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Comprimido, gotas, injeções… quais as diferenças entre as formas de administração de medicamentos?

vidros e caixas de remédios, comprimidos, ampolas e seringa sobre uma mesa. veja os diferentes tipos de medicamentos
Publicado em 08/08/2023
Revisado em 10/08/2023

Medicamentos costumam ser divididos entre sólidos, semissólidos, líquidos e gasosos. Conheça as diferenças entre as formas de administração de medicamentos.

 

No universo da farmácia, são usadas diferentes formas de administração de medicamentos para garantir que as substâncias ativas ajam no organismo de forma adequada e eficaz. 

Antes de qualquer coisa, é importante entender que a forma com que o medicamento chega às farmácias é simplesmente o estado final da substância ativa após ter sido submetida às operações farmacêuticas, geralmente industriais, para facilitar a administração dessa medicação e obter o efeito desejado no paciente. 

 

Diferenças entre formas de administração de medicamentos

De acordo com Natália Marques Vieira Rosa, médica pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e atuante em atenção básica, dentre as formas de administração de medicamentos, pode-se fazer uma subdivisão considerando as formas sólidas, semissólidas, líquidas e gasosas.

“Em relação às formas sólidas, há, por exemplo, os comprimidos, que são preparações que podem conter uma ou várias substâncias ativas ao mesmo tempo. E que normalmente são feitos por compressão, o que torna o método de produção mais barato e acessível. Geralmente, os comprimidos são administrados via oral, podendo ser deglutidos ou mastigados”, explica.

Os comprimidos podem existir em diversas formas: alguns são revestidos, já outros são solúveis ou efervescentes, entre outras possibilidades. 

Outra forma sólida são as cápsulas, que geralmente têm um invólucro (revestimento) que pode ser duro ou mole. A médica explica que, em alguns casos, o invólucro facilita a ingestão, já que não tem cheiro nem sabor, tornando o medicamento mais fácil de engolir. No entanto, para alguns pacientes, o tamanho de algumas cápsulas pode dificultar a deglutição.

Além disso, existem as pastilhas, que também são preparações sólidas. “Geralmente, elas são chupadas ou colocadas na boca para que se dissolvam lentamente, agindo localmente na cavidade bucal ou na garganta. As pastilhas são úteis em muitos casos em que não é possível utilizar, por exemplo, um comprimido. Elas podem ser utilizadas para melhorar quadros de dor na garganta, por exemplo”, sintetiza a dra. Natália.

Em relação às formas medicamentosas semissólidas, existem os cremes, pomadas e loções. Essas formulações permitem a liberação local ou até mesmo transdérmica de algumas substâncias ativas. “Geralmente, as pomadas proporcionam uma liberação mais localizada, enquanto os cremes têm uma ação mais transdérmica, atravessando a pele para alcançar camadas teciduais mais profundas”, pondera a médica.

As preparações semissólidas também podem ser utilizadas ocasionalmente em quadros infecciosos, já que elas podem ter uma ação local para alguns microrganismos que só atingem a primeira camada da pele.

Já quanto à forma farmacêutica líquida, há uma grande variedade disponível. “Por exemplo, há os colírios, que podem ser líquidos, semissólidos ou sólidos estéreis, utilizados para aplicação no globo ocular ou nas conjuntivas. Além disso, existem os injetáveis, que geralmente são soluções ou suspensões estéreis, nas quais as substâncias ativas são dispersas. Geralmente, essas preparações são misturadas com água ou outro líquido estéril para sua preparação”, esclarece.

Outra forma farmacêutica líquida são os xaropes, que são preparações antigas caracterizadas por terem sabor e consistência viscosa. A maioria dos xaropes contém sacarose, mas também existem formulações adequadas para pacientes diabéticos, que não contêm derivados de açúcar.

“O xarope geralmente vem com algum dispositivo, como um copinho ou uma colher, para fazer a medição correta do volume. É muito comum usarmos xarope com crianças, pois geralmente tem um sabor um pouco melhor, o que facilita a administração. Além disso, podemos fazer a dosagem certa, mesmo quando não temos a opção de comprimidos. O xarope nos permite prescrever e explicar a quantidade em ml que a pessoa deve tomar, utilizando o copo que vem junto com o frasco. Existem também as gotas, que são outra forma de preparação líquida destinada à administração oral. Porém, nem sempre possuem um sabor diferenciado como o xarope e geralmente são menos viscosas”, finaliza a profissional.

Em relação às formas gasosas, os sprays são preparações que devem ser usadas em recipientes especiais. Geralmente, esses recipientes contêm um gás sob pressão e substâncias ativas que são liberadas de acordo com a válvula utilizada, como um aerossol. Esses produtos podem ser um jato líquido ou semissólido e até mesmo espumas. “Essas preparações são utilizadas em diversas condições clínicas e é importante estar atento à forma do inalador ou nebulizador utilizado para administrar esse tipo de formulação”, sintetiza.

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As vantagens e desvantagens das diferentes formas de administração de medicamentos

A dra. Natália afirma que as medicações são desenvolvidas pela indústria de forma a facilitar a administração, garantir dosagens precisas e absorção adequada. No entanto, a escolha da forma vai depender das condições individuais de cada paciente, levando em conta suas necessidades específicas.

