ISTs podem ser transmitidas no sexo entre mulheres. Veja cuidados

O risco da transmissão de ISTs no sexo entre mulheres existe, mas o medo do preconceito pode atrapalhar o tratamento. Saiba prevenir.

Pouco se fala sobre o tema, mas é importante ter cuidados de prevenção na relação sexual vagina com vagina. 

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Publicado em: 11 de agosto de 2020

Revisado em: 8 de março de 2022

Pouco se fala sobre o tema, mas é importante ter cuidados de prevenção na relação sexual vagina com vagina. 

 

Muitas pessoas acreditam que a transmissão de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) não ocorre durante a relação sexual entre duas mulheres cis (que se identificam com o seu gênero de nascença). Este é um pensamento equivocado. Mulheres lésbicas ou bissexuais também correm o risco de contrair uma série de infecções, mas, infelizmente, pouco se fala sobre isso, inclusive dentro do consultório médico, onde, em grande parte das vezes, pressupõe-se que a paciente tenha relações sexuais apenas com homens.

Durante a relação, elas podem transmitir infecções bem comuns, como sífilis, gonorreia, clamídia, HPV e herpes. A transmissão acontece através do contato de pele e mucosas, troca de sangue e fluídos ou compartilhamento de acessórios. No caso da sífilis, por exemplo, se a mulher tem uma lesão na área genital, ela pode transmitir a infecção ao encostar essa área no órgão da parceira. Sabe-se também que infecções por HIV, o vírus causador da aids, e hepatites B e C são raríssimas entre mulheres, segundo as doutoras Carla Marques e Luiza Cadioli, médicas de família e comunidade e membros do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde. 

“As mesmas infecções transmissíveis no sexo entre mulheres são transmissíveis no sexo oral heterossexual ou entre dois homens. É importante lembrar que discutimos pouco proteção nesses casos e que a camisinha de pênis e vagina protege apenas contra IST no sexo penetrativo”, afirma a dra. Luiza Cadioli. 

 

Como prevenir infecções

 

Infelizmente, não existe nenhum método equivalente à camisinha peniana ou vaginal para prevenir ISTs em relações que não sejam entre pênis e vagina. Segundo as médicas, algumas pessoas fazem adaptações para se prevenir: cortam a camisinha e colocam sobre a vulva, utilizam luvas e até plástico filme para se proteger na hora do sexo oral. 

Mesmo assim, existem alguns cuidados importantes na hora da relação:

  • Acessórios usados durante o sexo devem ser higienizados com água e sabão sempre que forem utilizados;
  • Alguns objetos podem ser envoltos com camisinha e, sempre que objeto for utilizado em mais de uma pessoa, é necessário trocar o preservativo;
  • Recomenda-se lavar as mãos antes da relação sexual e estar com as unhas limpas e aparadas para evitar machucar a parceira;
  • Evitar relações sexuais se houver lesões ou cortes na pele. 

Vale destacar que os mesmos cuidados valem para as relações entre homens trans, homens trans com mulheres cis ou entre pessoas não binárias que têm vulva.

Veja também: HIV e prevenção das IST | Ricardo Vasconcelos

 

Atendimento de saúde a mulheres lésbicas e bissexuais

 

Muitas mulheres deixam de buscar ajuda médica por se relacionarem com outras mulheres e pelo medo do preconceito. Por isso, na visão de Carla, para tratar da saúde e transmissão de ISTs entre lésbicas e bissexuais é preciso levar em consideração a sociedade na qual estamos inseridas. “Infelizmente, em grande parte dos serviços de saúde essas mulheres são invisibilizadas e tratadas presumivelmente como heterossexuais – por preconceito, por despreparo e por desconhecimento de abordagens centradas na pessoa. Para acessar essa discussão, o profissional precisa ser acolhedor, sem julgamento, com boa escuta e fazer uma conversa sincera sobre evidências científicas e práticas possíveis. Precisamos também expandir o conceito de saúde para além da sexualidade e da ginecologia, acolher demandas de saúde mental, de enfrentamento de preconceito e estigmatização e realizar um cuidado mais integral”, explica. 

“Além disso, pouco se sabe cientificamente sobre o assunto: porcentagens de transmissão e métodos de proteção realmente eficazes. É preciso assumir que existe essa lacuna de conhecimento e começarmos a construir as evidências juntas”, afirma a dra. Carla.

 

Vídeo: Dr. Drauzio fala sobre transmissão de infecções no sexo entre mulheres.

 

Exames importantes

 

Mulheres que tenham feito sexo com penetração de pênis, objetos ou dedos devem realizar o exame de colpocitologia oncótica (conhecido como Papanicolaou) periodicamente a partir dos 25 anos, conforme recomendação do Ministério da Saúde. Após o primeiro exame, o segundo deve ser realizado depois de um ano. Se os dois resultados forem normais, o exame passa a ser feito de três em três anos.

Basicamente, a rotina ginecológica de mulheres que transam com mulheres deve ser a mesma das que se relacionam com homens. Para fazer o Papanicolaou, normalmente é necessário encaminhamento de um ginecologista. Já exames para detectar possíveis ISTs podem ser solicitados por ginecologistas, médicos de família ou mesmo enfermeiros.

Veja também: Como as ISTs são transmitidas?

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