A incontinência urinária consiste na perda involuntária de urina. Mais comum no sexo feminino, a condição atinge cerca de 10 milhões de brasileiros e costuma ser queixa frequente entre os idosos. Existem diversas formas de tratar os escapes de urina, e atualmente o uso de produtos próprios para incontinência — como fraldas e absorventes — pode ser recomendado. Contudo, muitas pessoas sentem receio e até mesmo vergonha de falar sobre o assunto.
Primeiro, é importante esclarecer que, embora a necessidade de uso de fraldas em pessoas idosas esteja geralmente associada à incontinência urinária ou fecal, outros fatores podem entrar nessa equação.
“A idade avançada, múltiplas comorbidades (como as doenças neurológicas), interação medicamentosa, redução da mobilidade (como no caso dos acamados), fragilidade e comprometimento cognitivo também estão entre os principais motivos do uso de fralda”, explica a profa. dra. Fabia Lima, enfermeira especialista em gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e docente da Universidade de Pernambuco (UPE).
A especialista explica que o termo “fralda” normalmente é utilizado para os idosos dependentes (como os acamados ou com mobilidade reduzida, que utilizam as fraldas convencionais). Para aqueles que convivem com a incontinência urinária, mas têm autonomia e mobilidade, geralmente são indicadas as roupas íntimas absorventes (também chamadas de pants, nas versões feminina ou masculina). Já quem sofre com perdas urinárias menores (como pingos de urina) pode utilizar absorventes específicos para incontinência urinária.
Como conversar sobre o assunto
Para abordar o tema de forma adequada com o idoso, é preciso estabelecer um diálogo como parceria de cuidado, não apenas impondo o uso de produtos absorventes, mas compartilhando informações de maneira clara e respeitosa.
Por exemplo, é importante explicar que o uso da roupa íntima absorvente (como as calcinhas descartáveis) é um cuidado importante para garantir o conforto, segurança e prevenir acidentes, como o constrangimento de perda de urina em locais inadequados. “Também será importante o profissional da área de saúde reconhecer os sentimentos quando o idoso verbaliza o desconforto e a vergonha em sair de casa por conta da incontinência urinária”, explica o prof. dr. Jack Roberto Silva Fhon, enfermeiro especialista em gerontologia pela SBGG e docente da Universidade de São Paulo (USP).
Além disso, deve-se oferecer diferentes opções de produtos absorventes: apresentar vários modelos e deixar que o idoso decida qual o melhor para sua necessidade, caso ele tenha autonomia.
“Quanto ao cuidador: [é necessário] orientar e treinar os cuidadores para adotar práticas que preservem a autonomia e reconheçam o idoso como parceiro do cuidar. O uso do termo correto tira o estigma do uso de fralda”, recomenda Fabia.
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Empatia e decisões compartilhadas
Sempre que possível, as preferências do paciente devem ser levadas em consideração. “Incluí-lo nas decisões, como a escolha de produtos, a definição de horários e a forma como a assistência será prestada, ajuda a mantê-lo no controle da sua própria vida”, afirma o enfermeiro.
Os especialistas destacam que a autonomia e a dignidade são fundamentais para que o idoso se sinta valorizado, mesmo diante de situações delicadas como a incontinência urinária e o uso de roupas íntimas absorventes. Dessa forma, os familiares e cuidadores devem adotar uma comunicação empática e respeitosa (inclusive nos casos em que o idoso é dependente).
Sinais de incontinência urinária
É muito comum que pessoas idosas, por vergonha, medo ou até mesmo por considerarem a incontinência uma parte “normal” do envelhecimento, evitem falar sobre o assunto. Segundo Fabia e Jack, essa falta de diálogo pode dificultar o cuidado e a busca por tratamento adequado.
“Estudo irlandês de 2021 revelou que quase 40% dos idosos com incontinência não tinham relatado o sintoma e que essa omissão estava associada a pior qualidade de vida. Este problema talvez esteja ligado, muitas vezes, à vergonha e ao estigma”, afirma Jack.
Mas como perceber se o idoso pode ter incontinência urinária? Veja alguns sinais:
- Demonstra mudanças na ingestão de líquidos, evitando beber água ou beber até certo horário;
- Esconde fraldas ou absorventes ou se torna reservado no uso do banheiro;
- Apresenta odor de urina persistente (tanto na pessoa como no ambiente);
- Exibe manchas de urina nas roupas, troca muito de roupas ou toma banhos frequentes;
- Demonstra alterações de humor e isolamento, a ponto de deixar de participar de encontros sociais que antes gostava;
- Apresenta estresse, irritabilidade e urgência excessiva para ir ao banheiro;
- Vai ao banheiro logo após beber líquidos ou várias vezes durante a noite (noctúria), afetando a qualidade do sono.
Impactos da incontinência urinária na qualidade de vida
A incontinência urinária leva a um duplo sofrimento: físico — com a necessidade de produtos como roupa íntima e absorventes específicos e alterações de rotina — e emocional, por meio de estigma, vergonha, medo e isolamento, o que prejudica a autoestima e qualidade de vida do idoso, conforme destaca Fabia.
Além disso, a condição pode levar o idoso à percepção negativa da saúde e sintomas de depressão. Por isso, o diálogo com empatia e acolhimento é tão importante.
“Um estudo clínico de coorte prospectiva realizado no Rio Grande do Sul acompanhou idosos por nove anos e concluiu que aqueles com incontinência urinária no início do estudo tinham 4 vezes mais chances de desenvolver autopercepção negativa da própria saúde, e 3,4 vezes mais risco de manifestar sintomas depressivos, em comparação aos que não apresentavam incontinência”, relata a enfermeira.
No caso de homens idosos que desenvolvem incontinência urinária após tratamento de câncer de próstata, o impacto emocional tende a ser mais severo. “Além da incontinência e o uso de roupa íntima absorvente, existe a questão sexualidade, fragilizando mais ainda a autoestima masculina”, destaca Jack. Além da incontinência, outro efeito colateral que pode ocorrer após o tratamento da doença é a disfunção erétil.
“Muitos homens não são preparados ou avisados sobre a possibilidade de incontinência como uma sequela do tratamento do câncer de próstata. Isso pode gerar uma surpresa desagradável e a sensação de que algo deu errado, quando, na verdade, a incontinência é uma complicação comum e, muitas vezes, temporária”, esclarece Fabia.
Para lidar com a perda urinária, eles podem usar produtos específicos para a anatomia masculina, como absorventes e cuecas descartáveis.
Ter incontinência urinária não deve ser motivo para privar o idoso de fazer suas atividades diárias. Com as orientações e o tratamento adequado — que pode incluir medicações, fisioterapia pélvica e até cirurgia —, é possível manter a qualidade de vida.
Veja também: Incontinência urinária em homens e a demora no diagnóstico – Saúde Sem Tabu #52
Conteúdo produzido em parceria com a Tena Brasil, marca líder em produtos para incontinência urinária.
Ilustrações: Janaína Esmeraldo