Câncer em jovens - Portal Drauzio Varella
mulher de máscara, em clínica médica, assina documento. aumenta a incidência de câncer em jovens
Publicado em 15/07/2025
Revisado em 15/07/2025

O aumento do número de casos de câncer em jovens tem levado à suposição de que a genética e outros fatores ambientais tenham importância. Leia no artigo do dr. Drauzio Varella.

 

Nos anos 1970, uma paciente de 30 anos com câncer de mama surpreendeu todos nós no ambulatório do Hospital ACCamargo. Eram raros os casos como aquele, numa mulher tão jovem.

Vinte anos depois, foram descritos os genes BRCA1 e BRCA2 que aumentam o risco de tumores malignos nas mamas, descoberta que nos ajudou a entender a incidência desse tipo de câncer em mulheres com menos de 40 anos.

Veja também: Câncer colorretal antes dos 50 anos

Nas duas últimas décadas, o mesmo tem acontecido com os cânceres de cólon e do reto, doenças que costumavam ser diagnosticadas apenas depois dos 50 anos. O número de mulheres e homens abaixo dessa idade com câncer de cólon duplicou em relação ao de 1950; no caso do câncer de reto quadruplicou no mesmo período.

Esses dados levaram a American Cancer Society a recomendar que mulheres e homens façam a primeira colonoscopia aos 45 anos – portanto cinco anos antes da recomendação anterior.

Estudos mais recentes mostram que fenômenos semelhantes se repetem em câncer de pâncreas, de estômago e em mais de 15 tipos de câncer, na população abaixo dos 50 anos.

Apesar da incidência crescente em pessoas jovens, vale lembrar que a doença ainda é mais prevalente entre os mais velhos: 88% dos pacientes são diagnosticados depois dos 50 anos. Na faixa acima de 65 anos estão concentrados quase 60% dos casos.

No Brasil, é a segunda causa de morte, atrás apenas das doenças cardiovasculares. Deixando de lado os tumores de pele não melanoma, o risco de uma pessoa qualquer receber o diagnóstico de câncer no decorrer da vida é de 40%.

Terão a doença antes dos 50 anos uma em cada 17 mulheres e um em cada 29 homens.

Tantas dúvidas têm levado à suposição de que a genética e outros fatores ambientais tenham importância.

No entanto, como explicar que a prevalência de câncer de pulmão antes dos 50 anos, esteja aumentando em mulheres que nunca fumaram? Se a geração de jovens atuais faz mais exercícios, fuma menos cigarros e talvez beba menos álcool do que a de seus pais, por que razão começariam a ter câncer mais cedo?

Como os fatores clássicos de risco para tumores malignos (fumo, álcool, obesidade, sedentarismo) não explicam completamente os números atuais, a suspeita recai sobre o estilo de vida moderno.

A dieta atual sofreu profundas modificações em relação às do século 20. O consumo exagerado de açúcar, sal, carne vermelha, refrigerantes e de alimentos ultraprocessados não para de crescer, criando uma epidemia de obesidade que atingiu grande número de países.

Entre nós, somando os adultos com excesso de peso (IMC entre 25 e 29,9) com os da faixa de obesidade (IMC igual ou maior do que 30), temos mais da metade dos brasileiros. Nos Estados Unidos, 42% da população adulta já caem na faixa de obesidade. Cerca de 10% dos americanos têm obesidade grave (IMC de 40 ou mais).

Além da obesidade, sabemos que dietas ricas nesses ingredientes e pobres em verduras, legumes e frutas interferem com o equilíbrio da flora intestinal, aumentando a probabilidade do aparecimento de microrganismos virulentos capazes de agredir a mucosa gastrointestinal. O processo inflamatório resultante dessa interação é fator de risco para o aparecimento de tumores malignos.

Esses fatores, entretanto, não conseguem explicar a razão pela qual uma população mais jovem, portanto com menos anos de exposição a eventuais agentes carcinogênicos presentes na dieta, desenvolve a doença tão cedo.

Tantas dúvidas têm levado à suposição de que a genética e outros fatores ambientais tenham importância.

Por exemplo, os microplásticos, fragmentos microscópicos de plástico presentes em quase tudo o que nos cerca: nos alimentos considerados saudáveis como maçãs e cenouras, na água, nos tecidos sintéticos das roupas, no ar que respiramos em nossas casas. Microplásticos têm sido encontrados nas paredes de nossas artérias, em vários órgãos e até no tecido cerebral.

Diante de tantas possibilidades, como podemos nos proteger? Enquanto os cientistas não apresentarem dados mais consistentes, temos que nos apegar às medidas preventivas clássicas: evitar a obesidade, praticar 30 minutos de atividade física por dia ou pelo menos cinco vezes por semana, não fumar de jeito nenhum, restringir o consumo de álcool ao mínimo e comer pelo menos cinco porções diárias de legumes, saladas ou frutas.

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