Será que um estudo de fato estabeleceu relação de causa e efeito entre o consumo de refrigerante diet e o aumento do risco de AVC e demência? A DROPS checou
Há algum tempo, alguns veículos de mídia anunciaram que um estudo americano afirmava que os refrigerantes dietéticos triplicariam o risco de AVC e de demência.
QUEM DISSE? VivaBem
O QUE DISSE? “Refrigerante dietético triplica risco de AVC e demência, segundo estudo”” 1
QUANDO DISSE? 21/04/2017
CHECAGEM: INSUSTENTÁVEL
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CONTEXTO
O brasileiro consumiu em 2016 uma média 70 litros de refrigerante (diet e tradicional) per capita.2 Porém, uma manchete do site VivaBem 1 acendeu o sinal de alerta para esses consumidores, ao afirmar: “Refrigerante dietético triplica risco de AVC e demência, segundo estudo”. A mesma notícia, com outros títulos, também foi publicada pelos sites da Época Negocios³, BBC Brasil⁴, Revista Veja⁵, portal G1⁶, entre outros.
Adoçantes são sempre um tema controverso dentro do universo da alimentação e por isso Drops decidiu checar esta notícia.
O QUE DIZ A CIÊNCIA
A história surgiu após a divulgação de um estudo científico feito por pesquisadores da Universidade de Boston e publicado pelo periódico “Stroke”⁷, publicação da American Heart Association⁸.
O trabalho intitulado “Bebidas doces e artificialmente adoçadas e o risco de incidência de derrame e demência” foi realizado por meio de um estudo no qual um grupo de pessoas que compartilha uma característica ou experiência comum é acompanhado por um período significativo de tempo (geralmente de um a cinco anos) e tenta-se estabelecer um relação de causa-efeito entre os eventos a que o grupo foi exposto e o desfecho na saúde dessas pessoas (estudo de coorte prospectivo).
Ou seja, utilizando dados coletados de 4.372 pessoas da comunidade de Framingham (Massachussets) durante o período de 1991 a 2001, os pesquisadores avaliaram se o hábito de beber açúcar ou bebidas artificialmente adoçadas (bebidas dietéticas ou “diet”) estava associado ao risco de AVC ou demência.
CHECAGEM
No resumo do estudo (abstract), além de falarem sobre o propósito, o método e os resultados do trabalho, os cientista concluem dizendo que “o consumo de refrigerantes artificialmente adoçados foi associado a um maior risco de AVC e demência”.
O estudo trouxe essa conclusão impressa em sua primeira página, o que levou a maior parte das publicações a aterem-se a publicar suas matérias sobre o tema com manchetes como a do site VivaBem. No entanto, a leitura completa, criteriosa e atenta de todo o estudo revela que a manchete é INSUSTENTÁVEL do ponto de vista científico.
Os resultados do estudo demonstram associação, mas não comprovam causa e efeito. No geral, ao levar-se em conta todos os fatores de saúde e estilo de vida que poderiam ter uma influência sobre os resultados (fatores de confusão⁹), os pesquisadores realmente não encontraram nenhuma ligação isolada entre as bebidas artificialmente adoçadas e o risco de demência e derrame. As páginas 6 e 7 do trabalho listam ainda diversas limitações do estudo.
Desta forma, apesar de os autores mencionarem na parte inicial do trabalho que “o consumo de refrigerantes artificialmente adoçado foi associado a um maior risco de AVC e demência”, eles também dizem ao longo do texto que “pesquisas futuras são necessárias para replicar nossos achados e investigar os mecanismos subjacentes às associações reportadas”.
Referências
Acesso em 25/03/2019:
² https://abir.org.br/o-setor/dados/refrigerantes/
⁴ https://www.bbc.com/portuguese/geral-39665431
⁵ https://veja.abril.com.br/saude/refrigerante-diet-pode-aumentar-risco-de-avc-e-demencia/
⁷ https://www.ahajournals.org/doi/full/10.1161/strokeaha.116.016027
⁹ https://www.nhs.uk/news/health-news-glossary/#ConfoundingfactorConfounder