positivos também, já que têm “movimentos amenos e respiração controlada, que podem reduzir a tensão e acalmar a mente”.

        Veja também: Como os exercícios físicos ajudam na saúde mental?

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