Em regiões pouco desenvolvidas do mundo, carentes de recursos para atender às necessidades básicas da população, o raquitismo é um distúrbio frequente nas crianças.
Raquitismo é um distúrbio ósseo não transmissível, que acomete crianças na fase do crescimento. A enfermidade se instala em virtude de uma deficiência na mineralização da cartilagem da placa epifisária (também conhecida por placa do crescimento), localizada nas extremidades dos ossos longos. Sua principal manifestação é o enfraquecimento dos ossos que ficam sem resistência, sujeitos a lesões graves e à deformação, de tal modo que comprometem a capacidade de oferecer sustentação para o esqueleto.
O processo de mineralização óssea tem início na vida fetal, estende-se por toda a infância e adolescência, mas é só na vida adulta que atinge seu pleno desenvolvimento.
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Atualmente, os termos raquitismo e raquítico são empregados, sobretudo, quando se leva em conta a semelhança entre a aparência fraca e debilitada que a enfermidade confere e a magreza excessiva própria das crianças desnutridas.
Importante estabelecer a diferença entre raquitismo e osteomalácia. Assim como o raquitismo, a osteomalácia é um defeito da mineralização do osso. A osteomalácia, entretanto, surge na vida adulta e compromete a matriz óssea.
No Brasil, o raquitismo não é uma doença comum na infância. A maioria dos casos tem como causa uma alteração genética que induz a perda de fosfato pela urina.
Em regiões pouco desenvolvidas do mundo, carentes de recursos para atender às necessidades básicas da população, o raquitismo é um distúrbio frequente nas crianças.
Causas do raquitismo
A principal causa da doença é a carência, em menor ou maior grau, da vitamina D, que regula o metabolismo do cálcio (Ca) e do fósforo (P), no organismo da criança. Isso ocorre quando o processo de mineralização dos ossos (calcificação da cartilagem), ou seja, quando o depósito de sais de cálcio e de fósforo não se realiza da maneira apropriada. Consequência: a ausência ou comprometimento da calcificação das cartilagens torna mais delicada a extremidade dos ossos, que entortam ou fraturam com facilidade.
São consideradas, ainda, possíveis causas do raquitismo infantil: carência nutricional, moléstias que interferem na absorção intestinal da vitamina D, mutações genéticas que promovem a perda de fósforo pela urina e a exposição insuficiente à luz solar, uma vez que os raios ultravioleta são indispensáveis para a síntese dessa vitamina no organismo.
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Fatores de risco
Outras condições podem apresentar-se como fatores de risco para o aparecimento do raquitismo infantil. Entre elas, destacam -se:
1) idade entre 6 meses e 36 meses e pigmentação mais escura da pele;
2) vida em regiões geográficas com reduzida incidência de luz solar;
3) uso de certos medicamentos (anticonvulsivantes, antirretrovirais, por exemplo);
4) insuficiência renal, fibrose cística, entre outras patologias;
5) deficiência de vitamina D durante a gestação e o parto prematuro.
Tipos de raquitismo
De maneira geral, o raquitismo pode apresentar-se sob diferentes formas de acordo com as causas da doença. Importante destacar os seguintes tipos:
- raquitismo hipocalcêmico – surge quando a deficiência de vitamina D e/ou a dificuldade de absorção desse nutriente pelos intestinos constituem a principal causa da doença;
- raquitismo hipofosfatêmico (XLH) – ocorre quando a perda renal de fosfato é responsável pelo aparecimento do distúrbio ósseo. Recentemente, as pesquisas indicam que esse tipo de raquitismo pode ter caráter genético e hereditário em virtude de uma mutação ligada ao cromossomo X, que induz a perda de fosfato pela urina, além do que seria suportável.
Sintomas
Em geral, os primeiros sinais da enfermidade aparecem quando a criança começa a andar. Nessa fase, ficam mais evidentes os seguintes sintomas:
- retardo no crescimento e no desenvolvimento motor;
- fraqueza muscular;
- atraso no fechamento das fontanelas (moleiras) cranianas e torácicas;
- deformidades nos ossos longos (fêmur e tíbia, por exemplo) que resultam no arqueamento de membros superiores e inferiores;
- dores musculares e esqueléticas;
- alterações na formação e crescimento dos dentes, abscessos, distribuição do esmalte e cáries, por exemplo;
- distúrbios nas curvaturas da coluna vertebral;
- craniotabes – presença de ossos moles no crânio;
- rosário raquítico – protuberâncias características da formação desorganizada das placas ósseas;
- baixa estatura.
