Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA) são produzidos por combustão incompleta e são tóxicos para os seres humanos, podendo causar problemas respiratórios, circulatórios e até câncer.
Na dinâmica social em que vivemos, sofremos a ação de diversos compostos químicos diariamente, e você já deve imaginar que boa parte deles está, por exemplo, na poluição do ar. Uma das categorias de substâncias tóxicas a que estamos expostos diariamente são os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), e eles estão presentes, sim, na poluição, mas também em diversos outros locais, como em alimentos, na fumaça do cigarro, e até naquela fumaça produzida pela churrasqueira num churrasco de domingo.
HPA é, na verdade, uma sigla muito pequena para uma diversidade de mais de cem diferentes compostos presentes no ambiente. Eles são gerados por combustão incompleta, ou seja, quando não se consome todo o combustível, e são liberados monóxido de carbono e água. De acordo com Adelaide Nardocci, professora do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP, os HPA existem naturalmente no meio ambiente, formados, por exemplo, por queimadas espontâneas na floresta, porém, a maior fonte deles são atividades humanas.
Os HPA, uma vez produzidos por queima incompleta, estão presentes em diversos espaços humanos. O principal deles é o trânsito, pela queima de combustível dos veículos. O cigarro também é uma grande fonte de HPA, seja para quem fuma ou para as pessoas no entorno. Porém, essas substâncias também podem estar presentes na água, no solo, em agrotóxicos, tintas, e em alimentos.
“A exposição aos HPA é mais alta em alimentos gordurosos e alimentos defumados. A fumaça que vem da queima de madeira para defumação impregna esses alimentos; quando a gente faz o churrasco, a própria queima da gordura da carne vai produzir e aumentar a concentração desses contaminantes. Os HPA são substâncias que chamamos de lipofílicas, que têm uma afinidade que se acumular em tecidos gordurosos, como a carne e o leite”, explica Nardocci.
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Implicações para a saúde
O problema da exposição aos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos é que eles são tóxicos à saúde humana, e podem impactar o sistema respiratório, circulatório, endócrino, renal e até mesmo o DNA. “A gente conhece melhor alguns desses hidrocarbonetos que outros. Por exemplo, o benzopireno é um dos mais estudados, e essas substâncias produzem efeitos. Alguns deles têm tantos efeitos que a gente chama de toxicidade sistêmica. Alguns podem causar problemas respiratórios, renais, e alguns também são carcinogênicos”, afirma a professora.
Em relação aos problemas sistêmicos, Nardocci explica que os HPA são capazes de danificar o caminho pelo que passam no corpo. “Essas substâncias estão no que a gente chama de partículas do ar fino. Uma vez em contato com o sistema respiratório, elas vão ser absorvidas e vão causando lesões no caminho delas. Os danos podem variar desde infecções respiratórias a comprometimento das artérias.”
Já o câncer, a mais temida capacidade dos HPA, pode ser causado por essas substâncias de duas formas no organismo, explicadas pela professora Nardocci: “A gente conhece hoje dois modos principais de ação dessas substâncias no organismo do ponto de vista de carcinogenicidade. Uma delas é quando os HPA são absorvidos pela corrente sanguínea, e podem produzir um dano no DNA. E as células, que estão em constante mutação, podem ter uma falha de reprodução, processo que pode evoluir para um tumor”.
A outra via conhecida, segundo a especialista, é causada pelo fato de os HPA terem moléculas policíclicas. “Algumas substâncias têm a capacidade de enganar os receptores do sistema endócrino, ou porque elas têm um anel aromático, que o receptor pensa que é um hormônio, ou porque têm uma molécula muito grande que bloqueia o receptor e impede que ele consiga se ligar. Esse processo provoca uma série de alterações no funcionamento do nosso sistema endócrino, o que pode levar a efeitos negativos da saúde que vão desde doenças endócrinas, metabólicas, obesidade, diabetes, até a vários tipos de câncer.”
Cigarro, trânsito e políticas públicas
Como publicado recentemente no Portal, 30% das mortes por câncer são causadas pelo cigarro, e isso também está relacionado aos HPA. Como você já entendeu, essas substâncias são potencialmente carcinogênicas, e são encontradas no cigarro. Segundo documento da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, a concentração de benzopireno na fumaça emitida pela ponta do cigarro aceso varia de 52 a 95 ng por cigarro, mais do que três vezes a concentração na fumaça exalada pelo fumante. “A fumaça do cigarro produz uma gama enorme de substâncias tóxicas, mais de 300, entre elas os HPA, que são produto da queima”, afirma Nardocci.
Várias formas de exposição aos HPA são coletivas e regularmente aceitas pela sociedade, como o uso de agrotóxicos, de veículos movidos a combustão, e pelo uso do cigarro, por exemplo. A professora Nardocci fala sobre a importância de olhar para a toxicidade de substâncias como um todo: “Pensar em políticas políticas de controle de exposição, o que a gente chama de políticas de segurança química, que busquem minimizar ao máximo a exposição ambiental de contaminantes que têm reconhecido o efeito tóxico à saúde é importante. Mas isso tem que estar dentro de um contexto que precisa de coerência e evitar também outras substâncias químicas tóxicas além dos HPA”.
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