A andropausa é a “menopausa” dos homens?


Equipe do Portal Drauzio Varella postou em Urologia

homem mais velho se consulta com médica para tratar andropausa

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Publicado em: 8 de novembro de 2023

Revisado em: 10 de novembro de 2023

Entenda o que é a andropausa, como a queda na taxa de hormônios pode afetar a saúde do homem e como ela pode ser tratada.

 

Você já ouviu falar em andropausa? A condição, que atinge apenas os homens, na realidade carrega um nome que não faz jus ao que acontece com o organismo masculino. Quem explica melhor é o urologista dr. Ricardo Vita: “É que, diferentemente do que acontece com a mulher na menopausa, o homem não deixa de produzir hormônios. O que existe é uma queda na produção. O termo mais correto é deficiência androgênica do envelhecimento masculino (DAEM), que é a diminuição da produção de todo eixo hormonal masculino a partir de uma certa idade e que vai se intensificando e progredindo com o envelhecimento”.

Essa redução hormonal – majoritariamente de testosterona – pode começar a acontecer a partir dos 40 anos, mas é mais intensa, ou pelo menos mais notável, dos 60 em diante. O senso comum geralmente conecta esse evento a questões ligadas ao sexo, tais como a perda da libido e a disfunção erétil, mas muitos outros problemas podem acontecer. “Tem também depressão, hipotireoidismo mal controlado, aumento de gordura visceral, perda de massa muscular, osteoporose, queda de pelos, irritabilidade, desânimo, falta de concentração, perda de memória, insônia, fatores cardiovasculares, anemia. O problema é que várias dessas manifestações clínicas podem ser decorrentes de outros problemas, então é preciso sempre investigar”, explica o dr. Vita.

  Veja também: Quando homens devem fazer reposição hormonal

O dr. Rodrigo Bocos, que também é urologista, concorda que investigar é fundamental, e que é preciso reconstruir o histórico clínico do paciente, porque alguns diagnósticos não são fáceis de obter. O problema dessa necessária pesquisa refinada é o próprio homem, que não tem costume, muito menos regularidade, de ir a consultas ou acompanhamentos médicos.

“A maior dificuldade para cuidar da saúde do homem é a própria procura, porque o homem tende a postergar qualquer tipo de problema. Mesmo sintomático, mesmo sabendo que tem alguma coisa errada, o homem vai se acostumando e deixando para depois, não percebe que aquilo é um problema. Existe uma falta de conhecimento do próprio corpo. Então, quando ele chega ao médico, o problema já está num estágio mais avançado”, diz o dr. Bocos.

O dr. Vita segue na mesma linha. “O homem não pode esperar ter um problema para ir ao médico. Uma medicina preventiva pode identificar problemas no início ou antes de acontecerem. Está sentindo que tem alguma coisa incomodando? Anda mais irritado, mais infeliz? Seja qual for a manifestação clínica, é preciso buscar assistência médica, de preferência especializada.” 

 

Diagnóstico e tratamento da andropausa

O urologista, ou mesmo um clínico geral, deve começar pelo básico: um exame que mede a dosagem de testosterona total.

“Quando se identifica uma queda na testosterona (abaixo de 300 nanogramas/ml) com sintomas clínicos tem que ir atrás. É necessário fazer o eixo hormonal, identificar se os testículos ainda têm função, e assim procurar saber onde estão os problemas, os desvios que estão levando-o a esse quadro clínico. Daí você atua de maneira mais assertiva e consegue fazer um melhor planejamento”, explica o dr. Vita.

No entanto, alerta-se que mesmo com a testosterona baixa, se não houver quadros clínicos consideráveis, não é recomendado reposição hormonal. É preciso um conjunto de fatores, com ênfase nos sintomas, para que o tratamento seja o caminho. “Os principais indicadores para uma reposição são a perda de libido, fadiga em excesso, sonolência, alterações de humor, perda de massa magra e, a longo prazo, osteoporose e doenças cardiovasculares”, complementa o dr. Bocos.

“A reposição de testosterona tem que acontecer a partir de uma decisão responsável e compartilhada, ética e transparente. A gente só decide reequilibrar esse perfil hormonal quando há necessidade clínica”, reflete Vita. Mas não existe um tratamento preferível ou mais indicado, pois cada caso é um caso. “É como perguntar qual a pizza que eu prefiro para você comer. É só a minha opinião, não é minha vida, meu entorno familiar. A gente pode recomendar ou direcionar, mas a decisão é da pessoa.”

Durante muito tempo só existiam duas opções de tratamento, as drogas injetáveis de curta duração (a cada 15 dias) e os remédios via oral de uso diário. Em ambos os casos, um problema recorrente era a instabilidade nas taxas hormonais, muitas oscilações entre altas e baixas. Há cerca de duas décadas surgiu uma nova possibilidade injetável que conseguia gerar um platô fisiológico mais estável, com maior duração (a cada 90 dias) e sem gerar sobrecargas no coração e no fígado. Mais recentemente, a reposição hormonal ganhou novos formatos, tais como desodorante e gel (estabilidade por 24 horas, mas de uso diário e contínuo) e chips implantáveis (duração de 4 a 6 meses, então retira e coloca outro).

“A reposição mais indicada é a que o paciente se sente melhor. Do meu ponto de vista profissional, costumo indicar o gel que o paciente passa diariamente e que é o que melhor simula o metabolismo da testosterona no nosso corpo. E a injeção, uma dose a cada 3 meses, com uma estabilidade maior nos valores da testosterona sem o inconveniente de usar diariamente como o gel”, sugere o dr. Bocos.

Injeção e gel também são recomendados pelo dr. Vita. Os únicos poréns são o alto custo e, no caso da injeção, o fato de ela ser dolorida, por ser oleosa. “Muito se tem falado do chip, mas ele é muito mais caro e o resultado é o mesmo dos outros [métodos]. Não tem vantagem clínica. É mais marketing mesmo. E é mais invasivo porque tem uma pequena cirurgia para retirar e outra para implantar”, explica o dr. Vita.

A partir do momento em que o tratamento para reposição hormonal é escolhido, os efeitos são instantâneas. “A resposta da reposição é rápida. Em poucos dias, o paciente já sente diferenças na libido, no humor e na fadiga, que são os sintomas que revertem mais rapidamente. Mas é bom frisar que o uso indiscriminado e sem acompanhamento de testosterona podem causar dependência, infertilidade, impotência e problemas cardiovasculares, entre outros”, comenta o dr. Bocos.

Outra advertência dos especialistas escutados por esta reportagem é que se a redução hormonal tiver consequências sexuais é muito importante que, paralelamente ao tratamento urológico, o homem tenha acompanhamento psicológico. Só assim poderá resgatar a confiança em sua própria sexualidade.

     

Sobre o autor: Dafne Sampaio é jornalista e analista de mídias sociais. Interessa-se por cultura, ciências, saúde, comunicação e, acima de tudo, pessoas.

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