A administração via oral, como a de comprimidos, drágeas e cápsulas, é uma das mais utilizadas por ser geralmente mais barata e mais confortável. “No entanto, pode ser limitada por fatores como vômitos, dificuldades de engolir ou desacordos que impedem a proteção da via aérea. Em tais casos, outras  vias de administração medicamentosa podem ser consideradas, como a parenteral”, alega a médica.

Ainda dentro das medicações sólidas, os comprimidos sublinguais «são uma forma que oferece a vantagem de uma absorção mais rápida. “Também existem gotas que podem ser colocadas debaixo da língua para uma absorção mais rápida. Isso é interessante para obter um efeito rápido, especialmente em situações de urgência médica. No entanto, uma desvantagem é que, enquanto estiver usando essas medicações, é necessário evitar comer ou beber outras substâncias ou alimentos, no geral. Isso pode ser considerado uma desvantagem dependendo da situação e do efeito que se espera obter”, explica a dra. Natália.

A médica explica, também, a utilidade do uso das medicações endovenosas, aquelas que são administradas nas veias, afirmando que em muitos casos existem medicações que não são absorvidas por via oral, tornando necessário o uso da via parenteral. 

“No entanto, é importante ressaltar que um ponto que pode ser desvantajoso é a necessidade de um profissional treinado para administrar o medicamento, pois há o risco de infecção local que pode piorar o quadro do paciente, caso a técnica de aplicação não seja seguida devidamente. Porém, algumas formulações só estão disponíveis nessa forma parenteral, como a via intramuscular, na qual a medicação é injetada diretamente no músculo. Essa forma pode ter efeito mais prolongado como o anticoncepcional injetável, ou ter uma ação mais limitada em termos de tempo, como no caso de alguns [medicamentos] sintomáticos Além disso, algumas medicações podem ser administradas em uma única aplicação, mas o efeito não é tão imediato quanto uma medicação intravenosa. Essa forma é, por vezes,  utilizada para observar se o paciente terá alguma reação adversa, proporcionando uma margem maior de tempo para a equipe de saúde observar”, resume.

Quanto aos medicamentos injetáveis, quando é feita uma administração via intravenosa, a medicação é injetada diretamente na corrente sanguínea do paciente e causa um efeito extremamente rápido. Segundo a dra. Natália, isso pode ser uma vantagem em situações de emergência, por exemplo. Entretanto, pode ser uma desvantagem  devido à  possibilidade de o paciente ter uma reação alérgica de início bastante rápido

Ainda nos injetáveis, existem remédios muito comumente utilizados por via subcutânea, ou seja, debaixo da pele. A absorção do medicamento é um pouco mais lenta nessa via, comparada à via intravenosa, por exemplo. Existem regiões específicas do corpo onde as injeções subcutâneas são feitas, por exemplo, a parte anterior das coxas, a parte superior do dorso e a parte externa do braço. 

“É importante variar o local da injeção subcutânea, orientando especialmente pacientes que fazem injeções em casa sobre isso. Por exemplo, pacientes diabéticos que dependem de insulina devem alternar o local da injeção para evitar que a absorção da insulina seja alterada”, esclarece.

A médica cita também os inaláveis, como sprays e aerossóis, que atuam na via respiratória, desde a mucosa nasal até os pulmões, proporcionando efeitos tanto locais como sistêmicos. Essas preparações podem incluir descongestionantes nasais e medicamentos para melhorar a função pulmonar de um paciente.

“A vantagem dos inaláveis é que permitem a administração de doses pequenas que são absorvidas rapidamente, sendo especialmente úteis em casos de crises, como asma. A administração pode ocorrer por meio de partículas de nebulização ou sólidas, chamadas de pós inaláveis. Para esse uso, geralmente, a aplicação é feita pela boca, aproveitando a comunicação entre os pulmões e a cavidade oral, atingindo o sistema respiratório ”, afirma.

A dra. Natália explica que, ao inalar a medicação, ela percorre o trajeto traqueal até alcançar os pulmões, onde terá o efeito desejado. 

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Em quais situações cada forma de administração de medicamentos é mais indicada?

A dra. Natália destaca que não existe uma resposta única e fácil sobre as situações em que cada forma de medicamento é indicada, pois isso varia muito de paciente para paciente. “É necessário avaliar diversos aspectos, como a idade do paciente, sua capacidade de entendimento e habilidade para utilizar a medicação prescrita, se ele é capaz de auto administrar o medicamento e se possui a proteção adequada da via aérea”, explica.

Além disso, é essencial verificar o histórico médico do paciente, incluindo eventuais alergias e seu perfil de tolerância a diferentes formas de medicação. As condições de saúde prévias também devem ser consideradas, como refluxo, gastrite, insuficiência renal ou qualquer alteração na função hepática.

