A endometriose é uma das principais causas de infertilidade feminina, mas ela não quer dizer que seja impossível engravidar. Conheça os tratamentos que podem ajudar.
Muitas mulheres associam o diagnóstico da endometriose à dificuldade de engravidar. Mas, ainda que a doença realmente cause infertilidade em alguns casos, ela não é uma sentença de que não será possível gestar.
O que é a endometriose?
Para entender a endometriose, é preciso saber o que é o endométrio. Ele é um dos componentes do útero, órgão formado por músculo (o miométrio) e pela cavidade uterina, espaço onde o feto se desenvolve. O endométrio, por sua vez, é o tecido que reveste o útero internamente.
“A endometriose é a presença de qualquer tecido semelhante ao endométrio fora do útero. Onde? Em qualquer lugar. No intestino, no trato urinário, na vagina, no ovário, no diafragma, no pulmão, no coração, e por aí vai…”, explica Patrick Bellelis, colaborador do setor de endometriose do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
A existência desse tecido fora do útero pode provocar principalmente dor e ciclos menstruais irregulares.
Ouça: Por Que Dói? #03 | Endometriose
Endometriose e infertilidade: como a doença afeta a fertilidade?
“A principal forma dela comprometer a fertilidade é através da distorção anatômica. É assim: se eu tenho um endométrio fora do útero, eu acabo tendo uma reação inflamatória tamanha que resulta na aderência entre as estruturas. E isso pode fazer com que as trompas uterinas [responsáveis por transportar o óvulo] fiquem obstruídas ou acotoveladas”, explica o ginecologista.
Mas a distorção anatômica não é a única causa. Os focos de endometriose produzem substâncias dentro da cavidade abdominal que podem prejudicar as etapas da fecundação, como a qualidade e a quantidade da ovulação, a junção do óvulo ao espermatozoide e a fixação do embrião no útero.
Tratamentos para ajudar mulheres com endometriose a engravidar
Ainda que a endometriose seja considerada uma das principais causas de infertilidade feminina, ela não é uma sentença. Um levantamento realizado pelo HCFMUSP mostrou que, ainda que 40% das mulheres com a doença tivessem alguma dificuldade para engravidar, as outras 60% conseguiam gestar sem nenhum problema.
E mesmo se o diagnóstico da endometriose for confirmado e houver alguma dificuldade na gestação, existem tratamentos que podem ajudar. Eles variam conforme os sintomas apresentados pela paciente.
- Se a paciente sofre só de dificuldade para engravidar: “Para tratar esse sintoma, tentando aumentar a chance dela engravidar, existem métodos não cirúrgicos, como a indução de ovulação ou a fertilização in vitro”, explica o dr. Patrick.
- Se a paciente sofre só de dor: “Nesse caso, a gente tem que pensar em uma cirurgia para ressecar os focos de endometriose, restaurar a anatomia da pelve, diminuir a dor e aumentar a qualidade de vida. Muitas mulheres fazem a cirurgia e estão liberadas para tentar a gravidez espontânea, porque as trompas estão em bom estado”, afirma o especialista.
- Se a paciente sofre de dor e dificuldade para engravidar: “Já outras, pode ser que mesmo fazendo a cirurgia, seja preciso recorrer à técnica de reprodução assistida. Porque, às vezes, a endometriose está em um grau tão avançado que não é possível desobstruir em uma cirurgia e as trompas ficam comprometidas”, pontua.
Existem ainda mulheres que precisam fazer a cirurgia mesmo não sofrendo com dor ou dificuldade para engravidar. Isso porque a endometriose está comprometendo a função de algum órgão, mais comumente o intestino ou o ureter.
O tratamento, portanto, é muito individualizado. “E sempre uma decisão compartilhada, né? Não existe uma verdade absoluta em que o médico vai mandar e acabou. Não, a gente vai conversar com o paciente e expor quais seriam as melhores linhas de tratamento para decidir em conjunto”, ressalta o dr. Patrick.
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Tenho endometriose e consegui engravidar. E agora?
São poucos os estudos que avaliam as complicações que as gestantes com endometriose podem enfrentar ao longo da gravidez. Algumas séries de casos notam um risco maior de abortamento e trabalho de parto prematuro. De acordo com o especialista, isso significa que é preciso uma atenção maior durante o pré-natal, mas, que se as consultas forem realizadas adequadamente, as chances de dar certo são grandes.
Além disso, é importante que, ao longo das tentativas de engravidar, as quais podem ser bastante frustrantes, a paciente procure um acompanhamento multidisciplinar, incluindo psicólogos e até psiquiatras, se for o caso.