A insuficiência venosa crônica (IVC) é uma condição progressiva que ocorre quando as veias das pernas perdem sua capacidade de conduzir o sangue de volta ao coração de maneira eficiente. O problema é mais frequente em mulheres.
Segundo Edwaldo Edner Joviliano, cirurgião vascular e presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP), os sintomas da IVC podem variar em intensidade. Inicialmente, os sinais mais comuns são a sensação de peso e cansaço nas pernas, principalmente no final do dia. Muitos pacientes relatam inchaço (edema) nos tornozelos e pés, que melhora com repouso e elevação dos membros.
“Com a evolução da doença, outros sintomas podem surgir, como dor, queimação, formigamento e cãibras. É comum o aparecimento de varizes, que são veias dilatadas e tortuosas visíveis na superfície da pele. Em estágios mais avançados, a pele pode sofrer alterações, tornando-se mais escura (hiperpigmentação), ressecada e com coceira. A complicação mais temida é o surgimento de úlceras venosas, feridas de difícil cicatrização que geralmente aparecem próximas ao tornozelo”, explica ele.
Prevalência e fatores de risco
A insuficiência venosa crônica pode se manifestar em qualquer idade, mas sua prevalência aumenta significativamente com o envelhecimento. “A doença é mais comum em pessoas acima dos 50 anos, pois, com o passar do tempo, as veias tendem a perder elasticidade e suas válvulas, responsáveis por direcionar o sangue de volta ao coração, podem se tornar incompetentes”, esclarece o dr. Edwaldo.
Fatores como predisposição genética, obesidade, sedentarismo e histórico de trombose venosa profunda podem antecipar o aparecimento da condição. As mulheres são mais afetadas, de acordo com o médico, devido a fatores hormonais e à gravidez.
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Possíveis complicações da insuficiência venosa crônica
Sem o tratamento adequado, a IVC pode levar a complicações sérias e impactar significativamente a qualidade de vida. A progressão da doença pode resultar em complicações como:
- Úlceras venosas: feridas crônicas que podem levar meses ou anos para cicatrizar, com alto risco de infecção;
- Trombose venosa profunda (TVP): formação de coágulos em veias profundas, que pode causar dor, inchaço e, em casos graves, levar à embolia pulmonar, uma condição potencialmente fatal;
- Dermatite de estase e lipodermatoesclerose: inflamação e endurecimento da pele e do tecido subcutâneo, tornando a região mais vulnerável a traumas e infecções;
- Varicorragia: sangramento de uma veia varicosa rompida, que pode ser volumoso e necessitar de atendimento de emergência.
“O acompanhamento médico é fundamental para evitar essas complicações e garantir o controle da doença, permitindo que o paciente mantenha suas atividades diárias e sua qualidade de vida”, alerta.
Diagnóstico e tratamento da insuficiência venosa crônica
Em caso de sintomas como dor persistente nas pernas, inchaço, veias dilatadas, manchas escurecidas ou alterações na pele, a recomendação é buscar avaliação médica.
“O diagnóstico da IVC é primariamente clínico, baseado nos sintomas e no exame físico realizado pelo médico angiologista ou cirurgião vascular. Para confirmar o diagnóstico e avaliar a gravidade da doença, o exame mais utilizado é o ecodoppler venoso (ou ultrassom vascular), que permite visualizar as veias, o fluxo sanguíneo e a função das válvulas”, explica o especialista.
O tratamento, por sua vez, envolve uma série de cuidados e visa aliviar os sintomas, melhorar a qualidade de vida e prevenir a progressão do quadro. Segundo o dr. Edwaldo, a abordagem inicial geralmente inclui:
- Mudanças no estilo de vida: prática de exercícios físicos, perda de peso e evitar longos períodos em pé ou sentado;
- Terapia de compressão: uso de meias elásticas de compressão graduada, que auxiliam no retorno venoso;
- Medicamentos: uso de flebotônicos, que melhoram o tônus das veias e a circulação.
“Para casos mais avançados, existem procedimentos para tratar as veias doentes, como a escleroterapia (aplicação de substâncias para secar os vasos), o laser endovenoso e a radiofrequência, que são técnicas minimamente invasivas. A cirurgia convencional, com a retirada das veias safenas e varizes, é reservada para casos específicos”, detalha.
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A IVC tem cura?
Em relação ao prognóstico, a resposta é animadora. “Embora a predisposição para a doença venosa não desapareça, a insuficiência venosa crônica tem tratamento e controle, e em muitos casos, podemos considerar a cura funcional, com o desaparecimento completo dos sintomas e a prevenção de complicações. O sucesso do tratamento depende da adesão do paciente e do acompanhamento médico regular”, conclui o dr. Edwaldo.