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Oftalmologia

Um em cada três pacientes com doenças oculares graves interrompe o tratamento

29% dos pacientes com degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e o edema macular diabético (EDM) abandonam o tratamento pelo menos uma vez. Entenda o que pode estar dificultando a adesão.
Publicado em 15/04/2025
Revisado em 14/04/2025

29% dos pacientes com degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e o edema macular diabético (EDM) abandonam o tratamento pelo menos uma vez. Entenda o que pode estar dificultando a adesão.

A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e o edema macular diabético (EDM) são as principais causas de perda de visão irreversível entre pessoas acima de 55 anos. Mas quase 30% delas abandonam o tratamento. Um dos motivos é a necessidade de idas frequentes ao centro médico para receber a medicação.

Como é o tratamento para DMRI e edema macular diabético?

Tanto a DMRI quando o edema macular diabético são doenças crônicas que afetam a mácula, área central da retina responsável pela nitidez da visão. O comprometimento dessa área prejudica a realização de atividades simples, como ler, dirigir ou fazer compras, e pode até levar à cegueira.

A principal forma de tratamento para as duas doenças são as injeções intravítreas. Elas consistem na aplicação de medicamentos diretamente no vítreo, substância que preenche o interior do olho. Eles bloqueiam a ação do VEGF (fator de crescimento do endotélio vascular), proteína que, em excesso, estimula o crescimento de vasos sanguíneos anormais e provoca lesões na retina.

No início do tratamento para DMRI do tipo úmida, a forma mais grave da doença, recomenda-se pelo menos uma aplicação por mês. No caso do edema macular, podem ser até cinco injeções mensais. As injeções só podem ser realizadas em ambiente ambulatorial. 

Muitos pacientes abandonam o tratamento pelo menos uma vez

Essa frequência de aplicações é um grande empecilho para a adesão ao tratamento. Segundo pesquisa da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV/CPDOC), da ONG Retina Brasil e da Roche Farma Brasil, entre 155 pacientes de todo o Brasil com doenças oculares graves, 29% já desistiram do tratamento alguma vez e 45% afirmaram ter grave perda de visão. 

Entre os motivos citados, estão o alto custo do tratamento na rede privada, a demora para conseguir acesso à medicação no Sistema Único de Saúde (SUS) e a dificuldade de chegar aos centros de aplicação. De acordo com relatos dos entrevistados, em muitos casos, a doença já estava tão avançada que o próprio médico afirmou que não adiantaria mais tratar. 

“A retina não regenera. Os fotorreceptores são neurônios que não vão voltar se a gente perder. Se eles estiverem em sofrimento, a medicação vai tratar e vai melhorar. Mas se passar muito tempo, vai levar a uma atrofia. E a atrofia não tem o que fazer. Não tem como criar aquele tecido de novo”, explicou a oftalmologista Patricia Kakizaki, especialista em retina clínica e cirúrgica pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), durante o evento Abril Marrom promovido pela Roche Farma Brasil.

Veja também: Retinopatia diabética atinge cerca de 75% dos pacientes

Alternativas para o tratamento

No SUS, a dificuldade de acesso e a demora para conseguir uma consulta com o oftalmologista são as principais reclamações. Especialistas apontam ainda a desorganização da rede: mesmo quando o paciente consegue a aplicação, pode ser que aquele centro em específico não tenha estoques do medicamento. Isso dificulta a adesão ao tratamento, que já exige do paciente o deslocamento até o local de aplicação.

Apesar das iniciativas serem raras, algumas prefeituras oferecem transporte. O Programa Mais Acesso a Especialistas (PMAE), lançado pelo Ministério da Saúde em 2024, também tem auxiliado a agilizar esse atendimento.

“Hoje, estamos acompanhando o desenvolvimento de inovações capazes de impedir a progressão dessas doenças, estabilizando ou muitas vezes até melhorando a visão dos pacientes, além de proporcionar mais comodidade, diminuindo a frequência do tratamento e a necessidade de deslocamento até os consultórios e as clínicas”, detalha a especialista. 

O ranibizumabe, iniciativa da Roche e Genentech, é uma delas. O pequeno reservatório implantado na esclera, a parte branca do olho, através de uma cirurgia, libera o medicamento de forma contínua e controlada. A necessidade de reabastecimento é reduzida a cada 6 meses ou mais. A opção foi aprovada pelo Food and Drug Administration (FDA), a agência sanitária dos Estados Unidos, em 2021, mas ainda não está aprovada no Brasil. 

Por outro lado, existem dois medicamentos recentes liberados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que visam diminuir a frequência das injeções. Após algumas doses iniciais, o brolucizumabe pode ser administrado a cada 12 semanas e o faricimabe, a cada 16 semanas, dependendo da resposta do paciente. Além disso, para um futuro próximo, cientistas estudam o desenvolvimento de terapias gênicas para o tratamento da  DMRI e do edema macular diabético.

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