IMC e as medidas da saúde - Portal Drauzio Varella
mulher de perfil mede circunferência abdominal
Publicado em 24/02/2025
Revisado em 24/02/2025

Estudos mostram que o índice de massa corpórea, o IMC, não deve ser a única medida para diagnosticar sobrepeso e obesidade. Leia no artigo do dr. Drauzio.

 

O Índice de Massa Corpórea (IMC) tem sido usado para caracterizar a composição do corpo. Calculado pela relação peso/altura ao quadrado, o IMC divide mulheres e homens adultos em quatro categorias.

O IMC abaixo de 17,9 é considerado subnutrição; de 18 a 24,9, peso saudável; de 25 a 29,9, sobrepeso; e acima de 30, obesidade.

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A obesidade costuma ser subdividida em três faixas: de 30 a 34,99 está no grau 1; de 35 a 39,9, no grau 2; e acima de 40, no grau 3.

O IMC foi criado com o objetivo de estratificar o risco médio de problemas de saúde de populações, uma vez que valores mais elevados guardam relação com a síndrome metabólica, riscos de diabetes, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, resistência à insulina e certos tipos de câncer, além de outras condições patológicas.

No entanto, a simplicidade do cálculo baseado apenas em duas variáveis (peso e altura) ganhou popularidade também para a avaliação dos riscos individuais – aplicação não prevista nas publicações originais.

Sempre houve críticas ao uso generalizado do IMC para calcular riscos pessoais, por diversas razões:

1. O IMC não leva em conta a distribuição de gordura no corpo. Há décadas sabemos que os corpos em forma de maçã, nos quais a gordura se concentra no abdômen, correm maior risco de problemas cardiovasculares do que aqueles em formato de pera, com a gordura acumulada principalmente nos quadris.

2. O IMC não considera idade, sexo, raça, nem faz distinção entre pré-menopausa e pós-menopausa. Os asiáticos, por exemplo, correm mais riscos dos problemas de saúde característicos da obesidade, ainda que estejam com IMCs de sobrepeso.

3. Além de não avaliar a distribuição de gordura corpórea, o IMC não distingue o peso dos diferentes tecidos do organismo: ossos, músculos, água, gordura. A massa magra tem densidade maior do que o tecido gorduroso e, por isso, uma pessoa musculosa tende a ter IMC mais elevado.

4. O IMC foi pensado atribuindo-se ao corpo humano a forma de um cilindro, mas a conformação não é mesma para todos (brevilínios, longilíneos ou normolínios).

5. Na clínica, encontramos pessoas com IMC na faixa de peso saudável que apresentam hipertensão arterial, glicemia acima de 100 e níveis de colesterol elevados.

6. Um estudo realizado nos Estados Unidos em 2016, que avaliou 75 milhões de participantes, mostrou número expressivo de pessoas mal classificadas como cardiometabolicamente saudáveis ou não.

Para aumentar a sensibilidade, o melhor é medir também a circunferência no nível dos quadris. O ideal é que a relação entre a circunferência abdominal e a dos quadris seja menor que 0,9 nos homens e 0,8 nas mulheres.

Nas maratonas, vemos mulheres e homens de braços e pernas grossas e troncos musculosos que, pela aparência e pelo IMC, poderiam ser classificados como obesos. Mas alguém capaz de correr 42 quilômetros teria risco aumentado de transtornos cardiovasculares?

Contradições como essas levaram os especialistas a procurar outros critérios para a avaliação de risco que considerassem a distribuição do tecido adiposo.

O interesse concentrou-se na gordura concentrada no abdome, localização escolhida por guardar relação com aquela acumulada entre as vísceras da cavidade abdominal, sabidamente associada a transtornos metabólicos que aumentam a probabilidade de doenças cardiovasculares, resistência à insulina, diabetes tipo 2 e hipertensão arterial.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a circunferência abdominal seja medida ao redor da parte mais estreita do abdome (próxima do umbigo) ou no ponto médio entre o rebordo costal inferior e a crista ilíaca.

Anteriormente, valores abaixo de 102 centímetros para homens e 88 centímetros para mulheres eram considerados ideais. Contudo, estudos mais recentes consideram 94 centímetros e 88 centímetros, respectivamente. São valores mais precisos.

Para aumentar a sensibilidade, o melhor é medir também a circunferência no nível dos quadris. O ideal é que a relação entre a circunferência abdominal e a dos quadris seja menor que 0,9 nos homens e 0,8 nas mulheres.

O Instituto Nacional de Excelência em Cuidados em Saúde do Reino Unido considera que a circunferência abdominal não deve ultrapassar a metade da altura. Um homem de 1,70 metro deveria ter circunferência abdominal de 85 centímetros, no máximo.

Como conciliar tais dados? Esses parâmetros são importantes para o diagnóstico de obesidade, excesso de peso ou peso saudável, mas a avaliação clínica é fundamental.

Só ela permite a análise conjunta desses dados com os exames de laboratório, o histórico familiar, a dieta, o grau de atividade física e as condições socioeconômicas – informações que permitem estimar os riscos com muito mais acuidade. •

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