Mudança no perfil epidemiológico da população aliada a fatores externos, como sedentarismo e má alimentação, são possíveis causas.
O câncer é uma enfermidade que provoca medo. Isso porque, antigamente, a medicina não possibilitava muitas opções de tratamento e os tumores já chegavam num estágio avançado, o que aumentava o risco de morte.
Mas, em um intervalo de 40 anos, a medicina oncológica evolui a ponto de os médicos terem à disposição medicamentos específicos para tratar os mais diversos subtipos de tumor. Isso fez com que cerca de 60% dos casos sejam possíveis de serem curados atualmente.
Mas se estamos vivendo um dos momentos mais promissores da oncologia, por que temos a impressão de que todo mundo está sendo diagnosticado com câncer, incluindo mais recentemente a princesa da Inglaterra?
Para se ter uma ideia, a estimativa mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que cerca de 1 em cada 5 pessoas desenvolverá câncer durante a vida; cerca de 1 em cada 9 homens e 1 em cada 12 mulheres morrerão da doença.
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Mudança de perfil
Em entrevista recente ao portal Drauzio Varella, dr. Paulo Hoff, médico oncologista da Rede D’or São Luiz, dá um panorama dos números que vêm aumentando.
“Há cerca de 15 anos, quando a gente abriu o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), eram pouco mais de 350 mil casos de câncer por ano no Brasil. Em 2024, nós vamos fechar com mais de 700 mil novos casos. Seguindo essa evolução, nos próximos anos vamos bater um milhão de novos casos”.
Na opinião do médico, somente a justificativa de que a população está envelhecendo, ou que o número de diagnósticos aumentaram, não serve para explicar o crescimento de casos. Segundo ele, isso tem a ver também com mudança no perfil epidemiológico da população e estilo de vida.
“Hoje a gente já consegue identificar que não são só esses fatores, os jovens também estão tendo câncer e cada vez mais cedo. Portanto, há uma mudança no perfil epidemiológico, principalmente por conta do estilo de vida, da alimentação. Tudo isso associado, mais o alto nível de poluição nos grandes centros, parece que tem influenciado muito no aumento desse números”, explica Hoff.
Estilo de vida
No Brasil, um terço das mortes causadas por 20 tipos de câncer, (câncer de cabeça e pescoço, pâncreas, colorretal, por exemplo), poderiam ser evitadas com mudanças no estilo de vida. Tabagismo, consumo de álcool, excesso de peso, alimentação não saudável e falta de atividade física são fatores de risco associados a 114 mil casos da doença (27% do total) e 63 mil mortes (34% do total) por ano no Brasil.
Os dados, publicados na revista Cancer Epidemiology, fazem parte de um estudo realizado por pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e da Harvard University, nos Estados Unidos, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Atualmente, o alto consumo de alimentos industrializados e gordurosos, mais o estilo de vida sedentário característico das grandes cidades, acaba aumentando o número de pessoas com obesidade, que também é um fator de risco para o câncer, por gerar um processo de inflamação generalizada.
“O problema da vida sedentária tem a ver com a alteração de metabolismo, secreção de hormônios e com a saúde interna das células, já que você tem mais controle de processos inflamatórios quando você está ativo. O ser humano foi feito para ser ativo, não é natural ficar sentado o dia inteiro. Por isso não existe nada melhor que atividade física, não precisa ser nada grandioso. Caminhar 180 minutos por semana já ajudam na prevenção”, finaliza Hoff.