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Sexualidade

Bactérias sexualmente transmissíveis

close em mãos de casal de mãos dadas na cama. Bactérias sexualmente transmissíveis que causam ists podem ser evitadas
Publicado em 05/12/2022
Revisado em 05/12/2022

A transmissão de bactérias sexualmente transmissíveis que causam ISTs está aumentando, apesar dos avanços na prevenção e no tratamento. Leia o artigo do dr. Drauzio.

 

O número de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) aumenta sem parar. Entre os homens jovens que fazem sexo com homens, a prevalência do HIV cresce ameaçadora. Parece que voltamos ao passado.

Clamídia, sífilis e gonorreia, infecções causadas por bactérias, infectam homens e mulheres com velocidades que lembram as do mundo antes da penicilina. Na cadeia em que atendo, é difícil passar uma semana sem diagnosticar um caso novo de sífilis primária (quando se apresenta como ferida no pênis) ou secundária (quando se manifesta com manchas espalhadas na pele e nas mucosas). Voltamos a conviver com as malformações da sífilis neonatal.

Veja também: Qual a melhor maneira de prevenir ISTs?

A presença da sífilis em pleno século 21 nos ensina que é praticamente impossível eliminar doenças transmitidas por via sexual, sem a existência de vacinas. A doença tem tratamento barato e eficaz: duas injeções de penicilina benzatina (o velho Benzetacil) por via intramuscular, cura a sífilis primária a um custo de pouco mais de R$ 20.

Nos últimos anos, aprendemos que o risco de contrair HIV pode ser minimizado por meio de duas estratégias: PrEP (terapia pré-exposição) e PEP (terapia pós-exposição). Na PrEP, pessoas que correm risco alto de contrair o vírus, recebem diariamente um comprimido que contém duas drogas, emtricitabina e tenofovir, ou uma injeção de cabotegravir a cada dois meses.

Na PEP, o mesmo tratamento é feito com as mesmas drogas, mas deve ser administrado nas primeiras 72 horas depois da relação desprotegida (quanto mais cedo, melhor).

Esses resultados – que se aproximam de 100% de proteção, quando os medicamentos são tomados rigorosamente de acordo com a prescrição – abriram um campo novo na prevenção à aids, até então baseada exclusivamente no impopular uso de preservativo e na impopularíssima abstinência sexual.

PrEP e PEP têm sido exploradas como estratégias preventivas às ISTs provocadas por bactérias.

Em outubro de 2022, o San Francisco Department of Public Health da Califórnia, passou a recomendar o emprego do antibiótico doxiciclina na prevenção de ISTs bacterianas.

Eles se basearam no estudo doxy-PEP, que testou se um comprimido de 200 mg de doxiciclina, tomado logo depois da relação sexual, seria capaz de impedir a transmissão de clamídia, sífilis e gonorreia, as três bactérias causadora das ISTs mais frequentes. Os participantes foram divididos ao acaso em dois grupos: placebo versus doxiciclina.

Em nove meses de acompanhamento, 44% dos que estavam no grupo controle apresentaram pelo menos uma IST, contra 22% dos que foram sorteados para o grupo que tomou doxiciclina. A administração do antibiótico reduziu 70% dos casos de clamídia e 73% dos casos de sífilis. Não houve diferença significativa em relação à transmissão de gonorreia.

Na Conferência Internacional de Aids, realizada em abril deste ano, na cidade de Montreal, pesquisadores da Universidade da Califórnia repetiram estudo semelhante, para testar a eficácia dos mesmos 200 mg de doxiciclina na pós-exposição. Os participantes foram avaliados em intervalos de três meses.

No grupo que recebeu o antibiótico, houve redução de mais de 70% dos casos de clamídia e de sífilis, e de 55% dos casos de gonorreia.

Não obstante esses resultados, a estratégia divide os pesquisadores. Os críticos argumentam que o uso indiscriminado vai aumentar a resistência bacteriana à doxiciclina, droga importante também no tratamento de infecções de pele pelo estafilococo e de certas pneumonias.

Os defensores julgam que o custo-benefício do emprego de uma dose tão baixa, com poucos efeitos colaterais, compensa esse risco. Dizem, ainda, que impedir a transmissão dessas bactérias pode diminuir a prevalência delas na comunidade e reduzir o risco de disseminação.

Isso quer dizer que você, prezado leitor, e também você, caríssima leitora, podem se considerar livres para atacar na calada da noite ou no disfarce da tarde, sem preservativo, porque serão salvos por 200 mg de doxiciclina, tomados até 72 horas depois (quanto mais cedo, melhor)?

Não, infelizmente não. Primeiro porque a proteção oferecida pelo antibiótico não é de 100%. Depois, porque a doxiciclina é desprovida de ação contra o HIV, o HPV, o herpesvírus, os vírus das hepatites e outras viroses de transmissão sexual, algumas das quais você nunca mais eliminará.

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