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Saúde pública

As árvores afetam nossa saúde? Saiba como

praça com banco e árvore ao fundo. Veja por que as árvores fazem bem à saúde.
Publicado em 22/08/2023
Revisado em 01/10/2024

Os seres humanos estão inseridos em um ecossistema em que as árvores colaboram para a manutenção da saúde física e mental. Veja por que as árvores fazem bem à saúde.

 

A resposta consensual para a pergunta que você leu no título é “sim”. Apesar dos enganos, o ser humano necessita da natureza e de outros seres vivos para viver bem. E, talvez, especialmente das árvores. De acordo com o relatório de 2021 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), até 7 milhões de mortes no mundo acontecem por causa da poluição do ar, que pode ser diminuída pela fotossíntese das plantas. Além disso, as árvores são capazes de melhorar a nossa saúde mental, a capacidade de recuperação de doenças e de regular o clima, e sua preservação evita a propagação de novas doenças.

Apesar de muito importante para a saúde e preservação da vida humana, a relação da civilização com as árvores não é de equilíbrio. Segundo dados do Monitor da Floresta PlenaMata, em 2022, 600 milhões de árvores foram derrubadas na Amazônia Legal. De acordo com Deiwisson Santos, engenheiro florestal do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, com sede no Amazonas, “90% da madeira que é vendida e comercializada em toda a Amazônia Legal não é advinda de plano de manejo, mas de extrações Ilegais, que não levam em consideração o potencial regenerativo local, gerando impactos significativos e por vezes irreversíveis”.

Porém, de acordo com Santos, o problema não está na extração de madeira, mas sim na ilegalidade, já que é possível realizar essa ação de maneira sustentável. “É inevitável que o ser humano tenha que extrair madeira em algum momento da sua vida. Mas nós temos uma forma prevista em lei, totalmente embasada no código florestal, que é o plano de manejo. Digamos que você quantificou 100 árvores em uma área, você vai tirar, no máximo, 10% delas. Dessa maneira, se extrai um recurso da floresta, sem comprometer a sua capacidade regenerativa”, explica o engenheiro florestal.

Porém, com a extração ilegal de madeira, as consequências são diversas para o ecossistema local, para o meio ambiente como um todo, e também para a saúde humana. Santos afirma: “Se você tem uma área que não consegue mais se regenerar, isso vai causar um impacto direto, principalmente no microclima da região, que vai tender a ficar mais quente, a desregular o período chuvoso e a aumentar também o crescimento de espécies que são vetores de doenças infecciosas”.

O médico patologista e professor da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Saldiva, fala sobre a relação da preservação das árvores e doenças infecciosas: “A maior parte do desmatamento ocorre por meio de queimadas ilegais. Isso leva a acontecer crises climáticas. E, com isso, a proximidade com agentes infecciosos guardados no meio do mato e que podem ‘pular’ para dentro das pessoas. As árvores também reduzem a temperatura da superfície e, consequentemente, as inundações e a chance de que microrganismos que moram nas vias de condução, como leptospirose e viroses, atinjam as pessoas”, explica.

        Veja também: Os efeitos da poluição sobre a saúde

 

Outras consequências para a saúde

A presença das árvores também contribui para a saúde mental e para o aumento da imunidade das pessoas. Ainda segundo o dr. Saldiva, os seres humanos têm o que é chamado de “biofilia”, uma afinidade com a natureza que foi muito útil para a evolução da espécie. “Quando a gente tinha que sair para caçar ou coletar frutos, a gente desenvolveu receptores para o entendimento sobre a presença da floresta, o que é acompanhado de algumas reações fisiológicas de prazer. Até hoje alguns desses sentimentos existem. Isso ainda pode ser percebido, por exemplo, no ruído de uma cachoeira, que pode induzir a um relaxamento e alteração da qualidade do sono”, explica.

De acordo com uma pesquisa feita em 1980 em um hospital da Pensilvânia, nos Estados Unidos, pacientes que estavam em quartos com vista para árvores tiveram uma recuperação mais rápida que outros. Segundo o dr. Saldiva, um estudo feito pelo Instituto de Saúde Global na Universidade de Barcelona, na Espanha, mostra, por tomografia, que crianças que moram próximo a áreas verdes têm um volume cerebral maior.

“Muitas das pessoas que ainda hoje vivem no mundo meio maluco, quando podem, vão para um lugar em que possam sentir a natureza e se sentem bem, dormem melhor e têm uma série de outras atitudes positivas, como seguir o ritmo da luz”, comenta o médico.

Outro ponto importante sobre os impactos das árvores na saúde humana é a filtragem do ar. As plantas absorvem o gás carbônico, um poluente, e liberam oxigênio, que nós necessitamos, na fotossíntese.

De acordo com Edson Grandisoli, biólogo e coordenador do Movimento Circular, plataforma de educação sobre economia circular, “há uma relação direta de redução do número de internações por doenças respiratórias em regiões que têm maior arborização. No Paraná existem estudos que mostram por análises de dados que regiões que têm maior arborização as pessoas têm um menor número de internações por doenças respiratórias. E a poluição já é sabido há muito tempo que é causa de muitas doenças não só pulmonares, mas má-formação de feto, até ansiedade”, explica.

        Veja também: Por que uma cidade precisa de árvores?

 

Outras formas de viver

Apesar de, como explica Santos, nossa sociedade ter uma relação de exploração predatória com as árvores, existem outras formas de se viver, como comprovam as comunidades tradicionais da floresta, os indígenas e os ribeirinhos. De acordo com Santos, na sua experiência de vida na Amazônia e como integrante do Instituto Mamirauá, essas populações têm uma relação de respeito com a natureza. “Essas comunidades já têm [essa relação] como parte da cultura delas, né? A sua relação é totalmente de ‘homeostasia’ [a capacidade de se manter em equilíbrio] com a natureza. Eles têm um equilíbrio com a floresta. Então eles extraem recursos somente do que eles necessitam para aquele determinado momento, e, na maioria dos casos, eles tiram apenas o necessário para sobreviver”.

 

Soluções

Segundo Santos, a mudança do quadro de predação da floresta passa por algumas transformações públicas. “Os primeiros passos a se fazer são o fortalecimento dos órgãos fiscalizadores, principalmente para gerar um maior monitoramento dessas áreas e assim proibir a ação de pessoas que só querem o lucro. E também ter medidas menos brandas com relação a quem desmata porque a nossa legislação, apesar de ser bem estruturada com relação ao que fazer, as medidas que são tomadas são leves para quem desmata.” 

Para o professor Saldiva, a preservação ambiental é uma questão de políticas públicas. “A poluição do ar é um problema ambiental, é um problema de saúde e também um problema de direitos fundamentais e de cidadania. É possível melhorar essa situação com políticas públicas, como foi feito com o cigarro”, aponta.

        Veja também: Preservação é saúde | Recorte

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