Tudo isso deve ser levado em conta para determinar a melhor forma de administração do medicamento. Também é relevante avaliar o quão rápida deve ser a resposta ao medicamento e em que parte do organismo ele precisa atuar. “Por exemplo, a via oral é amplamente utilizada por ser econômica, segura e confortável. No entanto, alguns pacientes podem não tolerar bem essa forma de administração e, nesses casos, é necessário considerar outras formas de medicação, às vezes do mesmo composto ou até mesmo alternando o princípio ativo”, completa.

 

As formas de administração podem afetar a velocidade e a eficácia da absorção do remédio pelo organismo?

A médica divide a resposta em alguns aspectos. São elas:

  • Medicações via oral: a absorção pode começar na boca ou no estômago, mas algumas medicações só são absorvidas no intestino delgado. O fígado pode metabolizar algumas medicações, reduzindo a quantidade que chega à corrente sanguínea, o que pode levar à necessidade de doses maiores, em relação à administração injetável intravenosa. Alimentos e outras medicações no trato digestivo também podem afetar a absorção e a quantidade da medicação que alcança o local de ação.
  • Armazenamento adequado: pacientes devem ficar atentos ao armazenamento das medicações via oral em casa, pois o armazenamento inadequado ou por longos períodos pode tornar o produto ineficaz ou até mesmo prejudicial à saúde.
  • Vias injetáveis: a via intravenosa é geralmente a melhor maneira de administrar uma dose precisa que atinja rapidamente os tecidos e tenha um efeito rápido e controlado. Porém,a administração intravenosa pode ser mais difícil em alguns pacientes, sendo necessário monitoramento pela equipe de saúde.

“Em relação à velocidade e eficácia da absorção dessa medicação, existe uma relação muito íntima com a rapidez com quea medicação vai fazer efeito. Então, é interessante ter em conta essas considerações sobre as medicações via oral ou via parenteral, também em relação à rapidez com que ele vai fazer efeito. Claro que existem também casos em que, por exemplo, a medicação via oral vai ter um efeito também bem rápido. Mas normalmente, em ambientes controlados, existem muitas medicações que são feitas de forma injetável para que tenha um efeito que inicie mais rápido em quadros mais agudos”, afirma a dra. Natália.

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Os possíveis efeitos colaterais associados às diferentes formas de administração de medicamentos

A médica explica que a ocorrência de efeitos colaterais pode variar dependendo do princípio ativo e da forma de administração utilizada. Confira abaixo:

  • Medicações via oral: podem causar efeitos gastrointestinais, como náusea, vômito e diarreia, devido ao processo de passagem pelo trato digestivo. Além disso, algumas crianças podem não tolerar bem a medicação via oral.
  • Medicações e soluções tópicas: as medicações tópicas, como pomadas e cremes aplicados na pele, podem levar a reações alérgicas locais ou dermatite de contato. É importante comunicar ao médico qualquer alteração cutânea local para que ele possa avaliar e orientar sobre a continuidade da medicação.
  • Medicações venosas: a administração intravenosa pode causar efeitos colaterais de forma mais rápida, como reações alérgicas exuberantes. Por isso, é importante que essas medicações sejam administradas com a presença de uma equipe de saúde para observar a evolução do paciente.
  • Medicações intramusculares: um efeito colateral comum das medicações intramusculares é a dor no local da aplicação. Embora seja esperado em muitos casos, é uma via de escolha em situações que impossibilitem a administração endovenosa, por exemplo.
  • Medicações subcutâneas: um exemplo de efeito colateral das medicações subcutâneas é a lipodistrofia, uma alteração da gordura subcutânea causada geralmente por aplicação repetida no mesmo local. Isso pode levar a uma alteração na disposição da gordura subcutânea.

 

A importância de seguir corretamente as orientações de uso e dosagem 

O profissional de saúde responsável pela prescrição leva em consideração o perfil do paciente, o histórico de saúde, possíveis alergias e outras condições antes de indicar o tratamento adequado.

Quando o paciente não segue essas orientações, corre o risco de enfrentar efeitos colaterais adversos ou até mesmo complicações graves. “Por exemplo, tomando doses incorretas, sejam maiores ou menores que as prescritas, o paciente pode não obter o efeito terapêutico desejado ou até mesmo prejudicar a função de órgãos importantes, como o fígado ou os rins”, conclui.

A médica também ressalta a importância especial dos antibióticos e da necessidade de segui-los exatamente conforme a prescrição médica. O uso inadequado desses medicamentos pode levar à resistência bacteriana, um sério problema de saúde pública.

Em ambientes hospitalares ou de cuidados de saúde, é fundamental que a equipe esteja atenta à segurança do paciente durante a administração de medicações. Isso inclui conferir o histórico alérgico do paciente, garantir que a medicação seja administrada ao paciente correto e seguir um checklist para garantir a administração correta dos medicamentos.

A correta adesão às orientações de uso e dosagem é crucial para garantir a eficácia do tratamento e minimizar o risco de efeitos colaterais indesejados. A comunicação entre o paciente, o médico e o farmacêutico é essencial para esclarecer dúvidas e garantir um uso seguro e eficaz dos medicamentos.

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Sobre o autor: Caio Coutinho é estudante de jornalismo na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e colaborador no Portal Drauzio Varella. Além do gosto por música, também tem interesse em temas de saúde mental e saúde da criança.

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