Estudo mostra que o jejum intermitente não causa perda de peso mais significativa que outras dietas. Veja na coluna de Mariana Varella.
Se você não vive isolado do mundo, certamente já ouviu falar em jejum intermitente. A internet está repleta de anúncios de sites e aplicativos que prometem a perda de peso rápida por meio desse método, que limita a alimentação a períodos que variam de 6 a 8 horas por dia.
Há diversos modelos de jejum intermitente: no mais comum, a pessoa permanece 16 horas seguidas sem comer e se alimenta nas 8 horas restantes, com alimentos de baixo índice glicêmico. Há regimes que instituem o jejum por 14, 24 e até 36 horas.
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Defensores da dieta afirmam que muitas horas sem comer acelera o metabolismo e promove a queima rápida de gordura, auxiliando, inclusive, na redução do risco de doenças como diabetes e síndrome metabólica.
Estudos com ratos e com pequenos grupos de seres humanos reforçaram a ideia de que restringir a alimentação a poucas horas diárias ajudaria a perder peso, mas há um debate na comunidade científica acerca do motivo de isso ocorrer.
As pessoas que seguem o jejum intermitente perderiam gordura porque permanecem longas horas sem se alimentar ou porque, com a restrição de horário, passam a ingerir menos calorias, como em outras dietas?
Um estudo rigoroso, conduzido na China durante um ano com 139 pessoas e publicado no “New England Journal of Medicine” parece ter encerrado a discussão. De acordo com os dados encontrados, não há diferença entre o regime de jejum intermitente e outras dietas de restrição calórica.
Os participantes do estudo, o maior e mais prolongado a respeito do tema, foram separados em dois grupos. O primeiro seguiu uma dieta de 1500 a 1800 calorias (homens) e 1200 a 1500 calorias (mulheres), e o segundo adotou a mesma dieta, mas com uma restrição: os participantes só podiam se alimentar das 8h às 16h, concentrando a ingesta de todas as calorias permitidas em 8 horas.
O primeiro grupo perdeu cerca de 8 quilos, em média, durante os 12 meses; o segundo, 6,3 quilos, uma diferença considerada irrelevante. Também foram medidos outros parâmetros, como circunferência abdominal, IMC, taxa de gordura corporal e de massa magra, pressão arterial e outros fatores de risco para síndrome metabólica, e tampouco foram encontradas diferenças significativas entre os dois grupos.
De acordo com os autores do estudo, pacientes com obesidade que se submetem a regimes que limitam o tempo de ingesta não obtêm mais benefícios do que aqueles que adotam outros regimes de restrição calórica.
Outro estudo realizado com 116 pessoas e publicado em 2020 também revelou não haver diferença entre o jejum intermitente e outros regimes. Os pesquisadores acompanharam, por 12 semanas, 116 pessoas que foram separadas em dois grupos randomizados. O primeiro fez três refeições diárias, sem restrições calóricas, e o segundo pôde se alimentar à vontade, desde que o fizesse no período do meio-dia às oito da noite. Não houve diferença importante na perda de peso entre os dois grupos.
A nutricionista Fernanda Imamura afirma que o estudo da China corrobora outras evidências científicas. “Não há benefício na perda de peso quando comparamos o jejum intermitente e outros regimes de restrição calórica”, assegura. Para a especialista, o jejum pode levar à perda de peso, mas graças à restrição calórica, e não por promover uma queima de gordura mais rápida.
Embora algumas pessoas, principalmente as que têm dificuldade de contar calorias, possam se adaptar ao jejum intermitente, ele não deve ser indicado a qualquer um. “São comuns as queixas de mal-estar, fraqueza e enjoo entre as pessoas que fazem jejum intermitente. Além disso, a restrição pode servir de gatilho para compulsões e transtornos alimentares, principalmente em adolescentes”, explica Fernanda.
Todos os dias surgem dietas novas que prometem a perda rápida de peso. Contudo, estudos mostram que aqueles que perdem peso de forma lenta e gradual têm mais chance de não voltar a engordar. Além disso, como explica a nutricionista Fernanda Imamura, o foco da alimentação deve ser sempre a saúde, e não a restrição calórica. Para isso, é preciso estabelecer uma relação saudável com a comida, para que possamos fazer escolhas alimentares melhores e com mais autonomia.
Dar preferência para alimentos in natura, escolher alimentos de boa qualidade nutricional, estabelecer quantidades que respeitem os limites de fome e saciedade e realizar atividade física regularmente continuam sendo a melhor forma de manter a saúde em dia.