Também conhecida como ressaca, rebordose (ou rebordosa) é uma condição que ocorre após o consumo excessivo de álcool ou droga.
Rebordose é um conjunto de sintomas desagradáveis que afetam o bem-estar físico e mental de uma pessoa após o uso excessivo de drogas e álcool. É importante ressaltar que ela não é uma condição de saúde formalmente reconhecida, mas sim a manifestação de alguns sintomas que muitas pessoas experimentam após o contato com substâncias químicas.
Além disso, ela é desencadeada pela quantidade consumida de álcool, droga ou a combinação dos dois, e ocorre algumas horas após a ingestão. Fatores individuais, como a tolerância individual ao álcool, também podem influenciar na intensidade dos sintomas.
“O aspecto central consiste em levar a informação de que a ressaca em si já demonstra um uso nocivo. Em última instância, ela é o resultado da intoxicação aguda da substância psicoativa. Ou seja, corresponde aos efeitos deletérios de uma quantidade da substância que excede a capacidade do organismo de adaptar-se a ela”, explica a psiquiatra Janaina Cruz, professora de atenção à saúde mental da Uninove-Campus São Bernardo do Campo, em São Paulo.
Principais sintomas da rebordose
Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa e incluem: dor de cabeça, desidratação, problemas gastrointestinais, fadiga, vômito, dificuldade de concentração, vertigem e mal-estar geral, além de uma sensação de não querer mais passar por isso de novo. Algumas pessoas podem apresentar sentimentos de ansiedade e depressão durante a rebordosa.
“O abuso de substâncias químicas, sejam elas lícitas ou ilícitas, e aqui temos que incluir as medicações, podem produzir alterações de cognição, memória, concentração, o juízo para a tomada de decisões e consequentemente uma tendência maior a comportamentos de risco”, explica o psicólogo e psicanalista Reinaldo P. da Cruz, mestre em psicologia e sociedade.
Veja também: Respondendo as perguntas mais populares do Google sobre ressaca
Como a saúde mental pode ser afetada?
O uso abusivo de substâncias químicas pode afetar a saúde mental de várias maneiras. “Para entendermos como o abuso de substâncias químicas pode afetar a saúde de uma pessoa precisamos partir da premissa de que quando nos referimos à saúde, a separação mental, física e social é puramente didática. É preciso lembrar que nós não temos um corpo, nós somos um corpo. Isso quer dizer que as consequências serão sentidas em todas essas dimensões e que portanto os prejuízos serão transversais”, diz Reinaldo.
O consumo excessivo e frequente pode alterar os neurotransmissores no cérebro, causando desequilíbrios químicos que podem levar a distúrbios de humor e ansiedade. Os fatores de risco associados em indivíduos que abusam de substâncias incluem predisposição genética, histórico familiar de transtornos mentais, trauma psicológico, entre outros.
“Há também aqueles que já estão adoecidos e a droga entra como uma espécie de automedicação que apenas servirá para agravar a situação e prejudicar ainda mais a saúde dessa pessoa. Um outro grupo diz respeito às pessoas vulneráveis às substâncias psicoativas, seja por questões genéticas, epigenéticas, contextos de vida desfavoráveis e inúmeros outros fatores, em que a susceptibilidade à droga por si só é suficiente para levar ao adoecimento e desencadear o uso problemático”, explica a dra. Janaina.
Rebordosas recorrentes podem ter efeitos negativos prolongados no estado de saúde física e mental, levando ao aumento do risco de depressão, ansiedade e outros distúrbios. O ciclo de consumo em demasia e de ressaca também pode prejudicar a autoestima e a qualidade de vida geral.
Como reduzir os danos à saúde?
O período de recuperação pode variar de algumas horas a vários dias, dependendo da substância consumida e da quantidade. Durante esse período, a intoxicação pode resultar em uma ampla variedade de sintomas físicos, psicológicos e emocionais.
Durante uma ressaca, é indicado que o indivíduo mantenha uma dieta equilibrada com alimentos leves, se hidrate bastante e descanse o máximo possível. A prática de atividades físicas moderadas também é recomendada, pois exercícios podem elevar os níveis de neurotransmissores como endorfinas, serotonina e dopamina no cérebro, melhorando a sensação de bem-estar.
“Quando uma pessoa está em uma rebordose, é muito importante estar atento aos sinais que ela vai enviando do seu estado físico e mental. Hidratá-la, alimentá-la como for possível e garantir sua segurança e das pessoas que poderiam ser afetadas com alguma decisão imprudente ou inconsequente dela, principalmente em relação à condução de veículos, manuseio de objetos que ofereçam risco à integridade dela ou de outras pessoas”, aconselha Reinaldo.
Além disso, o psicólogo ressalta que a atenção às mulheres deve ser redobrada. “Quando se tratar de uma mulher em rebordose é imperativo protegê-la dos efeitos nefastos do machismo que podem se traduzir em outros modos de abusos, até que ela possa gradualmente se restabelecer.”
Apesar de todas as orientações, a maneira mais eficaz de prevenção é reconhecer e obedecer aos seus próprios limites. Ainda assim, se alguns sintomas persistirem mesmo após o efeito das substâncias químicas terem passado, é recomendável procurar ajuda médica.
Veja também: Como o álcool age no organismo? | Coluna #80
Como conscientizar a sociedade do consumo excessivo de álcool e drogas?
Estratégias de prevenção e educação são fundamentais para reduzir os danos relacionados à rebordosa. Isso inclui campanhas de conscientização sobre os perigos do consumo excessivo de álcool e drogas, a promoção de hábitos de vida saudáveis, o acesso a tratamento para problemas de abuso de substâncias e o apoio às pessoas que lutam contra a dependência.
Adicionalmente, programas de educação sobre saúde mental podem ajudar a identificar e tratar precocemente problemas de saúde associados ao uso de substâncias, tanto físico ou mental.
“Precisamos ampliar a discussão do uso e do abuso de drogas. Esse debate é transdisciplinar. Enquanto o tema for um tabu ou enquanto for tratado sem incluirmos uma chave de leitura social nós estaremos aquém de conseguirmos estabelecer estratégias preventivas ou de promoção de práticas e comportamentos mais saudáveis”, conclui Reinaldo.