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Endometriose e adenomiose são parecidas, mas não iguais

mulher deitada no sofá, em posição fetal, com bolsa de água quente no ventre. endometriose e adenomise causam cólicas fortes
Publicado em 16/03/2023
Revisado em 16/03/2023

Endometriose e adenomiose são doenças frequentes e semelhantes, mas guardam diferenças importantes. Leia na coluna de Mariana Varella.

 

A menstruação sempre foi associada à dor. Não conheço mulher em idade reprodutiva que nunca tenha tido ao menos um episódio de cólica menstrual mais intensa. No entanto, como a capacidade de suportar a dor é subjetiva, é difícil avaliar quando ela sinaliza problemas mais graves.

Por incrível que pareça, a menstruação ainda é tabu. Assim, são inúmeras as meninas e mulheres que sofrem em silêncio com dores e sangramentos intensos todos os meses, sem ter parâmetros para saber que sentir dor incapacitante ao menstruar não é normal.

Veja também: Causas da cólica menstrual

A dismenorreia, termo médico para cólicas menstruais, principalmente quando acompanhadas de sensação de peso no baixo ventre, fluxo menstrual intenso e dor na relação sexual (dispareunia), podem ser sinal de endometriose ou de adenomiose.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada dez mulheres apresentará adenomiose durante o período reprodutivo. Segundo um levantamento feito em 2020 pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), há 6,5 milhões de mulheres com endometriose no Brasil.

Apesar de frequentes, as condições ginecológicas ainda são pouco reconhecidas, e não é incomum que as duas ocorram ao mesmo tempo, na mesma paciente.

Para compreender ambas, primeiro é preciso uma breve introdução acerca da anatomia do útero, um dos órgãos mais importantes do aparelho reprodutor feminino. O útero tem formato de pêra, e sua parte externa é constituída de uma espessa camada de musculatura lisa, o miométrio. Sua cavidade interna é revestida por uma mucosa chamada endométrio, que sofre as alterações mensais do ciclo menstrual e onde, em caso de gravidez, o óvulo fertilizado se implanta.

Todos os meses, na fase logo após a menstruação, o endométrio, sob a ação do estrogênio, se torna mais espesso, preparando-se para receber o óvulo fertilizado e nutrir o embrião. Quando a gravidez não ocorre, entra em ação outro hormônio feminino, a progesterona, que faz com que o endométrio se desprenda do útero e seja eliminado com o sangue menstrual.

 

Diferenças e semelhanças entre endometriose e adenomiose

Na adenomiose, as células do endométrio se infiltram no miométrio, causando dores fortes, fluxo intenso, ciclos menstruais prolongados e irregulares e, em casos mais avançados, dificuldade para engravidar.

Na endometriose, as células do endométrio, em vez de serem expelidas, migram no sentido oposto e caem nos ovários ou na cavidade abdominal, atingindo outros órgãos, como bexiga e intestino.

Tanto a adenomiose quanto a endometriose são caracterizadas pela presença de células do endométrio fora do interior do útero. Essas células voltam a multiplicar-se, a sofrer a ação dos hormônios femininos e a sangrar, causando dor pélvica. Na adenomiose, como foi explicado, as células se encontram no miométrio; na endometriose, há presença de endométrio em outros órgãos. Na linguagem leiga, podemos dizer que as doenças são “primas”.

Como os sintomas não são específicos, ambas as doenças são subdiagnosticadas: estima-se que pacientes levem até 8 anos para conseguir o diagnóstico correto. Isso significa, muitas vezes, anos de dores intensas, tentativas frustradas de engravidar, idas a diversos especialistas diferentes, exames desnecessários, gastos consideráveis e um grande impacto na qualidade de vida dessas mulheres, o que afeta seus relacionamentos afetivos e sexuais, sua vida emocional e social e a produtividade na escola e no trabalho.

De um modo geral, tudo que envolve a saúde ginecológica costuma ser tabu. As queixas de dor são pouco valorizadas pelos profissionais de saúde: ainda hoje é comum escutarmos que sentir cólica intensa é assim mesmo, que ser mulher dói. Muitas de nós também acreditam nisso e acabam deixando de valorizar a dor durante a menstruação ou a relação sexual. 

Além disso, o diagnóstico da adenomiose e da endometriose é feito por meio do ultrassom transvaginal ou ressonância magnética pélvica, exames que, para sua realização, exigem profissionais qualificados que nem sempre estão disponíveis em todos os centros de saúde do Brasil.

O que fazer, então? A primeira atitude é observar o próprio corpo. Não é normal sentir dor durante o sexo, não é normal sentir cólicas incapacitantes, não é normal deixar de realizar as atividades diárias porque está menstruada.

Depois, procurar um médico, que pode ser o médico de família ou ginecologista, e relatar os sintomas e sua intensidade. Diga que suspeita que algo não vai bem. Não deixe que diminuam suas queixas.

Apesar de ainda existirem profissionais de saúde que subestimam os sintomas, hoje a maioria dos ginecologistas está preparada para identificar os casos suspeitos e encaminhá-los corretamente.

Existem tratamentos, como a suspensão da menstruação por meio de pílulas ou dispositivos intra-uterinos hormonais, que aliviam muito os sintomas. Em alguns casos, é necessária cirurgia. O que não podemos é aceitar viver com dor. 

 

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