A Organização Mundial da Saúde estima que exista no mundo 1 bilhão de pessoas com enxaqueca. Cerca de 20 milhões delas sofrem de enxaqueca crônica. Leia no artigo do dr. Drauzio.
Tem gente que chama de enxaqueca qualquer dor de cabeça. Está errado. Enxaqueca não é uma cefaleia qualquer, mas uma patologia com características próprias. É o transtorno neurológico mais frequente na população, responsável pela segunda causa de incapacitação no mundo.
As crises costumam durar de 4 a 72 horas e são, geralmente, acompanhadas de náuseas, fotofobia e intolerância aos sons. A imagem da pessoa trancada no quarto escuro, em silêncio, ilustra bem a dificuldade em suportar esses estímulos.
Veja também: Sua dor de cabeça pode ser enxaqueca?
Para fazer o diagnóstico, além da dor, são necessárias pelo menos duas das seguintes queixas: 1) localização em um lado só da cabeça (unilateral); 2) intensidade moderada ou forte; 3) latejamento; 4) piora com a atividade física.
Em cerca de 25% dos casos, a dor é precedida por uma aura. As auras podem ser visuais (enxergar pontos brilhantes ou escuros ou redução temporária da acuidade visual), olfatórias (um perfume ou cheiro especial), gustativas (gosto metálico ou amargo), transtornos de linguagem, sensação de choque, adormecimento ou fraqueza muscular em alguma parte do corpo.
Nos casos crônicos, a aura permite prever a crise que virá.
A enxaqueca pode ser episódica ou evoluir para a cronicidade. Na crônica, a cefaleia costuma ser mais intensa, duradoura e incapacitante do que na episódica. A intensidade da dor explica o absenteísmo no trabalho, a procura de unidades de pronto atendimento e interfere com o cotidiano familiar, social, comprometendo a qualidade de vida.
A enxaqueca crônica aumenta o risco de ansiedade, depressão, insônia, asma, obesidade, altera os limiares de percepção da dor, causa distúrbios metabólicos, traumas na cabeça e no pescoço, além de poder gerar dificuldades escolares e financeiras.
É muito importante que os medicamentos sejam administrados ao surgir os primeiros sintomas. Nos casos com aura eles devem ser tomados assim que aparecerem os primeiros sinais, de preferência antes que a dor se instale.
Aproximadamente 2% a 3% dos pacientes com enxaqueca episódica, ocasional, evoluem para a cronicidade a cada ano que passa.
Correm mais risco aqueles que sofrem de outros tipos de dor de cabeça por mais de dez dias em cada mês.
A evolução para quadros crônicos é oito vezes mais frequente quando há o uso excessivo de analgésicos, como dipirona, paracetamol, e anti-inflamatórios, por mais de 15 dias durante o mês. Nesses casos, a diminuição ou suspensão dos medicamentos reduz o risco de cronicidade.
O tratamento tem dois objetivos: prevenir crises e diminuir a intensidade e a duração delas.
O tratamento preventivo não costuma acabar com a enxaqueca, mas diminui a frequência, a duração e a intensidade das dores. A redução de pelo menos 50% dos episódios é considerada uma boa resposta à medicação.
Dos medicamentos utilizados por via oral, os mais prescritos são os betabloqueadores, os antiepiléticos e algumas classes de drogas empregadas para controlar a hipertensão arterial. Todos estão disponíveis nas farmácias a baixo custo.
Nos últimos anos foram lançados no comércio internacional outras classes de drogas com resultados mais impactantes, mas a um custo bem mais alto.
O tratamento na fase aguda, quando surgem as crises, envolve analgésicos, anti-inflamatórios, a classe dos triptanos e de algumas drogas mais recentes (egeplants e ditans).
Pela disponibilidade e relação custo-benefício favorável, os triptanos são os mais empregados. Eles reduzem a dilatação dos vasos sanguíneos cerebrais – mecanismo ligado ao aparecimento das dores.
A vasoconstrição reduz a velocidade de transmissão do estímulo doloroso e inibe a liberação de mediadores associados à inflamação neuropática que dá início à dor. Os triptanos mais prescritos em nosso meio são o naratriptano, o sumatriptano e o rizatriptano.
É muito importante que os medicamentos sejam administrados ao surgir os primeiros sintomas. Nos casos com aura eles devem ser tomados assim que aparecerem os primeiros sinais, de preferência antes que a dor se instale.
Quando a cefaleia for leve é preciso cuidado para não exagerar na medicação, uma vez que o uso excessivo pode agravar o quadro.
Tratamentos não medicamentosos, como a terapia comportamental cognitiva e a neuromodulação com o uso de equipamentos especiais costumam ser associados à medicação.
A Organização Mundial da Saúde estima haver no mundo 1 bilhão de pessoas com enxaqueca. Cerca de 20 milhões delas sofrem de enxaqueca crônica.