Diagnóstico
Num primeiro momento, o diagnóstico é clínico e baseia-se no levantamento do histórico pessoal e familiar da criança e na observação dos sinais e sintomas característicos da condição nessa idade. A seguir, são prescritos alguns exames laboratoriais para medir os níveis de cálcio, fósforo, vitamina D e fosfatase alcalina no organismo da criança.
Exames de imagem, como radiografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética são de grande ajuda para identificar a presença de lesões nos ossos e sua possível extensão e gravidade.
Pessoas com mutação genética que leva à perda renal de fósforo pela urina devem passar por exames específicos e periódicos para acompanhar a evolução do quadro.
Tratamento
Diagnóstico precoce e introdução imediata do tratamento são requisitos básicos para o sucesso do tratamento do raquitismo nas crianças.
Pode-se dizer que, nelas, o raquitismo hipocalcêmico têm cura, desde que recebam os cuidados pertinentes antes que as complicações se instalem.
Veja um exemplo: nos casos em que a carência nutricional é corrigida precocemente, com dieta equilibrada, suplementação de nutrientes e maior exposição solar, os sinais da doença tendem a desaparecer, depressa ou lentamente, dependendo da gravidade da situação.
Sem tratamento, porém, os distúrbios persistem e os sintomas prejudicam muito a qualidade de vida daqueles que manifestaram o transtorno na infância e adolescência.
No que se refere ao tratamento do raquitismo hipofosfatêmico de origem genética, por enquanto não se conhece um recurso eficaz para curar a doença. Portanto, a atual conduta terapêutica leva em conta os níveis de cálcio e fósforo séricos na urina e no sangue obtidos nos exames laboratoriais de tal forma que seja possível repor esses elementos na dosagem necessária para a correção de tais desvios.
Em alguns casos, a cirurgia ortopédica representa uma possibilidade de corrigir as deformidades ósseas ou facilitar a colocação de próteses.
Felizmente, os estudos continuam. A Anvisa aprovou recentemente um novo medicamento para os portadores de raquitismo hipofosfatêmico ligado ao cromossomo X, o burosumabe, que demonstrou efeitos benéficos para a redução do número de fraturas e deformidades ósseas.
Prevenção do raquitismo
Promover o bom desenvolvimento da estrutura óssea e muscular das crianças pode depender de alguns cuidados elementares:
- dieta saudável e equilibrada, rica em cálcio, nutriente presente não só no leite e seus derivados, mas também nas verduras de folhas escuras, como brócolis e espinafre, nos ovos e em alguns peixes;
- suplementação de vitamina D já nos primeiros meses de vida da criança;
- exposição da criança aos raios solares, nos horários recomendados, ou seja, no início da manhã antes das 10 horas e à tarde depois das 16 horas. A Academia Americana de Dermatologia recomenda, porém, que antes dos seis meses, a exposição direta da pele do bebê ao sol seja evitada;
- atividade física específica, considerando os benefícios que pode trazer nas diferentes fases do desenvolvimento infantil.
Perguntas frequentes sobre raquitismo
O que é raquitismo?
Raquitismo é um distúrbio ósseo não transmissível, que acomete crianças na fase do crescimento e causa o enfraquecimento dos ossos.
O que é raquitismo hipofosfatêmico?
O raquitismo pode apresentar-se sob diferentes formas de acordo com as causas da doença. No entanto, há dois tipos mais frequentes:
- raquitismo hipocalcêmico – surge quando a deficiência de vitamina D e/ou a dificuldade de absorção desse nutriente pelos intestinos constituem a principal causa da doença;
- raquitismo hipofosfatêmico (XLH) – ocorre quando a perda renal de fosfato é responsável pelo aparecimento do distúrbio ósseo. Recentemente, as pesquisas indicam que esse tipo de raquitismo pode ter caráter genético e hereditário.