A OMS tem novas recomendações para a vacinação contra a covid. Entenda o que mudou na coluna de Mariana Varella.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, no dia 28/3, novas recomendações para a vacinação contra a covid-19. O anúncio gerou confusão: muitas pessoas ficaram com dúvidas acerca da necessidade de tomar novas doses do imunizante, e houve até quem negasse a importância da vacina, mesmo que especialistas do mundo todo façam questão de reforçar o papel fundamental da vacinação na queda do número de óbitos causados pela doença.
As novas recomendações foram anunciadas ao fim do encontro do Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em Imunização (SAGE, da sigla em inglês). Nesse evento, foi discutida a vacinação de várias doenças, como sarampo, tuberculose, poliomielite, covid, entre outras.
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O pediatra e infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), faz parte do SAGE e esteve presente no último encontro. “Primeiro, é importante lembrar que a pandemia é dinâmica e as recomendações vão sendo adaptadas à realidade atual. Depois, que as recomendações da OMS são para todo o planeta, não importa se o país é rico ou pobre, portanto as recomendações devem ser adaptadas a cada realidade, considerando, também, a disponibilidade de doses”, explica o médico.
Hoje, boa parte da população já tem anticorpos contra a covid, gerados tanto pela vacinação quanto pela infecção. Assim, a doença adquire, agora, um caráter endêmico, o que significa afirmar que a doença passa a se manifestar com frequência variada em determinadas regiões, de acordo com as condições locais.
Assim, é natural que as recomendações firmadas quando a doença ainda era considerada uma pandemia mudem agora, como ocorreu com a gripe, por exemplo.
Para defini-las, a OMS passou a dividir as pessoas de acordo com o risco a qual estão expostas. São três grupos: aquelas que têm risco alto de desenvolver sintomas graves da doença, incluindo morte; as com risco moderado; e as com risco baixo de complicações.
No entanto, todas as pessoas, mesmo que não façam parte dos grupos prioritários, devem receber o esquema primário de duas doses e uma de reforço quando houver disponibilidade de vacina. “Essa recomendação está alinhada com o que o Brasil faz hoje, recomendando que todos terminem o esquema com três doses e recomendando os reforços com as bivalentes para os mais vulneráveis”, conclui o dr. Kfouri.
Risco alto
Estão neste grupo as pessoas com mais de 60 anos, imunocomprometidas, gestantes, profissionais de saúde e indivíduos com comorbidades que aumentem o risco de complicações para covid (diabetes, doenças cardiovasculares, entre outras).
Essas pessoas devem tomar o reforço da vacina a cada 6 ou 12 meses. As grávidas precisam receber o reforço se tomaram a última dose da vacina há 6 meses ou mais.
Risco moderado
São os adultos com menos de 60 anos saudáveis, que não tenham doenças associadas. Estes devem receber o esquema inicial de duas doses mais o reforço, mas não necessitam de doses adicionais.
Risco baixo
Crianças e adolescentes entre 6 meses de idade e 17 anos. Aqui é preciso avaliar o risco de cada país, considerando o acesso a serviços de saúde e as condições gerais de saúde da população.
“A mortalidade por covid em crianças é de dez a quinze vezes maior no Brasil, quando comparamos com países mais ricos, como Reino Unido e França. Por isso, o Brasil recomenda vacinar esse grupo com o esquema de três doses”, explica o dr. Kfouri.
Isso não significa que pessoas que não façam parte dos grupos mais vulneráveis não possam tomar, eventualmente, doses de reforço, caso haja vacinas disponíveis. Isso acontece com a vacinação contra a gripe, por exemplo, que é destinada a determinados grupos, mas que também pode ser tomada por outras pessoas. “Não há benefício de saúde pública em vacinar toda a população contra a gripe, mas há benefício individual. Isso também vale para a vacina contra a covid-19”, finaliza o médico.