Um câncer pode voltar, ou seja, recidivar, quando pequenas áreas de células tumorais permanecem no corpo após o tratamento.
O câncer é uma doença diferente de qualquer outra doença crônica e tem algumas características que o distinguem muito bem.
A mais marcante é a forma pela qual as células “danificadas” crescem e se multiplicam de maneira desordenada pelo organismo, além da facilidade que essas células invasoras têm de se espalhar atingindo diversos órgãos e tecidos (metástase).
Veja também: Metástase – Por que um câncer se espalha?
Dr. Lucas Vieira dos Santos, oncologista clínico da Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP), explica que o câncer não é apenas uma única doença, mas várias, com os mais variados tipos de comportamentos.
“O câncer de mama da dona Maria dificilmente vai ser igual ao da dona Josefa, porque cada tumor tem uma biologia única. Por isso, antes de iniciar um tratamento, a gente precisa descobrir a característica intrínseca do tumor”, explica o médico.
Mas o que isso significa, na prática? Quanto mais a equipe médica sabe sobre aspectos daquele tumor específico (localização, anatomia patológica, genética), maior será a chance de ele não voltar em um futuro próximo, a chamada recidiva.
“Eu tratei um paciente que teve câncer de estômago muito jovem. Nós identificamos que ele possuía uma mutação no gene CDH1. Sabendo disso, indicamos uma cirurgia completa do estômago, para erradicar todos os focos de células cancerígenas. Uma cirurgia parcial, por exemplo, não ia ser suficiente, baseado nesse histórico de mutação genética”, conta o médico.
Ainda explicando sobre a relação da medicina de precisão e o risco de recidiva, há pacientes que apresentam alterações moleculares muito específicas e têm um câncer com proteínas de fusão NTRK. O nome é complicado, mas é fácil de entender. O gene receptor da tirosina neurotrófica quinase (NTRK) é algo que todo mundo tem.
O problema ocorre quando ele se funde a outros genes e produz uma proteína de fusão TRK que pode levar ao aparecimento de tumores em boa parte dos órgãos do corpo. Há cânceres provocados por essa fusão que atacam pulmões, tireoide, cólon, cérebro, pâncreas e glândula salivar.
“Apesar de ser uma parcela pequena de pacientes que apresentam essa alteração, sabendo disso, já é possível direcionar um tratamento com uma droga oral que age exatamente sobre essa alteração”, complementa o especialista.
Que horas ele volta?
A medicina não é uma ciência exata, por isso é muito difícil garantir se o câncer vai voltar ou não, por mais que o tratamento executado tenha sido o ideal.
O que se sabe é que um câncer pode recidivar quando pequenas áreas de células tumorais permanecem no corpo após o tratamento. Normalmente isso ocorre quando a doença foi diagnosticada já num estágio mais avançado; assim, apesar de todo o tratamento, algumas células do tumor, invisíveis a olho nu e indetectáveis pelos exames de imagem modernos, ainda permanecem no organismo.
Com o tempo, essas células podem se multiplicar e crescer o suficiente para causar sintomas ou para serem localizadas por exames. Esse “novo tumor” pode ocorrer em outra parte do organismo ou no mesmo lugar.
Vigilância
Por isso, mesmo após o término do tratamento, o paciente deve manter uma rotina de consultas e exames de maneira periódica, com a finalidade de detectar uma eventual recidiva. Os médicos costumam usar a máxima dos 5 anos, mas mesmo depois desse prazo, é importante manter a vigilância ativa, pois há tumores que se manifestam mais tardiamente.