Antônio Drauzio Varella nasceu no dia 3 de maio de 1943, em São Paulo. Viveu sua infância no Brás, bairro operário da capital paulista. Com o incentivo do pai, passou em 2° lugar no vestibular e formou-se em 1967 como médico cancerologista pela Universidade de São Paulo (USP).
A carreira na medicina
Ainda durante a faculdade, começou a dar aulas no cursinho 9 de Julho. Em 1965, junto do amigo João Carlos di Genio, fundou o Cursinho Objetivo, onde lecionou física e química durante muitos anos. Mais tarde, também atuou como professor em universidades, tanto nacionais quanto estrangeiras.
No início dos anos 1970, trabalhou com o infectologista Vicente Amato Neto na área de moléstias infecciosas do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Depois, ficou mais de 20 anos na direção do Serviço de Imunologia do Hospital do Câncer. De 1990 a 1992, dirigiu também o Serviço de Câncer no Hospital do Ipiranga.
No epicentro da aids
Na chefia do Serviço de Imunologia do Hospital do Câncer, Drauzio viu o surgimento dos primeiros casos de aids. Era o prenúncio de uma das epidemias mais devastadoras da história da humanidade.
Em um estágio de três meses no Memorial Hospital de Nova York, cidade onde se concentrava a maior parte dos casos da doença nos Estados Unidos, Drauzio conheceu o sarcoma de Kaposi, um tipo de tumor de pele que acomete pessoas com aids. Ao voltar para São Paulo, era um dos poucos cancerologistas com experiência na área e tornou-se um dos médicos de referência no tratamento de aids no Brasil.
Preocupado com a propagação do vírus, ele também foi fundamental na disseminação de informações sobre a doença. A população associava a aids à homossexualidade e pouco sabia sobre os sintomas e formas de contágio. Sob orientação do jornalista Fernando Vieira de Melo, Drauzio iniciou campanhas de esclarecimento no rádio sobre prevenção à doença. Um dos primeiros médicos do país a falar abertamente sobre o assunto, Drauzio viu o Brasil também ser pioneiro na distribuição gratuita de medicamentos antivirais, mudando completamente o cenário epidemiológico da aids.
Das rádios à televisão
Com o tempo, Drauzio foi ganhando espaço na mídia. Na Rádio Bandeirantes, de São Paulo, apresentou por anos o Espaço Saúde, programa diário em que descrevia doenças e explicava como preveni-las. Na televisão, passou a comandar um quadro no Fantástico, da TV Globo. As reportagens, que continuam até os dias atuais, falam sobre o corpo humano, primeiros socorros, gravidez, entre muitos outros assuntos. Em passagens pelo Canal Universitário e TV Senado, Drauzio também entrevistou especialistas relevantes na área da saúde.
No ano de 2000, tornou-se colunista da Folha de S. Paulo, posição que ainda ocupa. Atualmente, também escreve colunas para a Carta Capital. Além disso, possui um trabalho consagrado na internet, através deste Portal, do seu canal no YouTube, Instagram, Facebook e TikTok.
O trabalho no Carandiru
Em 1989, durante uma de suas gravações para a televisão, Drauzio conheceu a Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo. O tema era a disseminação da aids dentro do presídio. Interessado, apresentou ao diretor da cadeia a ideia de realizar uma pesquisa sobre a prevalência do vírus HIV entre os presos. Logo percebeu que seria preciso fazer uma campanha de conscientização e começou a tirar dúvidas dos quase 8 mil detentos em palestras dentro da cadeia.
Envolvido com aquelas pessoas, Drauzio se propôs a realizar atendimentos médicos voluntários. Frequentou o Carandiru semanalmente de 1989 a 2002, quando o presídio foi implodido. Depois, trabalhou durante três anos na Penitenciária do Estado e mais um ano no Centro de Detenção Provisória da Vila Independência. Em 2006, migrou para a Penitenciária Feminina da Capital, onde encontrou desafios muito diferentes.
O gosto pela escrita
A experiência de tantos anos dentro dos presídios rendeu a Drauzio a sua trilogia de livros de maior sucesso: Estação Carandiru (1999), Carcereiros (2012) e Prisioneiras (2017). As obras, que falam sobre o dia a dia do trabalho nas cadeias, receberam diversos prêmios e adaptações audiovisuais. O filme Carandiru (2003), do diretor Hector Babenco, é um clássico do cinema brasileiro e conta com elenco composto por Rodrigo Santoro, Wagner Moura, Caio Blat, Sabotage e outros.
Drauzio escreveu ainda livros que são relatos pessoais, reflexões sobre os seus aprendizados na medicina e até histórias ficcionais voltadas para o público infantil. O seu lançamento mais recente é O exercício da incerteza: Memórias (2022), uma narração da experiência de mais de 50 anos como médico, que vai desde a criação do SUS até a compreensão de que a profissão é marcada pela dúvida.
Você pode acessar a lista completa de livros do Drauzio Varella clicando aqui.
Brasil Sem Cigarro
Mesmo perdendo o pai, o irmão e o sogro para o tabagismo, Drauzio fumou por 19 anos. Quando parou, ainda nos anos 1980, tornou-se um dos maiores porta-vozes da luta contra o cigarro no país.
Em 2011, no Fantástico, apresentou a série Brasil Sem Cigarro. O quadro acompanhava cinco fumantes que desejavam largar a adição. Semanalmente, ele ia à casa dos participantes para acompanhar o processo, dando dicas valiosas para que não recaíssem. A série foi marcante e levou milhares de espectadores a também entrarem no desafio.
Sua luta continua até hoje através dos conteúdos feitos para este Portal e demais redes sociais.
Maratonista aos 50
Treze anos depois de parar de fumar e prestes a completar 50 anos de vida, Drauzio ouviu de um amigo que essa era a idade em que começava a decadência do homem. Para evitar o futuro trágico, ele decidiu que iria correr uma maratona. Antes de fazer 51, já havia completado a sua primeira: a Maratona de Nova York. Em 2022, aos 79 anos, conquistou a Six Star Medal, medalha conferida aos corredores que completaram as seis maiores maratonas do mundo na distância de 42,195km: Berlim, Tóquio, Londres, Nova York, Boston e Chicago.
Drauzio destaca que o segredo para chegar a essa idade se exercitando é a disciplina. No livro Correr – exercício, a cidade e o desafio da maratona (2015), ele detalha a experiência com as maratonas e os benefícios que o hábito trouxe para a sua saúde.
Em busca da cura na Amazônia
Além da corrida, outro projeto ao qual Drauzio se dedica é o de bioprospecção de plantas brasileiras na região do baixo rio Negro, no Amazonas. O objetivo é testar os extratos vegetais e desenvolver medicamentos contra doenças como o câncer.
A iniciativa é realizada nos laboratórios da Universidade Paulista (UNIP) em colaboração com o Hospital Sírio-Libanês e apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). São mais de 2.200 extratos de plantas descritos, alguns dos quais já apresentam potencial farmacológico. Para a coleta, Drauzio Varella já realizou mais de 50 expedições à bacia do rio Negro ao lado de uma equipe de pesquisadores.
Hoje
Drauzio Varella tem duas filhas e é casado com a atriz Regina Braga. Firme em seus projetos, ele mantém o compromisso de popularizar a informação médica, sendo um dos principais comunicadores do Brasil.