A Fundação Osesp gerencia o orçamento anual de cerca de R$100 milhões: 58% cobertos pela Secretaria de Cultura do Estado e 42% por patrocínios e outras atividades da orquestra.
Em matéria de música, sou tão ignorante que fico até envergonhado. Considero habilidade transcendental distinguir um ré de um fá; bemóis e sustenidos, então, tenham dó.
A imagem que mais se aproxima de meu ouvido musical é a de uma porta de ferro, blindada.
Apesar dessa limitação, faço parte daquela categoria de deficientes auditivos que gosta de música clássica. Na penúria de tempo livre em que vivo, passo vários dias ouvindo o mesmo CD, no banho, no carro e às vezes pela internet.
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A tarefa exige perseverança: o prazer de ouvi-lo pode surgir tímido apenas na quinta ou sexta tentativa. Mas, quando vem, tenho vontade de repeti-lo sem parar, porque a cada vez descubro nuances inesperadas.
A música é a mais arrebatadora das expressões artísticas.
Nenhuma outra consegue evocar tristeza, felicidade, alegria, fúria, frenesi, enlevo e o impulso irresistível de acompanhá-la com a voz e movimentos do corpo. A música nos faz viver a cognição humana em sua plenitude.
Sou um dos 10 mil assinantes da Orquestra Sinfônica de São Paulo – a Osesp. Desfruto o privilégio de passar duas horas diante do palco com dezenas de músicos excelentes, vestidos a rigor, como se tocassem apenas para mim, numa das salas mais bonitas do mundo, construída nas dependências da antiga Estação Sorocabana, um dos marcos da cidade.
Na temporada de 35 semanas, são realizados três concertos semanais, com programas distintos. Somados às apresentações da Orquestra e dos grupos de Câmara, do Quarteto de Cordas, dos Coros, dos recitais de solistas e dos concertos dominicais ao ar livre, às viagens pelo interior do estado, pelo Brasil e por outros países, a Osesp realiza mais de 300 concertos anuais; quase um por dia.
O estado mais rico da União tem condições plenas de ajudar a manter um projeto cultural dessa abrangência, sem prejudicar os investimentos na área social. A iniciativa privada, mais ainda.
Todos os programas exibidos na Sala São Paulo são transmitidos pela Rádio Cultura FM. Alguns vão ao ar pela TV Cultura e pela internet, em tempo real.
Por trás dessa produtividade estão 350 funcionários. Entre eles, 115 músicos, um coro com 51 cantores e uma Academia com 40 bolsistas. A cada ano, cerca de 70 solistas e maestros das maiores orquestras do mundo são convidados para apresentações.
A Fundação Osesp gerencia o orçamento anual de cerca de R$100 milhões: 58% cobertos pela Secretaria de Cultura do Estado e 42% por patrocínios, venda de ingressos, aluguel da Sala São Paulo para eventos e doações para os programas educativos.
Muitos questionam o investimento que o Estado faz numa atividade que consideram elitista. Defendem que esses R$ 58 milhões deveriam ser aplicados em Educação e Saúde.
Acho que essa argumentação surrada é fruto da ignorância.
Não é pequena a contribuição social da Osesp. Das 500 mil pessoas que anualmente assistem aos espetáculos, pelo menos 60% têm entrada franca. Se contarmos as transmissões por rádio, TV e internet, aproximadamente cinco milhões de brasileiros têm acesso às apresentações.
Na verdade, a Osesp é muito mais do que uma orquestra, é um grande projeto cultural e educativo. Além dos concertos, abriga uma editora de partituras voltada para a música brasileira, já lançou mais de 60 CDs, edita a Revista Osesp, disponível para download, e mantém os bolsistas da Academia. Cerca de 120 mil crianças e adolescentes e mil professores de escolas públicas assistem aos concertos e aos ensaios da Orquestra, todos os anos.
A repercussão internacional desse trabalho é grande. Em 2012, ela se apresentou no Festival BBC Proms, em Londres, talvez o mais importante do mundo. No ano seguinte, tocou na Philharmonie de Berlim, na Salle Pleyel, em Paris, na Grande Sala do Festival de Salzburg e no Royal Festival Hall, em Londres, sempre na temporada principal de concertos.
Foi avaliada pelos internautas ingleses como a quarta orquestra de maior interesse. A revista inglesa “Gramophone” considera a Osesp “prestes a se tornar uma das orquestras mais importantes no contexto global”. A francesa “Diapason” classificou-a como a “glória sinfônica da América Latina”.
O estado mais rico da União tem condições plenas de ajudar a manter um projeto cultural dessa abrangência, sem prejudicar os investimentos na área social. A iniciativa privada, mais ainda.