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Dietas criadas por inteligência artificial: quais os riscos da prática?

pessoa sentada em frente ao computador com frutas e suco ao lado. Dietas geradas por inteligência artificial preocupam especialistas
Publicado em 01/11/2024
Revisado em 08/11/2024

Especialistas em nutrição se preocupam com carência nutricional, falta de segurança e exclusão de alguns alimentos em dietas geradas por inteligência artificial.

 

A inteligência artificial (I.A.) trouxe avanços significativos e também desafios para várias áreas, incluindo a nutrição. Atualmente, é possível acessar planos alimentares de forma prática, sem a necessidade de consultar um nutrólogo ou nutricionista. No entanto, um dos maiores riscos das dietas elaboradas por inteligência artificial é a falta de personalização, que é essencial para atender às necessidades de cada pessoa.

“Apesar de oferecer diversos recursos nutricionais, a I.A. pode não captar informações com precisão, pois essa tecnologia não garante a segurança nem considera avaliações clínicas e genéticas dos pacientes. São usados dados padronizados, sem levar em conta aspectos específicos de saúde de cada pessoa, como condições médicas preexistentes, alergias e intolerâncias alimentares”, afirma Durval Ribas Filho, nutrólogo e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

 

Como funcionam as dietas geradas por inteligência artificial? 

A princípio, as dietas geradas por inteligência artificial começam com a coleta de informações de quem deseja um programa alimentar, como idade, gênero, peso, altura, nível de atividade física, condições de saúde e preferências alimentares. Então, a partir desses dados, os algoritmos de I.A. analisam as informações e criam um plano de refeições personalizado, que inclui receitas e até listas de compras.

Em alguns casos, o usuário é incentivado a fornecer feedback sobre as recomendações, permitindo, assim, que o plano alimentar seja ajustado ao longo do tempo. “Existem vários riscos a serem considerados, incluindo preocupações éticas e questões de privacidade de dados, além de possíveis vieses nos algoritmos. Se um algoritmo apresentar falhas, isso pode resultar em recomendações incorretas, criando um desafio significativo para garantir a precisão e adequação dessas orientações”, explica Lara Natacci, nutricionista e coordenadora da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN).

 

Principais riscos do uso de I.A. em planos alimentares

Embora a tecnologia de I.A. possa fornecer um direcionamento para a definição de planos alimentares, é comum que surjam alguns riscos à saúde, principalmente sem acompanhamento de um especialista. São eles: 

Carência nutricional

Como os especialistas explicaram, geralmente, as ferramentas de inteligência artificial não conseguem analisar e ajustar com precisão carências nutricionais e a demanda calórica individual. Isso impacta as necessidades nutricionais de uma pessoa.

De maneira geral, ao contrário de um especialista em uma consulta, a ferramenta não leva em conta fatores como diabetes, hipertensão, doenças autoimunes, alergias e genética, que influenciam sobretudo as necessidades nutricionais. 

Portanto, pode criar dietas com desequilíbrios em macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras) ou micronutrientes (vitaminas e minerais), levando a deficiências ou excessos prejudiciais ao organismo.

Aumenta o risco de transtornos alimentares

Com uma vasta quantidade de informações disponíveis e sem a orientação de um profissional especializado, a I.A. corre, assim, o risco de recomendar dietas excessivamente restritivas. Isso influencia a formação de hábitos alimentares prejudiciais, consequentemente, levando a transtornos alimentares a longo prazo, como a compulsão alimentar.

Não são eficazes e seguras

Os algoritmos são eficazes na coleta e análise de grandes volumes de dados, mas não conseguem interpretar nuances clínicas nem ajustar recomendações com base em fatores específicos de saúde e bem-estar de uma pessoa. 

“A eficácia dessas dietas personalizadas depende da qualidade e abrangência das informações fornecidas pela pessoa ao alimentar os algoritmos da I.A.. Se os dados forem incompletos ou tendenciosos, as recomendações alimentares podem não atender adequadamente às necessidades individuais, levando a problemas nutricionais”, complementa Natacci.

Além disso, a longo prazo, é comum que o indivíduo se sinta desestimulado e abandone as mudanças na alimentação, afetando a adesão à dieta. Profissionais de nutrição e nutrologia desempenham um papel fundamental no suporte psicológico e emocional, ajudando os pacientes a manterem-se comprometidos com seus objetivos e a superarem desafios.

Exclusão de alimentos importantes

As dietas elaboradas por I.A. podem, assim, excluir grupos alimentares essenciais, o que compromete a variedade e o equilíbrio nutricional das refeições. 

Costumam eliminar, por exemplo, carboidratos, que são fundamentais para fornecer energia e nutrientes essenciais. Dessa forma, afeta a energia e o desempenho diário, prejudicando o funcionamento adequado do organismo. 

Promoção de dietas da moda

É comum que os algoritmos identifiquem dietas que estão em alta no momento. No entanto, elas costumam não serem sustentáveis a longo prazo além de não oferecerem benefícios nutricionais necessários para a saúde. 

Na maioria das vezes, as dietas fornecidas por I.A. visam resultados rápidos, mas ignoram a necessidade de uma alimentação equilibrada e diversificada.

Veja também: Inteligência artificial: amiga ou inimiga da saúde?

 

A inteligência artificial pode ser uma ferramenta útil?

Por fim, quando utilizada em conjunto com o acompanhamento do nutrólogo ou de um nutricionista, a I.A. pode ser mais uma ferramenta que contribui com o emagrecimento.

Com as informações corretas e a avaliação clínica, o especialista pode utilizá-la para monitorar o progresso do paciente, sugerir variações de cardápio e fornecer orientações personalizadas, baseadas em dados que possam contribuir para a perda de peso saudável.

É importante destacar que a alimentação é algo profundamente influenciado por fatores que vão além de cálculos calóricos. Questões emocionais, culturais, sociais e até mesmo genéticas desempenham um papel importante na escolha e na adesão a um plano alimentar. Portanto, a I.A. não substitui uma consulta e acompanhamento médico ou nutricional”, finaliza Ribas Filho. 

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