Como a poliomielite se manifesta nas crianças

Drauzio Varella

Drauzio Varella é médico cancerologista e escritor. Foi um dos pioneiros no tratamento da aids no Brasil. Entre seus livros de maior sucesso estão Estação Carandiru, Por um Fio e O Médico Doente.

Compartilhar

Não podemos deixar a poliomielite voltar a prejudicar as crianças. É preciso levá-las para se vacinar.

 

Há muito tempo não se ouvia falar da poliomielite como agora, já que a doença havia sido erradicada. Com os baixos índices de vacinação, a pólio volta a ameaçar uma grande parcela das crianças que correm o risco de desenvolver paralisia infantil ou até insuficiência respiratória. Para não permitir que isso aconteça, é fundamental levá-las para se vacinar.

Não pode assistir agora? Acompanhe a transcrição a seguir:

Você tem ouvido falar em poliomielite nas últimas semanas. A gente não ouvia há muito tempo falar dessa doença, simplesmente porque tinha sido extinta no Brasil pela vacinação, a famosa gotinha, não é. Agora, o vírus volta e pega uma população de crianças que não foi vacinada adequadamente, e essa população é grande. A gente estima que pelo menos metade das crianças não tenha completado o esquema vacinal.

A poliomielite era uma doença terrível. Na minha infância, eu convivi com vários amigos que tiveram poliomielite porque não havia vacina e, aí, a qualquer febre que uma criança tinha e ficava meio largadinha, a família ficava desesperada, achando que tinha chegado a poliomielite.

Ela começava com uma gripe, uma gripe forte. A criança ficava derrubada, febre alta, tinha vômito, diarreia, náuseas. Alguns se recuperavam e não acontecia mais nada, outros começavam a ter a forma paralítica da doença, em que os músculos perdiam as forças, porque o vírus se instalava no sistema nervoso central. Essa doença levava a uma paralisia definitiva, e os músculos envolvidos, que, em geral, eram das extremidades, dos braços, das pernas, às vezes, pegavam a parte respiratória, a criança não conseguia mais respirar e morria de insuficiência respiratória.

Na época, eles criaram lá na Ortopedia do Hospital das Clínicas, onde eu estudei, uns pulmões de aço, que eram o quê? Eram tubos em que a criança entrava, ficava deitadinha, só com o pescoço de fora e, aqui, tinha um colar de borracha, que ajustava o equipamento. Ela não podia sequer se virar porque isso fazia com que ela mudasse a posição e sentisse falta de ar. E o pulmão de aço funcionava como? Tinha um fole elétrico que insuflava ar dentro do aparelho. Quando insuflava o ar, comprimia o tórax e, aí, a criança eliminava o ar. Em seguida, ele retirava o ar. Quando retirava o ar, a caixa toráxica se expandia e ela respirava dessa maneira. E ficava ali até quando? Até quando Deus quisesse. Ela podia melhorar, recuperar um pouco da movimentação dos pulmões, da musculatura e sair do pulmão de aço. Outros não conseguiam e ficavam nessas circunstâncias, nessas condições, até morrer.

Era uma doença horrível. Só que desapareceu. E, aí, quando desapareceu, as pessoas pararam de se preocupar com ela e pararam de vacinar as crianças. Sabe, não pode ser assim. Nós não podemos aceitar a volta de uma doença tão grave como essa, que tantas mortes e tantas deformidades físicas causou – as crianças usavam aquelas próteses metálicas, que faziam um barulho horrível, uma limitação que se instalava pelo resto da vida.

Nós não podemos deixar acontecer de novo. Vamos levar as crianças pra vacinar. É fundamental.

Veja também: O perigo da volta da poliomielite

Veja mais